SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Boeing e a Nasa conseguiram, enfim, lançar a cápsula Starliner CST-100 em sua primeira missão tripulada. No topo de um foguete Atlas 5, a espaçonave partiu de Cabo Canaveral, na Flórida (EUA), pouco antes do meio-dia desta quarta-feira (5). Com ela, a empresa se torna a segunda do mundo com a capacidade de levar astronautas à órbita em um veículo próprio.
A bordo da cápsula estão dois astronautas da Nasa: o comandante Barry Eugene Wilmore, 61, e a piloto Sunita Williams, 58. Experientes, eles vão à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) pela terceira vez. Ambos já fizeram caminhadas espaciais.
No histórico de Wilmore, que ingressou na agência especial americana em 2000, constam 178 dias no espaço. Suas duas missões anteriores foram em 2009 e 2014. É formado em engenharia elétrica, com especialização em sistemas de aviação.
Williams acumula 322 dias no espaço. Ela se tornou astronauta da Nasa em 1998 e embarcou em missões em 2006 e 2012. Sua formação é em física e se especializou em gestão de engenharia.
A expectativa é que a cápsula com os dois astronautas se acople à ISS neste domingo (2) e volte à Terra após cerca de oito dias.
O lançamento desta quarta ocorreu quase um mês depois da primeira tentativa, no começo de maio. Decidiu-se abortar o voo a menos duas horas da contagem regressiva devido a um problema técnico no foguete Atlas 5, fabricado pela United Launch Alliance (ULA), uma joint venture da Boeing e da Lockheed.
O foguete precisou ser retirado da plataforma de lançamento para a troca de uma válvula que regula a pressão do tanque de oxigênio. Cerca de três horas antes do horário de lançamento, ela começou a zumbir a uma taxa de cerca de 40 vezes por segundo. A peça, na avaliação dos engenheiros da ULA, excedera o limite de vezes que poderia ser aberta e fechada de forma confiável.
Outras datas de lançamento chegaram a ser anunciadas ao longo de maio, porém outro problema foi detectado, desta vez na própria cápsula: um vazamento de hélio em um componente de 1 dos 25 controles de propulsores utilizados para manobrá-la na órbita da Terra.
No último dia 24, Nasa e Boeing anunciaram que os problemas técnicos foram resolvidos e, portanto, poderiam retomar os planos. O vazamento de hélio, disseram autoridades na ocasião, não oferece risco aos astronautas. “Esse não é um problema de segurança de voo para nós mesmos, e acreditamos ter uma condição bem compreendida que podemos administrá-lo”, afirmou o chefe da Starliner da Boeing, Mark Nappi.
A investigação desse vazamento também levou os engenheiros a descobrir um problema adicional no sistema de propulsão da cápsula, que o chefe da tripulação comercial da agência espacial americana, Steve Stich, chamou de “vulnerabilidade de design”.
Constatou-se que uma série de problemas em cascata durante uma missão, mas muito improváveis, poderiam eliminar os propulsores de reserva da cápsula e torná-la incapaz de regressar com segurança à Terra. Com uma correção de software, chegou-se a uma solução temporária para a missão, contudo a Boeing e a Nasa ainda discutirão se é necessária uma reformulação mais profunda antes de voos futuros.
Com o voo iniciado nesta quarta, a Boeing espera concluir o teste final para que a Starliner seja certificada pela Nasa para efetuar viagens de astronautas para a ISS. Hoje, apenas a Crew Dragon, da SpaceX, cumpre essa tarefa.
A agência espacial americana selecionou as duas empresas em 2014 para o seu programa comercial tripulado, no qual só contrata o serviço de transporte. Elas receberam a missão de desenvolver um veículo de transporte e fazer voos de teste para obter a certificação.
Esperava-se que o primeiro lançamento fosse em 2017. Porém, as duas atrasaram.
A cápsula da empresa de Elon Musk passou por seus testes em 2019 (sem tripulação) e 2020 (com tripulação). Em novembro deste último ano, ela começou a carregar astronautas em voo regulares para a ISS. Atualmente, a SpaceX registra oito missões à estação espacial.
Sua rival nessa corrida, a Boeing fez seu primeiro teste também em 2019, mas a tentativa falhou. A empresa marcou um outro voo para março de 2021, porém diversos problemas o levaram a ser adiado para maio do ano seguinte.
Passados os adiamentos em série novamente em maio, mas desta vez em 2024, a Boeing enfrentava pressão para conseguir um lançamento bem-sucedido no começo deste mês. Qualquer data posterior a 6 de junho desencadearia semanas ou até meses de atrasos, porque alguns componentes perecíveis precisariam ser substituídos na Starliner e no foguete Atlas 5
O projeto da Starliner acumula anos de atraso e US$ 1,5 bilhão de custos não previstos de desenvolvimento. Seu sucesso é visto como crucial para a Boeing, que passa por uma crise em seu negócio de aviação.
Redação / Folhapress