SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No Brasil, quando o assunto é tênis, facilmente vem à mente Gustavo Kuerten, o Guga, tricampeão do Grand Slam de Roland Garros (1997, 2000 e 2001), e Maria Esther Bueno, que conquistou 19 taças de torneios Grand Slam. Ambos são referências para Bia Haddad, 27, o principal nome brasileiro do tênis atualmente.
Haddad fez história, em 2023, ao se tornar a primeira brasileira em 55 anos a chegar à semifinal de Roland Garros. Antes dela, só Bueno tinha ido tão longe.
“Para mim, é muito especial estar na minha posição”, conta Bia Haddad em entrevista à reportagem. “Hoje estou aqui porque trabalhei muito duro. E quando falo isso é sobre ser uma mulher brasileira que representa pelo mundo não só o Brasil, mas as mulheres da América do Sul.”
A atleta foi apresentada ao tênis por seus avós. “A minha primeira e eterna ídola é a minha avó, que tem 90 anos e joga tênis”, conta. Junto ao avô, Arlette Haddad passou a raquete de tênis para as tias de Bia Haddad e, consequentemente, para ela.
“Tenho muita gratidão por ela mesmo, que é uma mulher muito forte, muito disciplinada, que sempre com jeito, com carinho, com o amor dela sempre nos trouxe valores muito importantes”, conta a atleta. Fora do escopo familiar, dentro da quadra, Bia cita Rafael Nadal e Guga como ídolos.
Como representante feminina do esporte, Bia reconhece o quanto é difícil para muitas mulheres enfrentarem barreiras tanto internas quanto externas, dentro e fora de casa. “Eu valorizo muito hoje minha posição porque, por meio da raquete, consigo ter uma voz, consigo me posicionar.”
Os desafios enfrentados pelas mulheres abrangem uma variedade de aspectos, desde os fisiológicos até os sociais, ela observa. Seja no esporte ou em qualquer ambiente de trabalho, há mulheres que sofrem com sintomas menstruais que podem afetar seu desempenho físico e emocional.
“Eu diria que tenho um pouco de sorte fisicamente falando. Não tenho tanto sintoma quando vou menstruar. Quando tenho, normalmente faço exercícios. Quando transpiro e enfrento essa dor, sempre sinto que fico mais forte”, afirma a atleta.
Haddad conta que já alcançou alguns de seus melhores resultados durante o ciclo menstrual. Essa perspectiva destaca a resiliência das mulheres diante de adversidades físicas.
“Claro que algumas vezes ficamos um pouco mais emotivas, temos oscilações de humor também por conta dos hormônios. Acho que uma coisa que me ajuda muito é o ambiente em que estou”, conta Bia Haddad. “Os profissionais com os quais trabalho são muito abertos a me ouvir e me ajudar.”
Esse apoio permite que ela gerencie sua carga física e emocional durante o ciclo menstrual, garantindo que possa oferecer o seu melhor.
Quando se aproxima um jogo durante o período menstrual, a atleta pensa que tem duas opções: uma delas é se concentrar nos aspectos negativos, lamentando sobre os desconfortos físicos e mentais que podem surgir, e a outra alternativa é adotar uma abordagem positiva, encarando o momento como uma oportunidade de superação.
“Às vezes, não estamos 100%, mas podemos dar 100% dentro dos nossos 90%. Acho que podemos encarar dessa forma”, completa. Haddad reitera a necessidade de superar estigmas e pressões externas, reconhecendo que esses obstáculos não a impedem de alcançar seus objetivos.
Questões relacionadas à maternidade também impactam as carreiras das atletas. A decisão de engravidar traz mudanças significativas na rotina e na disponibilidade de tempo, afetando tanto o treinamento quanto o desempenho competitivo.
Bia cita que para tenistas mulheres é uma escolha difícil. No circuito do tênis, às vezes os profissionais homens podem viajar com suas esposas grávidas ou com crianças pequenas, o que é algo que muito mais difícil para as mulheres, seja durante a gravidez ou amamentação. Essa realidade é vista como um desafio adicional para as mulheres no esporte.
A tenista Serena Williams, após o nascimento de sua filha em 2017, enfrentou complicações de saúde e precisou de um tempo para se recuperar antes de retornar ao circuito profissional.
Recentemente, Naomi Osaka retornou às quadras após a maternidade com um quadro de depressão. Essas atletas mostram que a maternidade não é empecilho, mas, sim, um desafio em suas carreiras.
“Eu sou uma pessoa muito família, tenho vários primos, cresci sempre com muita gente. Tenho vontade de ser mãe, mas é bem complicado conseguir tomar essa decisão. Um exemplo disso é a Danielle Collins, que está jogando agora e está, talvez, no melhor momento da carreira dela. Acabou de ganhar dois torneios seguidos e vai se aposentar no final do ano porque quer ser mãe”, diz.
Bia enfatiza como é essencial o suporte tanto profissional quanto emocional para atletas. O apoio é fundamental para equilibrar as exigências do esporte, principalmente quando falamos de maternidade.
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RAÍSSA BASÍLIO / Folhapress