RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As batalhas com armas de gel, novidade que é febre em cidades como São Paulo e Goiânia, chegou também às favelas do Rio de Janeiro e têm gerado preocupação entre moradores e organizações sociais.
Multidões participam das batalhas no meio da rua. As armas são peças de plástico carregadas com munição de bolinhas de gel. Podem disparar até 300 bolinhas por minuto. São peças coloridas com o formato de pistolas, fuzis e submetralhadoras.
Desde o início deste mês, grupos de crianças e adolescentes têm se encontrado para essas batalhas em comunidades como Maré, na zona norte, e Vila Kennedy, na zona oeste do Rio.
Na última segunda-feira (23), grupos usaram quadriciclos, motos, carros e bicicletas para perseguir os oponentes em uma batalha na Vila Kennedy.
Um vídeo ao qual a reportagem teve acesso mostra mais de uma centena de pessoas na rua, entre elas muitos adolescentes e crianças. Vários carregavam suas armas de gel nas mãos. Há também uma cena em que um grupo simula prender um dos adversários.
Um morador que não quis se identificar disse ter visto traficantes na brincadeira. Um deles, ele conta, carregava um fuzil atravessado no tronco e uma arma de gel em uma das mãos.
Na quarta (26), a Polícia Militar fez uma operação nas comunidades de Vila Aliança e Senador Camará, vizinhas à Vila Kennedy. A ação não tinha relação com as batalhas de arma de gel, segundo a corporação.
A Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública não disseram se monitoram ou se já foram acionadas para ocorrências relacionadas às batalhas com armas de gel, mas a reportagem ouviu relatos de ao menos duas abordagens a adolescentes que pilotavam motos e seguravam essas peças.
Moradores dizem temer que alguém seja baleado por engano ao portar armas de plástico semelhantes a fuzis. Organizações sociais e associações de moradores dizem trabalhar para tentar dispersar esses encontros, que já ganharam as redes sociais.
Cantores de rap e trap como Chefin e Oruam, famosos entre os jovens, já publicaram fotos segurando armas de gel. Procurados pela reportagem por meio das assessorias de imprensa, eles não responderam.
As peças são elétricas, recarregáveis por meio de cabo USB, e emitem som e luz. Em sites de venda são comercializadas por cerca de R$ 300.
O Inmetro (Instituto Nacional de Tecnologia, Qualidade e Metrologia) afirma, em nota, que o produto não é classificado como brinquedo e que tem monitorado os casos. Diz, ainda, que a comercialização de objetos fieis a armas de fogo é proibida no Brasil.
Conforme portaria do Inmetro, são classificados como brinquedos produtos destinados ao uso por crianças menores de 14 anos.
“Todas as armas de brinquedo, com ou sem projéteis, devem cumprir requisitos, advertências e indicações aplicáveis a todos os tipos de brinquedos”, afirmou o instituto.
Em São Paulo, eventos do tipo em ruas e vielas nos arredores da avenida Cupecê, nos bairros de Americanópolis, Cidade Ademar e Vila Clara, já foram registrados em vídeos.
No dia 10 de setembro, a Polícia Militar paulista deteve 18 pessoas após uma confusão em uma dessas batalhas no Jardim São Luís, na zona sul –entre os detidos estavam seis menores de idade, que compareceram à delegacia com os responsáveis.
De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), um homem foi atingido no olho na ocasião e precisou de atendimento médico.
YURI EIRAS / Folhapress