Bancos acessam dados de operadoras de telefonia para evitar golpes online

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Bancos brasileiros têm recorrido a operadoras de telefonia para diminuir o risco de operações fraudulentas a partir de informações sobre o uso de chips de aparelhos celulares. A ideia é checar se o chip do celular que acessa o app do banco foi trocado recentemente, o que pode ser um indício de que o aparelho foi receptado.

As telecoms dizem não ter autorização para divulgar quais bancos usam essas informações, mas as operadoras usaram o Itaú como exemplo da prática em congresso em fevereiro. À Folha de S.Paulo, o diretor de tecnologia do Nubank, Vitor Olivier, disse que o banco digital também tem planos de usar os dados das operadoras.

O procedimento usa o protocolo chamado de Open Gateway, por meio do qual as empresas de telefonia criaram um sistema de compartilhamento de informações para a criação de novos serviços. As primeiras soluções a entrar no ar no país têm foco na segurança digital dos usuários e tem como clientes e parceiros os bancos.

“Priorizamos uma dor muito evidente dos nossos usuários”, disse Rodrigo Duclos, o chefe de inovação da Claro, na feira de tecnologia Web Summit Rio nesta terça (16).

Tim, Claro e Vivo haviam anunciado, em novembro, a adesão a esse padrão adotado em mais de 40 países articulados pela GSMA, associação internacional que representa o setor. Em 27 de fevereiro, no maior evento de telefonia móvel do mundo, a Mobile World Congress, as companhias apresentaram o caso do Itaú.

A Tim disse que planeja fechar contratos com mais outros quatro clientes ainda no primeiro semestre. A Claro afirma que não pode divulgar seus parceiros, mas abriu durante o Web Summit Rio os pontos de acesso a startups interessadas em desenvolver projetos, com um limite de uso. A Vivo também não diz com quem trabalha.

As operadoras oferecem aos prestadores de serviços as chamadas APIs (sigla em inglês para interface para programação de aplicações), canais que permitem a comunicação entre sistemas de informática, para possibilitar ligação direta com os serviços da rede e o desenvolvimento de soluções.

Além da detecção de troca de chips, os desenvolvedores de software podem acessar uma fonte de dados na internet para confirmar o número do telefone e a localização do usuário.

Essas informações desmascaram artimanhas adotadas com frequências por estelionatários, como o sinal falso de GPS para adulterar o local do smartphone e o filtro de número telefônico. Os golpes que usam a chamada “engenharia social” e induzem o cliente a realizar uma transação financeira estão entre as principais preocupações dos bancos e fintechs, de acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

“São sistemas que já usávamos no dia a dia da empresa, mas que adaptamos a um padrão de comunicação para manter a privacidade dos donos da linha”, diz Carlos Araújo, diretor de novos negócios da Claro.

As três operadoras dizem que os serviços que disponibilizam estão em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados por padrão e que as informações compartilhadas são criptografadas. “É um uso de legítimo interesse do usuário”, afirma o diretor de internet das coisas e big data da Vivo, Diego Aguiar.

De acordo com Aguiar, as empresas não vendem os dados dos clientes e sim a operacionalização do serviço para as instituições financeiras. “O caso do Sim Swap (troca de chip) foi o primeiro caso comercial efetivo apresentado no mundo.”

A infraestrutura do 5G é o que permite a implementação desse novo serviço a partir da maior capilaridade da rede e maior transmissão de dados. “É mais uma frente de remuneração aberta”, diz Aguiar.

Araújo, da Claro, afirma que ainda é uma receita marginal, comparada com o negócio principal, a venda de pacotes de telefonia e dados.

Executivos das três telecoms dizem que há planos para disponibilizar sistemas úteis em outras áreas, como serviços de streaming.

Além dos bancos e instituições financeiras, já há empresas da área de varejo e logística que contrataram os serviços antifraude disponíveis no Open Gateway.

“Como todas as operadoras usam o padrão chamado camara, o que um desenvolvedor cria serve de base para o trabalho dos outros, é um trabalho colaborativo que deve beneficiar todo o público”, diz Aguiar.

As operadoras também precisam atuar de forma conjunta e abrir novos serviços ao mesmo tempo, uma vez que os clientes corporativos precisam dos dados das três grandes telecoms.

No exterior, já há soluções para veículos autônomos, para combater clonagem de chip, saber se um telefone está em roaming (em deslocamento para outra região de cobertura) ou localizar um aparelho.

*O jornalista viajou a convite do Web Summit Rio

*PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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