RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A partir desta segunda-feira (27), a base aérea de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, passa a receber voos comerciais. O início das operações é mais uma tentativa de atenuar o caos logístico criado pelo fechamento do aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha.
As operações em Canoas têm caráter emergencial, enquanto o terminal de Porto Alegre segue paralisado pela enchente de proporções históricas que devastou regiões do Rio Grande do Sul.
A Latam anunciou os primeiros voos em Canoas, a partir da manhã desta segunda. Já o início das operações da Azul e da Gol está previsto para sábado (1º).
A medida faz parte do que o Ministério de Portos e Aeroportos chama de malha aérea emergencial. Segundo informações divulgadas pela pasta, a medida pode chegar a 134 voos extras semanais em nove terminais gaúchos e de Santa Catarina.
Os locais são os seguintes: Canoas, Caxias do Sul, Santo Ângelo, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, além de Florianópolis e Jaguaruna, no estado vizinho.
A projeção é que 35 desses voos semanais possam ser acomodados em Canoas. A base aérea só fica atrás do número previsto para o aeroporto de Caxias do Sul (39 voos semanais), na Serra Gaúcha (a 120 km de Porto Alegre).
“É uma ação emergencial, tenta minimizar o problema. É preciso ter plena consciência de que não vai substituir a importância do Salgado Filho”, diz Luiz Afonso Senna, professor da Escola de Engenharia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutor na área de transportes.
Até o momento, a Latam anunciou 12 voos semanais na base aérea. Esse pacote inclui uma operação diária entre Guarulhos e Canoas (ida e volta).
Outra rota ofertada pela companhia envolve cinco voos semanais (exceto quarta e sábado) entre Congonhas e a cidade gaúcha (também ida e volta). Conforme a Latam, as rotas serão operadas por aeronaves Airbus A320, com capacidade para até 176 passageiros.
Já a Gol anunciou até nove voos semanais entre Guarulhos e Canoas (ida e volta) a partir do sábado. As operações da empresa serão realizadas com o uso de aeronaves do modelo Boeing 737. A capacidade é para até 186 passageiros.
A Azul, por sua vez, anunciou dois voos diários (ida e volta) entre o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e a base aérea de Canoas, também a partir de sábado (1º).
Os aviões decolam de Viracopos às 8h15 e às 13h55. Os voos de retorno partirão da base aérea às 11h25 e às 17h. As operações envolverão jatos Embraer 195-E1 -a empresa não informou a capacidade máxima da rota.
EMBARQUE E DESEMBARQUE SERÃO EM SHOPPING
A base aérea de Canoas está localizada a cerca de dez quilômetros do aeroporto de Porto Alegre, considerando um trajeto sem bloqueio de vias.
A pista local tem 2.751 metros de comprimento por 45 metros de largura, segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), responsável pela estrutura. No Salgado Filho, as dimensões são de 3.200 metros por 45 metros, respectivamente.
O espaço militar está habituado a receber aviões de grande porte da Aeronáutica, como o KC-30, com 59 metros de comprimento. De acordo com a FAB, aeronaves comerciais até já usaram a base para pousos em situações pontuais, mas não no modelo convencional das companhias.
Como o espaço não é um aeroporto tradicional, há uma restrição para a movimentação de passageiros. Para driblar a dificuldade, a solução encontrada foi buscar apoio em um shopping center, o ParkShopping Canoas. O centro comercial funcionará como local de embarque e desembarque.
O ParkShopping Canoas fica a cerca de quatro quilômetros do aeródromo militar. Os viajantes devem ser transportados por via terrestre, em ônibus, entre os dois pontos.
A concessionária Fraport Brasil, que administra o Salgado Filho, foi acionada para as operações. A empresa disse que nenhum passageiro deve se dirigir diretamente para a base aérea. Também não será permitida a saída diretamente pelo aeroporto emergencial.
Impasse no Salgado Filho
Por ora, não há data confirmada para a reabertura do Salgado Filho devido à falta de uma avaliação detalhada sobre os danos causados na pista e em outras estruturas. Pousos e decolagens estão paralisados desde a noite de 3 de maio.
Antes, no mês de abril, o aeroporto registrou quase 517 mil passageiros em voos domésticos, entre embarques e desembarques, segundo painel de dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
O número supera com folga a movimentação do mesmo período nos terminais que hoje integram a malha emergencial. Em Florianópolis, por exemplo, o número foi de 260,8 mil passageiros em voos domésticos em abril, conforme as informações da Anac.
Responsáveis pela administração de aeroportos gaúchos ou catarinenses confirmam aumento no fluxo de pessoas nas últimas semanas.
Em Caxias do Sul, o número de passageiros saiu de uma média de 1.000 a 1.200 passageiros por dia para a faixa de 1.500 a 3.000 após a adoção da malha emergencial, diz a prefeitura da cidade.
A operação local, porém, costuma sofrer o impacto de condições climáticas. Em dias de neblina, há risco de paralisação de voos.
Em Passo Fundo, o número de passageiros passou de cerca de 4.800 para cerca de 6.000 por semana em maio, de acordo com dados estimados pelo governo estadual, responsável pelo terminal.
Já os aeroportos de Pelotas e Uruguaiana, administrados pela CCR Aeroportos, contam com quatro opções de voos semanais durante o mês de maio e terão novas rotas disponíveis a partir de junho, para São Paulo, Curitiba e Florianópolis, segundo a empresa.
Em Santa Maria, a prefeitura apontou um impacto da malha emergencial em voos da Azul (duas vezes na semana) e, a partir de junho, da VoePass (duas vezes na semana).
Em Florianópolis, a concessionária Zurich Airport Brasil esperava receber 194 mil passageiros entre os dias 5 e 22 de maio. O número foi cerca de 17% maior (226 mil), indicou a empresa.
Em outro aeroporto catarinense, o de Jaguaruna, houve um acréscimo de 43% no número de passageiros no período de 1º a 14 de maio, em relação ao mesmo período do mês anterior, segundo o governo estadual.
LEONARDO VIECELI / Folhapress