PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Depois de quase uma década de vida dura na cena underground, a banda mineira Black Pantera parece ter finalmente conquistado um lugar de destaque no rock brasileiro, expandindo seu fã-clube além do nicho do heavy metal.
“A Pitty diz que curte o nosso som, o Samuel Rosa, do Skank, também”, diz o baixista e cantor Chaene da Gama. “E o Dinho [Ouro Preto] disse que ouve nossos discos no camarim do Capital Inicial. Isso nos deixa muito emocionados.”
Não são apenas músicos brasileiros que curtem a banda. Depois de ver o Black Pantera tocando num festival, o cantor Mike Patton, do Faith No More e Mr. Bungle, virou fã a ponto de posar para fotos vestindo camisetas da banda.
O Black Pantera surgiu em 2014 em Uberaba, no interior de Minas Gerais, e tem, além de Chaene da Gama, o irmão Charles Gama, no vocal e na guitarra, e Rodrigo Pancho, no baixo. Três músicos negros que vêm se destacando pela energia alucinante de seus shows e por músicas que tratam de racismo e preconceito.
Neste ano, pela primeira vez, os três conseguiram sobreviver financeiramente do Black Pantera. Charles pôde, enfim, largar o emprego num lava-jato, Chaene pediu demissão da gráfica que o empregava, e Pancho passou a recusar convites para tocar em bailes de sertanejo e forró. “Nossa vida agora é 100% Black Pantera”, diz Chaene.
A banda acaba de dar um passo importante para expandir ainda mais seu público. Lançou um EP de cinco músicas, “Griô”, primeiro disco cantado totalmente em inglês. “Foi uma necessidade”, diz Pancho. “Já havíamos gravado algumas músicas em inglês e tocado em grandes festivais, como Rock in Rio, Lollapalooza e Knotfest, mas sentimos que mais pessoas precisavam entender a mensagem de nossas músicas.”
A mensagem do Black Pantera é clara. Eles são uma banda antirracista, mas que faz um tipo de som ainda muito associado à cultura branca. “O metal é muito branco”, diz Charles.
“Quando eu era mais novo e comecei a ouvir heavy metal, ficava fuçando nas revistas para ver se encontrava algum músico negro, mas era difícil. Lembro quando ouvi Living Colour [banda americana formada em 1984] pela primeira vez. Eu pirei no som, mas a capa do disco não tinha foto da banda. Aí, um amigo disse que era uma banda preta. Eu não acreditei, fiquei louco com aquilo.”
A admiração pelo Living Colour aumentou ainda mais no ano passado, quando o Black Pantera foi convidado para tocar no Rock in Rio e atraiu a atenção dos ídolos gringos. “A gente estava ensaiando no local do show e de repente o Charles começou a errar as letras”, lembra Chaene.
“Eu olhei para a porta, e o Corey [Glover, cantor] e o Doug [Wimbish, baixista] estavam vendo o nosso ensaio. Depois, o Vernon [Reid, guitarrista do Living Colour] falou de nós durante uma entrevista ao Multishow. Cara, que coisa surreal!”
Se o Black Pantera foi inspirado por bandas negras mais antigas -os três lembram Renato Rocha, do Legião Urbana, Clemente, do Inocentes, Canibal, do Devotos, e Derrick Green, do Sepultura, como exemplos importantes de músicos negros. Agora são os mineiros que influenciam novas gerações.
“É muito lindo olhar o público de nossos shows e ver a variedade de gente”, diz Pancho. “Outro dia, em um show nosso, havia uma mãe com um menino preto, os dois coladinhos na grade, e o menino parecia extasiado, foi uma coisa muito bonita de ver.”
Os três esperam que “Griô” ajude a abrir as portas do mercado internacional, mas já preparam um novo disco, o quarto LP, que deve sair no ano que vem, e continuam a cumprir uma agenda de shows cada vez mais cheia.
“A cena underground no Brasil está efervescente”, diz Charles. “O Brasil está recheado de bandas incríveis. Outro dia, tocamos em Brasília com uma banda chamada Desonra, e os caras eram tão bons que eu fiquei até com medo de subir no palco depois. Os caras moeram.”
Mesmo fazendo um som muito rápido e pesado, os integrantes do Black Pantera têm visto uma presença feminina cada vez maior em seus shows. “É impressionante a quantidade de mulheres que estão ouvindo Black Pantera”, diz Chaene.
“Em nossos shows, há o momento da ‘roda das minas’, e é muito bonito ver que muitas delas estão entrando numa roda punk pela primeira vez. Não é raro elas dizerem que aquilo foi um momento muito libertador, achamos isso lindo. A cena brasileira precisa de mais ecletismo, precisa de mais bandas femininas, LGBT, de mais artistas indígenas.”
GRIÔ
Onde: Disponível nas plataformas digitais
Gravadora: Deck
Artista: Balck Pantera
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress