SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Banco Central corta juros, gigante têxtil pede recuperação judicial e Disney tem prejuízo em corrida atrás da Netflix.
*Selic cai e divide*
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central baixou a Selic em 0,25 ponto de 10,75% para 10,50% ao ano. A decisão confirma o que boa parte dos economistas esperava: o Banco Central foi cauteloso e diminuiu o ritmo adotado em 2023 para baixar a taxa.
Dividido: a decisão expôs a disputa entre o presidente Roberto Campos Neto e o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
↳ O último e todos os outros três diretores indicados por Lula (PT) votaram por um corte de 0,5 ponto percentual.
↳ Campos Neto e os diretores escolhidos antes do governo petista optaram pelo corte mais modesto e venceram a disputa por 5 a 4.
↳ Galípolo é nome até agora mais cotado para ocupar a presidência do BC a partir de 2025.
Para as próximas reuniões, o Banco Central não se comprometeu com qualquer corte e informou que mais reduções nos juros dependem de um compromisso com a convergência da inflação à meta de 3% ao ano.
Apesar de os preços estarem mais comportados neste ano, a previsão do mercado para a inflação em 2025 e 2026 está acima do alvo oficial.
O comunicado do Banco Central usou a palavra cautela três vezes, e moderação e serenidade uma vez cada. O que justificaria isso:
A falta de perspectiva de queda nos juros dos EUA, o que segura o ciclo do Brasil;
A força do mercado de trabalho, com desemprego em 7,9%, menor para o 1º trimestre desde 2014.
O comunicado citou brevemente a mudança na meta das contas do governo, que ganhou uma folga para 2025, e afirmou que uma política fiscal crível e comprometida contribui para juros menores.
O que muda com a Selic a 10,5% ao ano:
↳ Nos investimentos, os ativos pós-fixados na taxa Selic perdem rentabilidade, mas menos do que se os juros tivessem caído 0,50%.
↳ No ranking de juros reais, nada. O Brasil segue na 2ª colocação global, atrás do México.
*Gigante têxtil pede RJ*
A mineira Coteminas, do setor têxtil e parceira no Brasil da chinesa Shein, é a mais recente empresa a pedir recuperação judicial (RJ). A empresa não informou à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) o total de dívidas a serem renegociadas com a intermediação do judiciário.
A companhia enfrenta ações judiciais, protestos e foi alvo de audiências públicas. Há relatos de salários e outras obrigações trabalhistas em atraso.
Em meados do ano passado, o anúncio de que a empresa havia fechado um acordo para produzir para a asiática Shein surpreendeu o mercado, uma vez que a empresa já passava por dificuldades.
De quem é a Coteminas? O grupo é presidido por Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar, hoje no comando da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Em alta: nos últimos meses, o número de empresas que solicitaram apoio da justiça para negociar suas dívidas teve um salto.
Alguns dos casos recentes foram:
A rede de supermercados Dia;
O estaleiro OSX, do empresário Eike Batista;
O Grupo Libra Bioenergia, produtor de etanol;
A companhia de energia Light.
Em 2023, o principal caso foi da Americanas, que segue sob o regime.
*Tragédia sem fim no Rio Grande do Sul*
O tamanho da ajuda federal ao Rio Grande do Sul é uma incógnita diante do fato de que a tragédia está em andamento. Municípios inteiros seguem debaixo d’água , inviabilizando a mensuração dos prejuízos, e a perspectiva de novas chuvas na região desperta o temor de que a crise se estenda.
Entenda: o Rio Grande do Sul registrou 100 mortos e mais de 130 desaparecidos devido às chuvas do último final de semana. Nas ruas de Porto Alegre, a água segue inundando a cidade e escoa devagar, enquanto novas pancadas de chuva acendem um alerta.
O governo Lula propôs e o Congresso aprovou um decreto de calamidade para facilitar a liberação de verbas. Há a expectativa de lançamento de medidas nos próximos dias, com linhas de crédito subsidiadas para empresas e famílias, suspensão da dívida do estado com a União e repasses.
Recado: o Ministério da Fazenda pretende desenhar políticas focalizadas e demonstrar que a calamidade gaúcha não será usada como oportunidade para gastar mais e de forma generalizada uma desconfiança que já se instalou no mercado financeiro.
↳ O problema é que ninguém consegue, neste momento, estimar o tamanho do prejuízo nem qual pode ser a necessidade de ajuda da União ao estado e às prefeituras.
Com boa parte da infraestrutura do estado comprometida, os efeitos sobre a economia do Brasil seguem no radar. E a perspectiva é negativa:
Para a FecomercioSP, o impacto no PIB (Produto Interno Bruto) deve superar o desastre de Brumadinho, que tirou 0,2 ponto do crescimento econômico de 2019.
Os efeitos no dia a dia já começam a ser sentidos, com supermercados pelo país limitando a compra de arroz aos clientes.
*Streamings ainda dão prejuízo para Disney*
Apesar de registrar seu primeiro lucro nas operações conjuntas do Disney+, Star+ e Hulu (plataforma de TV ao vivo), a divisão de streamings da The Wall Disney Company segue no prejuízo, principalmente devido às finanças da ESPN+ e esportes.
Quanto? O saldo negativo foi de US$ 18 milhões (cerca de R$ 91,6 milhões) no primeiro trimestre.
Ao se retirar as operações de esporte e do streaming ESPN+, ele pula para US$ 47 milhões positivos (cerca de R$ 239 milhões). No mesmo período do ano passado, ele havia sido de US$ 587 milhões negativos (mais de R$ 2,9 bilhões).Em assinantes, os serviços juntos cresceram e somaram 153,6 milhões de pessoas no mundo.
↳ Como costumam ser oferecidos em pacotes juntos, principalmente nos EUA, a companhia soma os consumidores pagantes na mesma contagem.
Sim, mas A Disney+ até cresceu sua base de assinantes, mas indicou que essa alta deve desacelerar nos próximos meses, o que repercutiu mal entre os investidores. As ações da companhia a caírem mais de 9% na terça-feira.
Entenda: consolidados como fonte de consumo de conteúdo e com milhões de assinantes, os streamings ainda sofrem para fechar suas operações no azul.
↳Na corrida atrás da Netflix, grandes estúdios perderam US$ 5 bi (mais de R$ 25 bi), em 2024, segundo o Financial Times.
O número de assinantes no mundo ajuda a explicar a vantagem da gigante do streaming. Aqui o ranking da Statista, uma plataforma alemã que compila dados de empresas e mercado:
1- Netflix (269,6 milhões)
2 – Amazon Prime (200 milhões)
3 – Disney+, que reúne o Star+, ESPN+, com Hulu (153,6 milhões)
4 – Max, que reúne HBO, Warner e Discovery (97,6 milhões)
5- Paramount+ (71,2 milhões)
Já no Brasil A Globo segue na cola da Netflix. As empresas não divulgam os números de assinantes, mas o Globoplay aparece em 2º colocado no ranking de audiência da Kantar Ibope Media. Em terceiro, estão Amazon Prime, seguido da Max, Star + e a Disney+.
VICTOR SENA / Folhapress