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Bernardinho cativa em palestra

CAMPINAS, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Bernardinho subiu ao palco e pediu desculpas pelos minutos de atraso. Participou de uma homenagem a Bruninho, filho dele e levantador da seleção brasileira, e logo depois começou palestra “A cultura de excelência” no palco principal da CBC & Clubes Expo, que está sendo realizado em Campinas.

O treinador avisava que queria provocar a reflexão, não teria a resposta ou a solução para o que seria apresentado. Um dos pilares que ele coloca à tona é como a resiliência e a força de vontade são fatores de grande peso para uma trajetória vitoriosa, tanto do atleta quanto de treinador. Para isso, conta episódios pessoais desde a infância até as medalhas olímpicas, enumerando escolhas e decisões.

“Sempre que vou a uma empresa ou a um ambiente esportivo, tento ajustar o conteúdo ao público. Falei sobre a relação treinador, dirigente e atleta, formação de time, lições que temos de fazer. Eu não falo: ‘essa é a solução’. Estou refletindo também sobre erros que cometi e foi o que fiz. Foi o melhor? Não sei, mas tiveram consequência e temos de seguir. Você divide um pouco a sua experiência, independentemente do nível de atuação, se for um atleta olímpico ou um de base, há questões que vão aparecer em qualquer lugar”, disse Bernardinho, após a palestra.

Ele iniciou falando sobre a nova geração e como ela foi moldada. Revelou estar em um grupo de WhatsApp de pais da escola de uma das filhas, mas que nunca se pronuncia. Falou apenas uma vez: quando os responsáveis ameaçaram reclamar à diretoria sobre uma professora após a turma quase toda ganhar nota baixa na disciplina, e se mostrou contrário à atitude.

O choque de geração, inclusive, foi um ponto citado pelo técnico logo após a eliminação da seleção masculina nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Paris. “Tenho de aprender a lidar com a nova geração, ser melhor para ela. Não é gritando mais ou gritando menos. Tenho que ser eficiente”, disse, na ocasião.

Um ponto abordado foi a relação que a sociedade criou com as redes sociais e como o celular ganhou presença em qualquer tempo livre ao longo do dia. No caso dos atletas, citou os haters e a hashtag que criou como proteção. “Falei para colocarem: ‘a culpa é do Bernardinho’. Eu não me importo com haters. Por que vou dar atenção àquela pessoa?”.

“Fundamentalmente, lidamos com pessoas. O esporte não vende produto, não presta serviço, você extrai performance de pessoas. Você monta time e extrai performances de times. Essa é a nossa missão. Ganhar e perder é consequência do processo. Você aprende, assume a responsabilidade e segue. ‘Ah, porque A, B, C…’ Isso não existe, eu abomino”, disse Bernardinho após a palestra.

O comandante, logo depois, passou a desenhar uma ordem cronológica, e lembrou Bené, antigo treinador de vôlei do Fluminense, e como ele criou um trauma que foi conversado por muitos anos. “Eu brigava com meu irmão e ele me tirava do treino. Anos depois, ele foi assistir a um treino da seleção, na Urca, e o perguntei: ‘Bené, tenho de te contar um trauma que levei para a psicóloga, mas ainda tenho comigo. Eu brigava com o meu irmão e você só me tirava. Eu voltava chorando’. Ele respondeu: ‘Porque eu via vontade em você, você ia voltar'”.

Formado em economia, lembrou quando, em 1984, decidiu largar o banco em que trabalhava para tentar viver do esporte — havia recebido um convite para comandar uma equipe feminina na Itália, que ocupava a lanterna da competição. Ouviu do pai: “Só volta se der certo”, frase que contou ouvir até os dias atuais. Relatou que, ao chegar, a manchete de um jornal local o chamou de “jovem corajoso” por topar tal desafio. “Da crise se cria a oportunidade. Pior que estava, não tinha como ficar. Era a chance que eu tinha”.

Bernardinho citou o momento do corte de Andre Heller, que estava na plateia. “Demitir alguém, a pessoa vai trabalhar em outra empresa. Cortar alguém das Olimpíadas, ela não vai jogar por outra seleção. Você acaba com o sonho de uma pessoa. O André me perguntou o que ele deveria fazer para, na próxima vez, ficar, porque ele ia voltar. Voltou, e ficou”.

O técnico relatou ainda um caso de um curso que ele ministra na PUC-Rio, sobre empreendedorismo. Um dos alunos contou que queria trancar o curso. “Trancar se torna um hábito e você tranca a vida frente a qualquer adversidade”. Segundo ele, o aluno permaneceu no curso.

BASTIDORES DA SELEÇÃO

Na palestra, Bernardinho expõe alguns pequenos bastidores da trajetória na seleção. Ele aponta que o líbero Serginho estava atrás de outros concorrentes à vaga, mas o conquistou pela vontade que demonstrava. “Em um dos primeiros treinos do novo grupo, no Rio, estava muito quente. O Sergio, em um momento, abraçou a lixeira a vomitou. Voltou e não disse uma palavra. Daqui a pouco, a mesma coisa. Voltou e nada falou. Vi algo diferente”.

O técnico voltou a citar Serginho em outro momento, quando falou sobre a idolatria por Tom Brady, multicampeão na NFL, liga de futebol americano. “Eu sou fã do Tom Brady. Ele foi a escolha 199 do draft. Como uma das ligas mais caras do mundo deixa uma escolha como ele como 199? Ele não era o mais forte, o mais alto… Mas não avaliaram a força de vontade. Ninguém fazia mais do que ele pela vitória do time. Ele e Serginho são exemplos de como o nível de vontade pode vencer os números”.

Ao longo da palestra, ele falou sobre missão, liderança e cultura. Algumas frases foram apresentadas, dentre elas: “nosso maior teste é: o que fazer com o sucesso, uma vez que o conquistamos”, de Simon Sinek. Foram mostrados alguns vídeos. Um relacionado a vôlei, em um Brasil x Argentina, outro com uma fala de Steve Jobs, fundador da Apple, sobre paixão, e outro com um discurso de Denzel Washington sobre resiliência.

Próximo ao fim, Bernardinho citou episódios que mexem com ele, e lembrou Waleska. A ex-jogadora de vôlei morreu em 2023, após queda do 17º andar do prédio onde morava — a polícia encontrou cartas na residência. “Se tivesse de escolher alguém para ir à guerra comigo, escolheria ela. Eu fiquei pensando: ‘não é possível, ela sempre se mostrou bem’. Eu falei sobre isso, e a conclusão é que ninguém está sempre 100% bem”.

Ao fim, o treinador foi aplaudido de pé pelos presentes à plateia, composta, em sua maioria, por atletas, treinadores e diretores de clubes.

ALEXANDRE ARAUJO / Folhapress

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