BNDES libera R$ 5,9 bilhões em crédito para inovação em grandes empresas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou R$ 5,9 bilhões em empréstimos a grandes empresas entre janeiro e agosto de 2024 para estimular inovação. Os projetos se concentram nas áreas farmacêutica, aeroespacial, tecnologia da informação, automotiva e elétrica, seguindo de forma geral diretrizes do plano Nova Indústria Brasil (NIB).

O valor é recorde. Dos R$ 5,9 bilhões, R$ 4,5 bilhões provêm da linha BNDES Mais Inovação, superando a soma das aprovações de 2019 a 2023 no mesmo período. O montante mais que dobra o pico anterior, de 2011, quando foram liberados R$ 2,9 bilhões.

Uma medida provisória aprovada pelo Congresso em maio de 2023 permite ao banco oferecer empréstimos vinculados à Taxa Referencial (TR), atualmente em 0,07% ao mês. Antes disso, o BNDES vinha priorizando financiamentos baseados na Taxa de Longo Prazo (TLP), mais alinhada a padrões de mercado para empréstimos de longo prazo.

Empréstimos com juros mais baixos fazem parte de estratégia para atrair investimento e aumentar competitividade do país no cenário internacional, segundo José Luis Gordon, diretor BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

“Inovação tem riscos, principalmente os técnicos e de mercado. Por isso, deve haver taxa diferenciada”, diz o diretor do BNDES.

Entre as grandes empresas, a Embraer recebeu empréstimos que somam R$ 500 milhões, dos quais R$ 420,7 milhões têm custo baseado na TR mais 2,2% ao ano, com carência de 48 meses e prazo de amortização de 144 meses.

No setor farmacêutico, Hypera e EMS receberam R$ 500 milhões cada, ambas com TR mais 2,2% ao ano. A Hypera com 36 meses de carência e 96 de amortização, e a EMS com 36 e 84 meses, respectivamente.

A Volkswagen obteve R$ 500 milhões para pesquisas em veículos híbridos e elétricos, além dos R$ 304 milhões anunciado na última sexta-feira (27). O empréstimo mais antigo tem TR mais 2,23% ao ano, carência de 36 meses e amortização em 156 meses.

Apesar do crédito recorde oferecido pelo BNDES, especialistas afirmam que o Brasil deveria diversificar instrumentos de financiamento e refinar as áreas de investimento para maximizar o impacto dos recursos.

As quantias oferecidas via subsídio tendem a estimular a inovação superficial, de acordo com Glauco Arbix, professor titular de sociologia da USP e ex-presidente do Ipea e da Finep.

“Financiamento nunca é a melhor forma de incentivar a inovação. Para tecnologias mais críticas, são necessários mecanismos como a subvenção econômica, que transfere recursos para o setor privado devido ao alto risco tecnológico. Muitas empresas não conseguem entrar nessa área por falta de instrumentos adequados de financiamento”, diz.

Para ele, o país precisa de investimento em áreas estratégicas que possibilitem inovações mais profundas, de maior risco. O sociólogo critica a amplitude do plano Nova Indústria Brasil e a falta de foco estratégico.

“Precisaríamos concentrar esforços em três ou quatro áreas, não mais que isso, para capacitar o país no que ainda não consegue fazer. Energia, vacinas, inteligência artificial e Amazônia são áreas importantes”, diz Arbix.

“Ficamos sempre sem saber no que o Brasil vai se destacar.”

Sérgio Lazzarini, pesquisador no Insper e autor de livros sobre as relações entre Estado e empresas nos governos do PT, diverge. Para ele, melhorar mecanismos de governança com base em erros passados pode ser mais importante do que prever áreas de destaque nacional.

“É difícil sentar em uma mesa e falar qual indústria vai ser o futuro. Podemos identificar potenciais, como inteligência artificial ou doenças de países emergentes, mas é muito complicado antecipar o que vai prosperar”, afirma Lazzarini.

“O Brasil ofereceu crédito subsidiado a vários setores por muito tempo, e isso não salvou a indústria. É preciso acompanhar os créditos, avaliando resultados e patentes geradas. Assim, pode-se continuar apoiando quem deu certo ou reconsiderar quem não deslanchou.”

Políticas que melhorem o ambiente regulatório e jurídico também deveriam ser priorizadas, segundo Cleveland Prates Teixeira, economista e professor da FGV.

“Quando você começa a dar subsídios a indústrias específicas, dá a entender que o governo sempre vai resolver os problemas que surgirem dali”, afirma.

O especialista também defende a maior consideração de impactos positivos causados na sociedade por empresas menores. “É muito mais difícil para pequenas e médias empresas cumprir com os benefícios para conseguir esses financiamentos”, diz.

O apoio à inovação para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) em 2024 é o maior desde 1995, segundo Gordon, diretor do BNDES. As aprovações para empresas de médio porte somaram R$ 1,4 bilhão, 56% do total para MPMEs. Microempresas receberam R$ 200 milhões e pequenas, R$ 900 milhões, de acordo com o BNDES.

LAURA INTRIERI / Folhapress

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