BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – As ações da Argentina dispararam mais de 20% e o dólar paralelo ultrapassou os 1.000 pesos nesta terça-feira (21), depois da vitória do ultraliberal Javier Milei e de um feriado local nesta segunda (20). A subida da moeda americana, porém, ficou dentro do esperado após uma semana pré-eleições com o mercado paralelo congelado.
O chamado dólar “blue”, que iniciou o dia instável, saltou de 950 a 1.050 até o início da tarde, em relação à última sexta-feira (17), uma alta de cerca de 11%. Comprar ou vender dólares por essa cotação teoricamente é proibido no país, mas na prática é esse valor que rege os preços nos comércios e serviços do dia a dia.
“Está dentro do esperado”, opina Alejo Costa, estrategista chefe do banco BTG Pactual na Argentina. “Com Milei, há duas forças opostas. Primeiro, a ideia de uma menor emissão monetária devido a um menor déficit, o que alivia a pressão sobre o dólar. Segundo, uma potencial dolarização, que supõe um dólar mais alto. Entre essas duas forças, parece lógico ver o dólar entre 1.050, 1.100 pesos”, diz.
Além disso, diante das incertezas do que ia acontecer nas urnas e de controles reforçados pelo ministro da Economia e então candidato Sergio Massa, os mercados paralelos pararam de vender a moeda na última semana, o que pode ter segurado o preço. Informalmente, se brincava que já haveria um dólar “blue” do “blue”, ou seja, que nas ruas se vendia um dólar ainda mais caro do que o dólar paralelo.
Na Bolsa, o índice S&P Merval de Buenos Aires abriu nesta terça com uma alta de 20,81%, às 11h03 (horário de Brasília), devido aos ajustes de preços após o feriado, com as empresas de energia liderando os ganhos. Nesta segunda, os mercados externos haviam reagido positivamente à vitória de Milei.
As ações das empresas argentinas listadas nos Estados Unidos subiram até 40%, puxadas pela empresa petrolífera YPF, que Milei confirmou querer privatizar. A dívida soberana também se recuperou com o otimismo em relação ao novo presidente da terceira maior economia da América Latina, atrás de Brasil e México. O país hoje sofre com uma inflação de 143%, uma recessão iminente e o aumento da pobreza.
“A agenda de Milei cria ilusão, há uma visão positiva, embora haja problemas muito difíceis de resolver”, diz o analista Marcelo Elizondo. “Os mercados externos endossam o fato de que houve a derrota de uma força [política] que levou ao caos econômico”, acrescenta, referindo-se ao peronismo que impulsionou o candidato Massa.
Analistas do Morgan Stanley previram um ajuste de pelo menos 80% na taxa de câmbio oficial da Argentina em dezembro, após o resultado presidencial nas urnas.
O banco acrescentou que o país provavelmente negociará um novo programa de empréstimo com o Fundo Monetário Internacional “com relativa rapidez” para evitar atrasos com o FMI, com quem tem um programa de empréstimo de 44 bilhões de dólares.
“O presidente eleito terá de dissipar as várias fontes de incerteza que afetam os argentinos. Ele terá de vestir o uniforme de um líder desde o momento zero”, disse Pablo Besmedrisnik, diretor e economista da Invenómica.
JÚLIA BARBON / Folhapress