BHP enfrenta Justiça inglesa por tragédia de Mariana, energia nuclear em alta e o que importa no mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – BHP enfrenta Justiça inglesa por tragédia de Mariana, energia nuclear em alta e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (21).

**CASO ENCERRADO PARA A VALE, MAS NÃO PARA A BHP**

Um acordo entre a mineradora Samarco, o poder público e os afetados pelo rompimento da barragem de Mariana (MG), em 2015, está finalmente próximo.

O valor estimado pela Vale, sócia da britânica BHP na Samarco, é de R$ 170 bilhões, acima dos R$ 127 bilhões previstos em abril. Ainda assim, movimentos criticaram o acordo.

Do total, R$ 38 bilhões já foram pagos em indenizações nos últimos nove anos.

RELEMBRE

A avalanche de lama da barragem matou 19 pessoas e percorreu quase 700 km de Minas Gerais até o oceano Atlântico, pelo leito do Rio Doce. À época, o evento foi considerado a maior tragédia ambiental do Brasil.

O fechamento do acordo já era previsto, sendo prioridade do novo presidente da Vale, Gustavo Pimenta, que prometeu melhorar a relação da companhia com os governos.

SIM, MAS…

A história não terminou para a BHP, a outra controladora da Samarco. Na Inglaterra, onde fica a sede da empresa, uma corte determinará se a matriz da mineradora tem responsabilidade jurídica sobre a filial brasileira a partir desta segunda-feira (21).

Se a decisão for favorável à responsabilização e às vítimas, a indenização pode chegar a R$ 260 bilhões.

Após quatro semanas de considerações iniciais e testemunhos, a corte passará mais um mês ouvindo especialistas em legislação brasileira.

A expectativa da acusação é que uma sentença sobre a responsabilização possa ocorrer em meados de 2025.

OUTRO LADO

À Folha de S.Paulo, a BHP Brasil afirmou que não pode ser considerada culpada duas vezes, alegando que a matriz é uma acionista indireta e não tinha gestão sobre o negócio.

BHP Group. Criado a partir de uma fusão entre a australiana BHP e a inglesa Billiton, o grupo é um dos maiores do setor de mineração no mundo, dividindo o pódio com a Vale e a Rio Tinto.

– Receita anual: US$ 55,6 bilhões (R$ 314,5 bilhões).

– Valor de mercado: US$ 144,5 bilhões (R$ 818 bilhões).

– Produção anual: 259 milhões de toneladas de minério de ferro.

– Funcionários: 83 mil.

– Principais países com operação: Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Chile e Peru.

O CASO DAS BARRAGENS

Em 2019, pouco depois do incidente de Mariana, uma barragem semelhante na cidade de Brumadinho (MG) também se rompeu, deixando mais de 270 mortos. Três corpos ainda não foram encontrados. Desta vez, a operação era exclusivamente da Vale.

As mineradoras vêm encerrando as operações desse tipo no Brasil, conhecidas como “a montante”. Em 2020, uma lei proibiu a construção dessa estrutura no país.

Ainda assim, quatro barragens da empresa eram consideradas de alto risco em janeiro deste ano, cinco anos após a tragédia.

**O DINHEIRO VAI PARA A ENERGIA NUCLEAR**

Acordos recentes entre Google, Amazon e startups de energia nuclear dos Estados Unidos resultaram em uma enxurrada de investidores migrando para empresas do setor na Bolsa americana.

A expectativa dos empresários é de que esse fluxo de dinheiro confirme uma retomada. A geração nuclear enfrentava um declínio desde o acidente de Fukushima, no Japão, em 2011. Agora, porém, há novos investimentos em andamento.

As ações das empresas relacionadas ao setor dispararam para máximas históricas após o anúncio das big techs na última semana.

ENTENDA

O Google fechou contrato com a startup Kairos Power para a construção de cerca de seis pequenos reatores nucleares, de nova geração. A Amazon seguiu o mesmo caminho com a X-energy.

O objetivo é fornecer eletricidade para novos data centers, responsáveis pelo processamento de inteligência artificial.

Até mesmo as ações das startups concorrentes Oklo e NuScale reagiram com valorização.

A gigante Constellation, que opera o maior número de reatores nos Estados Unidos, dobrou de valor desde o início do ano.

A TODO VAPOR

A oferta de energia, principalmente limpa, é um ponto crítico para a disseminação da inteligência artificial.

Data centers consomem 4% da eletricidade nos Estados Unidos, mas o percentual pode chegar a 9% até 2030, segundo o Electric Power Research Institute.

Pesquisar algo no Google consome cerca de 0,3 watt-hora, enquanto uma consulta no ChatGPT requer 2,9 watt-hora.

TENDÊNCIA

No mês passado, a Microsoft assinou um acordo de fornecimento de 20 anos com a Constellation, que irá reativar uma usina.

Bill Gates, o emblemático fundador da empresa, é um defensor da energia nuclear. Destaquei o assunto nesta edição da newsletter.

DE VOLTA

Enquanto nos Estados Unidos o gatilho para investimentos em novos reatores é a demanda da IA, em países europeus como a França, a decisão é de depender menos da energia importada da Rússia.

Ao menos 20 países anunciaram planos de expansão da energia nuclear recentemente, e há cerca de 60 reatores em construção. O tema, entretanto, divide ambientalistas.

Entenda aqui como esse tipo de geração elétrica funciona.

E ANGRA 3?

O Brasil possui apenas dois reatores nucleares, Angra 1 e 2, localizados no estado do Rio de Janeiro.

A obra de Angra 3 se arrasta há 39 anos e está paralisada desde que foi alvo da Operação Lava Jato. O progresso das obras é estimado em 66%.

O governo está prestes a decidir sobre a continuidade do projeto e o valor da tarifa de energia.

Segundo um estudo do BNDES, o custo para abandonar o empreendimento pode ultrapassar R$ 21 bilhões, enquanto concluir a usina custaria R$ 23 bilhões.

**QUEM DOA NO BRASIL**

O brasileiro é solidário? Na avaliação de José Luiz Egydio Setúbal, um dos herdeiros do Itaú, apenas durante tragédias. Ele atribui essa característica ao baixo nível de cidadania da população.

Dados de uma pesquisa encomendada pela instituição coordenada por Setúbal, que leva seu nome, mostram que esmolas e doações de bens são as formas mais comuns de contribuição.a

Apenas 28% da população afirma fazer alguma doação a ONGs (Organizações Não Governamentais) e OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público).

Segundo Setúbal, isso reflete um país com grande informalidade, que não oferece incentivos à doação, diferentemente dos Estados Unidos e da Europa.

Entre os doadores, o valor mediano é de R$ 200 por ano.

OS MOTIVOS

Entre os que contribuem com organizações, mais da metade (54%) foi motivada por familiares, amigos e conhecidos.

O segundo principal motivo é “arredondar o troco” no comércio (41% das respostas), seguido por campanhas em redes sociais (33%).

Já entre os que não fizeram doações a organizações da sociedade civil, 33% alegam falta de dinheiro, enquanto 22% afirmam que nunca foram solicitados.

Outros 20% acreditam que as doações não seriam bem usadas, enquanto 16% acham que o governo deveria arcar com esses custos.

Um estudo da FGV, publicado pela Folha de S.Paulo no início do ano, apontou que teorias conspiratórias e estigmas distorcem a percepção sobre ONGs no paísvido, ou a ser restituído, a entidades beneficentes.

**DE OLHO NA BOLSA**

Setor de frigoríficos, em alta generalizada

Investidores começam esta segunda-feira (21) com as ações dos grandes frigoríficos brasileiros no radar.

Na semana passada, BRF, Marfrig, Minerva e JBS tiveram fortes altas.

Só a Marfrig disparou 14,6%, depois de receber uma avaliação positiva do banco americano Goldman Sachs. A JBS subiu 8,9%

O QUE EXPLICA

Os preços da proteína animal subiram nos últimos meses no mercado internacional, o que favorece lucros maiores nessas empresas.

Ao mesmo tempo, a boa disponibilidade de animais no rebanho brasileiro permite que os frigoríficos negociem preços.

As ações em patamar baixo também favoreceram as altas.

A GIGANTE JBS

O frigorífico dos irmãos Batista, um dos maiores do mundo, está com as perspectivas mais positivas. Só em 2024, as ações sobem 34%.

A diversificação recente ajudou a elevar a lucratividade, com mais produtos de valor agregado e com melhor margem de lucro, como cortes de frango embalados.

Há dez anos, a carne bovina representava 65% da receita. Hoje representa 55%.

Investidores estão otimistas também com a possível listagem das ações da companhia na Bolsa de Nova York, prevista para 2025.

Há incertezas, porém, com processos relacionados a abuso de preços, práticas ambientais nos Estados Unidos e o histórico dos irmãos Batista com casos de corrupção no Brasil. Destaquei o assunto nesta edição da newsletter.

RESULTADOS À VISTA

A temporada de resultados do terceiro trimestre de 2024 começa amanhã. Vale, Suzano e Usiminas estão entre as primeiras empresas a apresentar os números financeiros.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

GOVERNO LULA

Seguro-desemprego para quem ganha acima de dois salários mínimos custa R$ 15 bi. Grupo responde por um terço da despesa, mais que sua proporção (25%) no número de pedidos; renda é possível linha de corte para mudanças.

MERCADO

Azeitona some ou é racionada nas pizzarias em SP. Aumento do preço e desperdício de clientes fazem pizzarias reduzirem a quantidade.

MERCADO

CVM acusa oito ex-executivos da Americanas de insider trading. Ex-CEO Miguel Gutierrez e ex-diretora Anna Saicali são alguns dos alvos, além de outros executivos do alto escalão.

VICTOR SENA / Folhapress

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