SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Após avanços estratégicos, rebeldes liderados pelo grupo HTS (Hay’at Tahrir al-Sham) tomaram o controle de importantes cidades na Síria, como Alepo, Homs e até a capital Damasco.
Junto com a ofensiva militar, surge uma possível mudança simbólica: a bandeira nacional. Entenda o que isso representa no cenário político e histórico do país.
Avanço dos rebeldes liderados pelo HTS. Após ofensivas coordenadas em novembro, rebeldes tomaram Alepo e Homs rapidamente e anunciaram sua presença em Damasco. As tropas governamentais se retiraram de algumas áreas, enquanto as milícias pró-governo e aviões russos intensificaram os ataques em outras regiões.
Diferença na cor. As bandeiras diferem por que a atual usa vermelho, branco e preto – de cima para baixo. A que os rebeldes pretendem usar é verde, branca e preta.
Nova bandeira proposta com nacionalismo puramente sírio. Segundo Ana Karolina Morais, doutoranda do Instituto de Relações Internacionais da USP e pesquisadora do Nupri (Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais), a mudança busca “romper qualquer vínculo, inclusive simbólico, com o legado dos Assad”.
Bandeira já foi usada no passado. A bandeira defendida pelos rebeldes já foi usada durante o mandato francês (1920-1946), representando um nacionalismo “puramente sírio”, explica.
O SIMBOLISMO DAS BANDEIRAS
Bandeira atual da Síria é vigente desde 1972. Ela foi criada durante o governo de Hafez al-Assad, pai de Bashar al-Assad. “Ela simboliza o nacionalismo árabe e a aliança entre a Síria e o Egito, em um período de forte influência do pan-arabismo”, explica Morais.
Bandeira dos rebeldes é inspirada no período colonial. É vista como um resgate à identidade nacional síria antes da ascensão do regime dos Assad. A pesquisadora destaca que essa escolha é “uma estratégia para se diferenciar e buscar reconhecimento político”.
SIGNIFICADO POLÍTICO DA MUDANÇA E RECONHECIMENTO
“A mudança de bandeira, por mais simbólica que pareça, possui um forte teor político; é uma busca por legitimidade e o controle sobre a narrativa acerca da identidade síria. É um ato de diferenciação, mas também de busca por reconhecimento”, aponta Morais.
Sobre reconhecimento, a pesquisadora afirma que há impasse, porque enquanto o próprio governo não tiver reconhecimento internacional, não tem como ele instituir um novo símbolo nacional como a bandeira.
“Essa facção rebelde que tomou a capital é considerada terrorista pelos Estados Unidos já há muitos anos, porque desde que essa facção surgiu na Síria, ela é conhecida como o braço armado da al-Qaeda na Síria”, disse Ana Karolina Morais pesquisadora do Nupri (Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais) da USP.
“Muitas embaixadas ao redor do mundo, como a de Moscou, mudaram a bandeira hoje e isso instiga um reconhecimento internacional. Mas, enquanto não houver um governo reconhecido também não pode ter uma nova bandeira reconhecida”, continua.
GIACOMO VICENZO / Folhapress