Bandeiras e obras de arte mostram ecos da guerra Israel-Hamas em São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A repercussão da guerra entre Israel e Hamas ganha força na cidade de São Paulo com protestos que pedem paz e lamentam as mortes. Outras demonstrações, mais silenciosas ou quase despercebidas, também marcam posição sobre o conflito, que já deixou ao menos 1.400 mortos do lado israelense e mais de 3.800 do lado palestino.

Bandeiras expostas após o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro e do início dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza aparecem em sacadas e janelas. Ainda, desenhos e cartazes com informações de pessoas sequestradas ajudam a traduzir o efeito da guerra na cidade.

Algumas bandeiras da Palestina foram vistas em uma sacada no Brás e em um edifício na avenida São João, na região central da cidade -esta segue ao menos desde janeiro no local. Já exemplares de Israel apareceram em edifícios de Higienópolis, bairro nobre da capital, e em Perdizes, na zona oeste.

Na praça Cinquentenário de Israel, também em Higienópolis, local de um ato pró-Israel em 10 de outubro, já não havia bandeiras, mas inscrições no muro que pediam paz. No restaurante Al Janiah, fundado na Bela Vista em 2016 e conhecido pela defesa da Palestina, cartazes, pinturas e grafites vieram antes da escalada mais recente do conflito.

Mas parte do acervo começou a ser atualizada após as cenas de violência em Gaza. É o caso da obra Mulher Oliveira Palestina, produção de 2017 de Flávia Lobo Felício e Sérgio Rossi. A figura mostra símbolos palestinos como a oliveira -cujos galhos e folhas surgem por trás do corpo da mulher- e uma chave pendurada no pescoço.

A chave, explica o dono do Al Janiah, Hasan Zarif, simboliza o direito de retorno ao território dos palestinos refugiados. “E a maioria é de 1948”, diz ele, em referência ao deslocamento de 700 mil árabes no fim da segunda metade da década de 1940, chamado de nakba. “A oliveira é um símbolo palestino, e a mulher carrega nossa resistência.”

A restauração começou por contornos dourados em volta da chave no pescoço da mulher. A tradição consiste em passar, de geração em geração, as chaves simbólicas das casas das quais os palestinos foram expulsos há 75 anos.

Já o cartaz que permanece na fachada enquanto durar o sofrimento dos palestinos, segundo Zarif, defende uma Palestina livre, do rio ao mar. A expressão faz referência ao rio Jordão e ao mar Mediterrâneo, área que inclui o território israelense.

A cinco quilômetros dali, na avenida Cidade Jardim, na região da Faria Lima, zona oeste, passageiros de ônibus e pedestres passavam pelos cartazes da ONG de Israel StandWithUs Brasil, que exibem nomes de sequestrados pelo Hamas após o ataque de 7 de outubro. O modelo foi criado pelos pelos artistas israelenses Nitzan Mintz, 32, e seu parceiro, que atende pelo nome de Dede Bandaid, 36.

O projeto, segundo Bandaid, surgiu da vontade de “fazer alguma coisa” pelas vítimas desaparecidas, de bebês a idosos.

Cartazes também foram colados em Perdizes, com informações sobre os israelenses Kfir, de 9 meses , e Ariel, 4. Outro revezava a exibição de vítimas com um anúncio de particular em um outdoor eletrônico de ponto de ônibus na altura do Cemitério da Consolação, na região central.

A distribuição de panfletos não decolou, mas a dupla, junto com a designer Tal Huber, viu o projeto viralizar após artistas divulgarem os cartazes, agora disponíveis para download em diferentes idiomas.

O artista afasta a ideia de que mostrar vítimas poderia soar como a divulgação, por órgãos do governo israelense, como o Ministério das Relações Exteriores, de imagens de pessoas feridas durante o ataque do Hamas em 7 de outubro. A ação pareceu uma estratégia de Tel Aviv de expor à comunidade internacional esses massacres em canais oficiais.

“É uma ferida complexa”, afirma Bandaid. “Somos dois artistas e não sabemos exatamente como funciona a parte política. Mas sabemos que essa tragédia precisa terminar.”

LUCAS LACERDA E MARÍLIA MIRAGAIA / Folhapress

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