SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma invasão de imagens de cachorros vira-latas que passaram por um “banho de loja” tomou conta de outdoors em pontos de ônibus e da traseira de vários desses veículo em Pelotas (RS). Trata-se da campanha “Todo Caramelo é Doce”, uma ação que, desde maio, fez explodir na cidade o número de adoções de cães em situação de vulnerabilidade.
Para potencializar ainda mais a busca por donos para os bichos abandonados, doentes ou que sofreram maus-tratos, os cãezinhos desfilaram em uma passarela com som montada no calçadão no centro da cidade, em junho, em plena festa popular do doce, uma das principais marcas de Pelotas.
Havia até barraquinhas de adoção. Os dogs voltaram aos holofotes neste mês com a Festa dos Caramelos, que entrou para o calendário de eventos da cidade.
Tudo isso acontece após os bichinhos passarem por uma sessão completa de beleza, que inclui banho, tosa, unhas feitas, roupinhas e microchipagem.
Nos outdoors, a foto de um cãozinho chama a atenção e, logo do lado, há seu nome e o número de telefone para os interessados em acolher um novo bicho.
De acordo com Luís Gustavo de Azevedo, 45, secretário municipal de comunicação e idealizador da iniciativa, apenas nove cães tinham sido adotados nos quatro primeiros meses do ano, antes da campanha.
O baixo número se devia também, segundo ele, ao fato de o canil municipal ser afastado, numa rodovia, e pela burocracia de ficar com o animal, que foi simplificada na iniciativa da prefeitura.
Com a exposição dos cães nas áreas mais centrais da cidade, o número de adoções mais que dobrou, chegando a 23 adoções entre maio e agosto, uma alta de 255% em relação ao primeiro período. Entre setembro e dezembro foram mais 22, totalizando 54 adoções em 2023 (45 na ação).
“A comunicação desempenhou um papel fundamental nesse processo. O canil estava superlotado, com um custo mensal de cerca de R$ 1.600 por animal.”
Azevedo afirma que, numa estimativa de 2013, da Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde, calculou que na época havia cerca de 65 mil cães abandonados ou semi-domiciliados (que moram na rua, mas são cuidados por um coletivo de pessoas) vagando pela cidade.
Foi quando a castração foi adotada como política de controle populacional e sanitária do município. Em dez anos, disse o secretário, mais de 25 mil animais foram castrados pela prefeitura.
Segundo Azevedo, o canil municipal tem capacidade para 50 animais, mas chegou a ter cem antes da campanha, o que elevava o custo mensal para manter o local.
Com a adoção dos 45 cães na campanha, houve uma economia média de aproximadamente R$ 70 mil por mês, número que varia considerando a mortalidade, além da entrada e saída dos animais.
“O retorno sobre o investimento é evidente. Com a queda gradual do número de cães no espaço, o canil terá melhores condições de sustentabilidade. E quanto mais animais tiverem um lar afetuoso, melhor também”, afirmou o secretário.
A equipe envolvida inclui veterinários, profissionais de limpeza e cuidadores, além de parcerias com a Universidade Federal de Pelotas para operações e treinamento de animais. Voluntários fazem adestramentos dos cãezinhos.
A campanha criou até um “adotômetro” nas redes sociais para rastrear as adoções, e que mensalmente vai mostrando os resultados da campanha, como quantos cachorros foram adotados e quantos ainda aguardam por um lar.
CARAMELOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS
A ação deu frutos e chegou aos alunos do ensino fundamental de escolas municipais em regiões de maior vulnerabilidade de Pelotas por meio de oficinas chamadas “Bons Tratos”.
As oficinas desempenham um papel fundamental na educação das crianças sobre como cuidar adequadamente dos animais, reduzindo o número de devoluções de animais adotados nas campanhas, afirmou Camila Pereira, 38, diretora de Bem-estar Animal da Secretaria de Qualidade Ambiental. Ela adotou Carmela, uma das cadelas que aguardavam um dono no canil.
“Nós vemos muitos horrores acontecendo com animais nas ruas. Então, para ter um impacto maior nas oficinas, a gente leva alguns cachorros, que ficam dentro de um cercadinho. Conversamos com as crianças, perguntamos se elas têm animais, quantos. Explicamos que não pode deixar o bichinho no sol e nem amarrado. Elas levam para casa as informações, que chegam a mais pessoas.”
Para a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), nas políticas públicas de proteção animal o grande foco é a sensibilizar a sociedade sobre a posse consciente e mostrar que essa é uma questão civilizatória de respeito aos bichos.
“Quando a gente faz uma campanha de comunicação com talento e criatividade, tem um potencial de engajamento da sociedade muito maior e, portanto, de a gente ter sucesso no desenvolvimento dessas políticas públicas.”
O investimento total, entre outdoors e os dois desfiles, foi de R$ 30 mil em 2023, verba que “sobrou’ e que deverá ser revertida em benefícios aos cachorros do canil municipal.
Com o projeto “Todo Caramelo é Doce”, Azevedo foi um dos finalistas do Prêmio Liderança Pública, do CLP (Centro de Liderança Pública).
TATIANA CAVALCANTI / Folhapress