FOLHAPRESS – Depois de cinco anos sem lançar um álbum, a banda paulistana Bixiga 70 põe na praça “Vapor”, seu quinto disco, e traz novidades na formação, com a entrada das percussionistas Valentina Facury e Amanda Teles e do tecladista Pedro Regada.
O trio se junta a Cristiano Scabello na guitarra, Cuca Ferreira no saxofone barítono, Douglas Antunes no trombone, Daniel Nogueira no sax tenor, Daniel Verano no trompete e Marcelo Dworecki no baixo para completar a formação desse grupo instrumental que faz uma empolgante mistura de afrobeat, grooves, soul music e funk.
Formado em 2010, o Bixiga 70 carrega no próprio nome o ecletismo do bairro boêmio onde foi fundado, lugar onde se misturam casas de samba, forró, cantinas italianas e, mais recentemente, imigrantes da África e Síria. O grupo foi fundado no estúdio do guitarrista Cristiano Scabello, que fica na rua Treze de Maio, número 70, no Bixiga.
As mudanças parecem ter feito um bem danado ao som do Bixiga 70. Nada contra os álbuns anteriores, que são de alta qualidade, mas a sonoridade de “Vapor”, pelo menos às primeiras audições, parece mais experimental e ousada, incorporando elementos da música nordestina e amazônica, em sete faixas fortes e dançantes. O disco tem alguns convidados especiais, incluindo Romulo Nardes na percussão, Mayara Almeida no saxofone e na flauta, Marcelle Barreto no teclado e Vitor Cabral na bateria.
A canção que abre o disco, “Malungu”, parceria com a grande percussionista Simone Sou, começa com uma delicada percussão, quase infantil, e vai ganhando corpo, num mantra grooveado e denso, até explodir numa jam afrobeat com direito à flauta de Mayara Almeida.
“Na Quarta-Feira” tem uma pegada mais eletrônica, com sintetizadores setentistas, e uma guitarra que remete a trios elétricos baianos. A faixa seguinte é “Parajú”, que parece incorporar sonoridades da guitarrada amazônica e da cúmbia psicodélica, com uma guitarra de pura lisergia.
“Marginal Elevado Radial”, como o nome diz, soa mais urbana e paranoica, uma cacofonia de elementos criando um clima jazzístico mais tenso e controlado, mas ainda muito dançante e festivo. Já a animada “Baile Flutuante” remete às orquestras pernambucanas de frevo, antes de um solo de guitarra que é puro Dodô e Osmar.
O disco fecha com duas faixas mais experimentais: “Mar Virado” começa com um teclado de Arab disco, para logo depois cair num groovão soul de arrepiar. E “Loa Lua” encerra “Vapor” de forma comovente, uma baladona quase infantil que lembra velhas cantigas de ninar.
“Vapor” é um disco bastante eclético, com músicas que mudam de direção a cada minuto e surpreendem com sons inesperados, mas sem perder o foco no centro do trabalho do Bixiga 70, que é a música de festa. A única reclamação? Com 33 minutos, é curto demais.
VAPOR
– Avaliação Muito bom
– Onde Disponível nas plataformas digitais
– Autoria Bixiga 70
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress