BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Banco Central comunicou nesta sexta-feira (2) alteração nas regras para agendamento de reuniões do presidente e dos diretores da autoridade monetária com grupos do mercado financeiro e outros participantes externos.
A mudança acontece após ruídos na comunicação de política monetária após encontros de membros do BC com economistas e investidores. Em comunicado, a autoridade monetária fala em “esforço permanente de aperfeiçoar sua política de transparência”.
A partir das novas regras, os membros da diretoria colegiada do BC só podem voltar a se reunir com um representante de uma mesma instituição ou com um mesmo participante em um intervalo de 60 dias ou dois ciclos de reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). Até então, o período era de 30 dias ou de uma reunião do Copom.
O BC diz também que, quando o presidente ou um dos diretores receber uma determinada instituição, grupo ou pessoa interessada, torna-se “desnecessário” outro membro da cúpula considerar pedido equivalente em um curto período de tempo.
As reuniões fechadas poderão ter, no máximo, 15 participantes externos. Quando o número for superior a esse limite, a audiência deverá ser obrigatoriamente aberta à imprensa por meio de transmissão.
Os encontros fechados serão preferencialmente presenciais e não poderão ser gravados pelos participantes. No caso das reuniões remotas, é vetada a transcrição automática.
As audiências com agentes externos devem ser agendadas preferencialmente às segundas ou sextas, em Brasília ou outras localidades, de forma que as agendas de terça a quinta fiquem reservadas para reuniões internas.
Também segundo as novas orientações, quando houver pedidos de audiência por investidores ou profissionais da área econômica, os membros do BC devem priorizar encontros com um grupo de pessoas de uma mesma empresa e depois reuniões com apenas um membro da companhia.
O BC estabelece ainda que as reuniões para tratar de assuntos do Copom devem visar a coleta de informações acerca da visão dos participantes externos sobre diferentes cenários da conjuntura econômica.
“As manifestações dos membros da diretoria colegiada sobre políticas a cargo da autoridade monetária estão limitadas aos documentos e pronunciamentos oficiais divulgados publicamente pelo Banco Central do Brasil”, diz trecho do comunicado.
Em abril, em Washington, um encontro de investidores com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, organizado pela XP, foi aberto ao público via transmissão. Na ocasião, a fala do chefe da autoridade monetária foi interpretada pelo mercado financeiro como uma mudança de sinalização da política monetária.
Em reuniões paralelas nos EUA, economistas da iniciativa privada viram sinais de dissenso entre os membros do Copom -o racha se confirmou na reunião de maio.
Em outubro de 2023, uma fala de Campos Neto às margens do encontro do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Marraquexe, no Marrocos, também provocou ruído com o mercado financeiro.
Publicamente, o presidente do BC rebateu a polêmica, falando em erro de interpretação. Segundo ele, o participante que pensa que foi dada uma nova informação em um encontro fechado entendeu errado a mensagem.
No comunicado desta sexta, o BC também formalizou a dinâmica para as palestras dadas pelo presidente ou pelos diretores do BC.
Os eventos serão preferencialmente abertos, mas essa regra não se aplica a eventos promovidos por organismos internacionais, outros bancos centrais e grupos formados por ministros de finanças ou presidentes de bancos centrais.
A gravação desses eventos externos será permitida, desde que disponibilizada para acesso livre do público na internet.
No caso das reuniões realizadas com os participantes da Focus -pesquisa que reúne impressões de mais de cem instituições financeiras- o BC decidiu distribuir mais os encontros ao longo do trimestre. Com isso, passarão de mensais para semanais. A mudança já entrará em vigor neste semestre.
“O objetivo é captar de forma mais tempestiva o sentimento e as projeções dos analistas econômicos ao longo do trimestre”, afirma a autoridade monetária.
NATHALIA GARCIA / Folhapress