SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Peça por Peça: Uma História de Pharrell Williams” é exemplo de uma ótima ideia que não conseguiu entregar um produto final tão bom quanto prometia. Sim, é engraçado, tem músicas ótimas, funciona bem com adultos e crianças, mas comete algumas derrapadas no caminho.
Aos 51 anos, Pharrell Williams é um dos maiores nomes da música pop nos últimos tempos, misturando hip-hop, R&B e rap. Expandiu sua influência para além do mercado fonográfico, numa colaboração estreita com produções cinematográficas, principalmente ao fornecer boas canções para animações de muito sucesso, e avançando seus negócios no mercado de moda e design.
Na decisão de fazer uma autobiografia no cinema, veio uma ideia original e carregada de chances de ótimo retorno comercial: contar sua vida com bonecos Lego. Há tempos essa empresa que revolucionou no mundo os brinquedos para montar tem produzido animações infantis. Nesses filmes, os personagens podem ser Batman, Vingadores ou até mesmo Kelly Osbourne, a mediática filha de Ozzy.
“Peça por Peça” traz oportunidades de inovação tanto para a empresa de brinquedos como para seu biografado. O catálogo de filmes da Lego passa a ter um filme sem personagens fictícios, representando apenas gente que existe de verdade. E Pharrell foge do modelo convencional das cinebiografias.
Vale lembrar que o cantor inglês Robbie Williams (sem nenhum parentesco) também inovou. No mês que vem estreia “Better Man: A História de Robbie Williams”, filme que conta a vida do cantor como se ele fosse um macaco. E o Coldplay anunciou um projeto de longa metragem biográfico no qual seus integrantes na verdade são clones.
Voltando a Pharrell, seu filme é guiado por depoimentos que ele e colaboradores dão ao diretor Morgan Neville. Impossível não achar engraçado e gracioso todo o trabalho visual, tem muito talento investido ali. Mas é preciso reconhecer que mais de 90 minutos de filme é um tanto demais para o formato. Depois de uma hora de exibição, os bonecos e seus artefatos bonitinhos podem cansar.
E a isso pode ser somado o problema de o terço final do roteiro ser bem fraco. Já com sucesso mundial, ali Pharrell parece perdido em divagações filosóficas rasas. Não à toa, é a parte do filme em que ele fica mais isolado, sem tantos amigos por perto para interagir boa música e diversão.
Morgan Neville tem um longo currículo de documentários sobre estrelas do entretenimento. Antes de dirigir suas lentes para a vida de Pharrell Williams, ele fez projetos de sucesso com Johnny Cash, U2, Keith Richards, Beach Boys e Steve Martin. Apenas nos últimos dois anos ele lançou seis filmes, mas nenhum que deu tanto trabalho quanto “Peça por Peça”.
Criar todas as pessoas e as coisas inanimadas no formato Lego e a partir daí construir o filme levou mais de três anos. E a demora exigida no desenho da animação muitas vezes inibiu mudança de última hora na história. Se o diretor pensasse em mudar uma única cena que fosse, isso significaria semanas de trabalho a mais.
Assim, o roteiro já estava pronto há um bom tempo. Houve pressa também na captação de depoimentos de tantas estrelas que cruzaram a vida do biografado. E essas participações formam um dos atrativos do filme. O público se delicia em ver cada versão Lego criada para nomes como Jay-Z, Justin Timberlake, Gwen Stefani, Missy Elliott ou Kendrick Lamar.
A reação mais empolgada da plateia será, provavelmente, na aparição de Snoop Dogg. Engraçado tanto na forma humana como em bonequinho, ele leva Pharrell a uma experiência com maconha numa cena que divertirá os adultos e certamente vai ser algo muito enigmático para as crianças atraídas pelos bonequinhos.
Peça por Peça: A História de Pharrell Williams
Avaliação Bom
Quando Estreia nesta quinta (9) nos cinemas
Classificação 14 anos
Produção Estados Unidos, 2024
Direção Morgan Neville
THALES DE MENEZES / Folhapress
