SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando foi anunciado como diretor da sequência de “O Rei Leão”, Barry Jenkins causou estranhamento na cinefilia. O que a mente por trás do oscarizado “Moonlight: Sob a Luz do Luar” estava fazendo num blockbuster moldado para saciar a sede de Hollywood por reciclagem de histórias e personagens de sucesso?
Aos 44 anos, o americano é dono de uma cinematografia intimista e delicada, que inclui ainda “Se a Rua Beale Falasse” e a série “The Underground Railroad”, bem como um crédito de produção por “Aftersun”. Todos distantes dos anseios hiperbólicos e mercadológicos de “Mufasa”, uma das grandes apostas da Disney neste ano.
“Eu estou fazendo esse filme com a mesma equipe com a qual sempre trabalho, então não pareceu uma experiência tão diferente assim”, disse Jenkins nesta sexta-feira (8), ao receber a reportagem antes de subir ao palco da D23, feira voltada a fãs da Disney que ocupa o Transamérica Expo, em São Paulo, até domingo (10).
Não é novidade um diretor independente que, descoberto pelos festivais e premiações estrangeiros, migra para um grande estúdio para assumir um megaorçamento. Foi assim, recentemente, com Taika Waititi, dos díspares “O que Fazemos nas Sombras” e “Thor: Amor e Trovão”, e Greta Gerwig, de “Lady Bird” e “Barbie”.
No último Festival de Cannes, em que serviu de presidente do júri, Gerwig disse que, apesar do sucesso bilionário do filme inspirado na boneca loira, ainda era uma diretora independente, discurso que Jenkins ecoa.
“Eu ainda me considero um cineasta independente porque você precisa ser independente na maneira de pensar. Assim, a forma como você faz o filme é totalmente diferente”, afirma o cineasta.
E, da mesma forma que a ida para um grande estúdio não podou Gerwig de seus anseios feministas, Jenkins diz ainda se manter comprometido, em “Mufasa”, com a celebração da cultura e da herança negras que pautou seus últimos trabalhos.
Vários de seus personagens anteriores têm suas raízes no continente africano, cenário do novo projeto, reflete ele, construindo ainda um interessante paralelo entre os protagonistas Mufasa e Chiron, de “Moonlight” ambos embarcam numa jornada de autodescoberta após perderem suas bases, tocando em temas como tolerância e pertencimento.
“Eu espero que Mufasa seja apenas mais uma nessa minha coleção de histórias sobre personagens em busca de seu lugar no mundo. São personagens que questionam o porquê de merecerem ser amados e o porquê de rejeitarem esse amor, e é muito legal poder falar disso para as crianças.”
Com estreia marcada para o dia 19 de dezembro, “Mufasa” é ao mesmo tempo continuação e filme de origem de “O Rei Leão”, que depois de se tornar clássico como animação 2D foi repaginado com computação gráfica para uma nova versão, em 2019. O longa arrecadou US$ 1,6 bilhão, cerca de R$ 9,1 bilhões, e se tornou a décima maior bilheteria da história do cinema.
O novo filme mostra Simba como rei e pai de uma jovem leoa, que é deixada aos cuidados dos amigos Timão, Pumba e Rafiki. Eles se reúnem para contar a ela a história do avô, Mufasa, dando início à trama central. Nela, descobrimos que o leão ficou sozinho ao se perder da família ainda jovem, até encontrar um irmão.
Aqui, também, a história é contada por meio de canções originais, embora elas não sejam assinadas por Elton John e Tim Rice, que criaram “Circle of Life” e “Can You Feel the Love Tonight” nos anos 1990. Lin-Manuel Miranda, figurinha carimbada da Disney e compositor de “Encanto”, assina a nova trilha sonora.
Para Jenkins, trazer ritmos e dialetos africanos para o filme por meio da música era fundamental. Foi parcialmente por causa disso que ele se encantou pelo “O Rei Leão” de 1994 quando ainda era adolescente, numa época em que grandes estúdios pouco se importavam com diversidade.
Quando cuidava dos sobrinhos, naquela época, para a irmã poder trabalhar, o cineasta não demorava na prateleira de fitas VHS a história de Simba era sempre uma escolha certeira.
MUFASA: O REI LEÃO
– Quando Estreia em 19 de dezembro
– Onde Nos cinemas
– Produção EUA, 2024
– Direção Barry Jenkins
LEONARDO SANCHEZ / Folhapress