SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira (12) que há uma preocupação dos agentes financeiros com os novos temas que aumentam a volatilidade global nos mercados e afirmou que, no Brasil, dois assuntos que ampliam os assuntos no radar do BC com relação a esse assunto são as criptomoedas e as apostas online, conhecidas como bets.
“Uma questão que parece anedótica, mas que vem crescendo bastante é a questão das chamadas bets, os jogos de apostas. Muita gente grande apresentando explicação por ali para entender o hiato que a gente vê entre o crescimento da renda que não aparece nem no crescimento do consumo nem no crescimento da poupança”, disse durante o Warren Day, evento com investidores em São Paulo.
Galípolo afirmou que esses efeitos são novos e não há clarezas do impacto deles sobre a inflação, o que aumenta a postura de “cautela” do BC, palavra que tem sido muito utilizada por diretores da autarquia, inclusive nos comunicados de decisão de juros.
Galípolo disse que há uma volatilidade acima do usual no mercado de câmbio globalmente, e não apenas no Brasil, por conta de um ambiente de incertezas elevadas. Ele citou como exemplo a nova situação geopolítica envolvendo a China e como isso se traduzirá na inflação.
Apesar da vigilância do BC sobre essa questão cambial, o diretor de Política Monetária voltou a dizer que é errado estabelecer uma relação direta entre o patamar do real em relação ao dólar e as decisões de juros do BC. Segundo ele, a autoridade monetária está monitorando também outras variáveis.
“Estabelecer essa relação mecânica com a política monetária é um equívoco. Como eu disse e repito, existem uma série de variáveis que estão nos incomodando há algum tempo”, afirmou.
Segundo o diretor de Política Monetária, também está no radar a diferença entre a reação do mercado que aparece no preços dos ativos e a atuação do Banco Central, além dos últimos dados de inflação corrente.
Na ata da última reunião de juros do BC publicada na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) disse que não hesitará em subir juros novamente se achar que é necessário. O colegiado destacou os impactos de variáveis como o dólar, além das expectativas de alta da inflação e do cenário externo adverso e incerto.
Sobre a ata, Galípolo disse que em nenhum momento a autoridade monetária divergiu no tom do comunicado (publicado assim que sai a decisão de juros) e da ata da reunião do Copom, que traz com mais detalhes o que balizou a decisão para a taxa Selic e é divulgada em até quatro dias úteis após a reunião.
Ele afirmou que não é positivo, do ponto de vista de credibilidade para o BC, mirar em um lado e chutar para o outro canto, usando como referência o futebol para dizer que não há divergência entre as ações e a comunicação da autoridade monetário.
A declaração foi feita após o mercado interpretar que o Banco Central endureceu o tom na ata, em relação ao comunicado, ao passar a sinalizar que pode subir juros, algo que não havia sido feito antes.
Segundo Galípolo, se a interpretação do mercado está diferente da intenção das comunicações, fica a cargo do BC explicitar qual era a intenção. O diretor de Política Monetária também fez questão de deixar claro que a ata não trouxe nenhum guidance, ou seja, uma indicação do que a autoridade pretende fazer na próxima decisão de juros.
Galípolo disse que há um trabalho por parte dos novos diretores do BC, incluindo ele, de ganhar a credibilidade do mercado e que para se chegar a isso, é preciso convergir falas e ações.
Principal cotado para assumir a presidência do BC após o fim do mandato de Roberto Campos Neto no fim deste ano, Galípolo fez questão de frisar que a escolha é do presidente da República, e Campos Neto é o presidente atual e está inteiro no cargo.
O diretor do BC disse que a transição de presidência será um passo importante e desafiador, já que é a primeira mudança de comando após a aprovação da autonomia da autarquia no governo passado. Ele afirmou que a tendência, com o tempo, é que as decisões estratégicas do BC ocorram de forma cada vez mais colegiada, ou seja, em equipe, após a autonomia aprovada.
Galípolo sinalizou que essa transição no BC após a saída de Campos Neto não deve causar muitas mudanças, citando que seis diretores da gestão anterior permanecerão na autarquia, e que o mercado já conhece como é o voto e a opinião deles.
Questionado sobre as contas públicas, Galípolo se esquivou de abordar a questão a fundo, dizendo que não é simples a captura do fiscal. O diretor do BC apenas repetiu o que estava na ata do Copom, ao dizer que a percepção do mercado de piora no quadro fiscal vai exigir uma reação da autarquia.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress