Bolsa cai 1% e dólar bate R$ 5,14 após Copom dividido sobre Selic

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou em queda de 1,00%, a 128.188,38 pontos, com investidores repercutindo balanços corporativos e a decisão dividida pela desaceleração do ritmo de corte da taxa Selic.

Já o dólar avançou 1,03%, atingindo R$ 5,143 na venda.

O Banco Central decidiu cortar a Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,50% ao ano, interrompendo uma sequência de seis reduções seguidas de 0,50 ponto percentual e abandonando a indicação sobre o futuro dos juros básicos.

O corte, porém, levantou preocupações sobre mudanças no perfil do colegiado, com o Copom (Comitê de Política Monetária) também destacando em seu comunicado cenários internacional e doméstico incertos.

Segundo participantes do mercado, o que mais pesou foi a divisão na decisão, que, para muitos, revela viés político na autarquia.

De acordo com o comunicado do Copom, a redução de 0,25 ponto foi apoiada pelo presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes. Indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira votaram por corte maior, de 0,50 ponto percentual.

Pesa ainda a decisão de Galípolo, antes número 2 de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e hoje apontado como o favorito para ser o próximo presidente do BC. No final deste ano, Lula deverá indicar um novo presidente e mais dois diretores, conforme os mandatos de Campos Neto, Carolina Barros e Otávio Damaso se aproximam do fim.

Com Galípolo de um lado e Campos Neto de outro, a análise é que a votação pode ter sinalizado “como será a política monetária do próximo mandato”, avalia José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.

Para Alfredo Menezes, sócio da gestora Armor Capital, o fato de todos os indicados pelo governo terem votado por maior flexibilização monetária ainda “pode passar uma percepção de que o novo BC em janeiro será muito influenciado pelo Poder Executivo”.

A percepção de que o BC pode se tornar mais leniente com a inflação a partir de 2025, quando os dirigentes indicados por Lula se tornarem maioria na autarquia, fez as taxas de juros de longo prazo dispararem na tarde desta quinta.

A taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 foi para 10,265%, ante 10,221% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 chegou a 10,49%, ante 10,473% do ajuste anterior.

Já a taxa para janeiro de 2027 bateu 10,88%, ante 10,809%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 marcou 11,205%, ante 11,094%. O contrato para janeiro de 2031 ficou em 11,68%, ante 11,511%.

“Na ponta curta, quem controla e quem dita é o BC. E se o mercado entende ou teme que o BC irá, de alguma forma, utilizar uma taxa de juros que não será sustentável para perseguir seu mandato, realmente ele vai demandar mais prêmios para as taxas mais longas. É a dinâmica que está acontecendo hoje”, comentou Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.

“A divisão no Copom de alguma forma pegou os investidores com alguma surpresa e abriu margem para interpretações negativas quanto a desdobramentos de possíveis cenários à frente.”

Apesar da divisão na votação, o Copom diz que, de forma unânime, avalia que o cenário global incerto, o cenário doméstico marcado por uma atividade econômica mais forte que a esperada e as expectativas de inflação acima da meta demandam maior cautela.

Sobre os próximos passos, o Copom diz que “a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Acrescenta, ainda, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de queda da inflação, mas também “a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

O comunicado teve um tom “hawkish”, avalia Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital. A palavra é derivada de “hawk”, ou “falcão”, em inglês, e significa um comportamento agressivo, de ataque.

“Além disso, comentam sobre a necessidade de maior cautela, já que o ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada sobre o início da flexibilização de política monetária nos EUA.”

Na cena corporativa, boa parte dos papéis fechou no negativo, com uma nova bateria de balanços corporativos também de pano de fundo. Vale e Petrobras, as empresas de maior peso no Ibovespa, avançaram, o que conteve parte da pressão sobre o índice.

A mineradora avançou 0,81%, enquanto os papéis preferenciais e ordinários da petroleira subiram, respectivamente, 0,97% e 1,76%.

Rede D’Or subiu 2,54%, após anunciar que irá se unir a Bradesco Seguros para criar uma nova empresa de hospitais.

Entre as maiores quedas, 3R Petroleum perdeu 6,67%, após o Goldman Sachs manter a recomendação neutra sobre os papéis da petroleira, mesmo tendo ela apresentado um Ebitda maior que o esperado no primeiro trimestre.

As ações das Lojas Renner vieram em seguida, com perdas de 6,47%. A varejista de moda divulgou lucro líquido acima do esperado, mas fez a ressalva de que o forte calor dos últimos meses e as enchentes no Rio Grande do Sul podem prejudicar as vendas neste trimestre.

A alta dos juros futuros também afetou a varejista, assim com outras empresas do setor, como Arezzo, que perdeu 4,29%.

Ultrapar recuou 6,34%, apesar de ter avançado 64,6% no lucro anual líquido -um resultado que veio abaixo do esperado, de acordo com análise do Citi.

Na quarta-feira, o dólar fechou em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,090, interrompendo a sequência de sessões estáveis iniciada na segunda-feira.

O Ibovespa avançou 0,19%, a 129.454,94 pontos, em pregão que demonstrou cautela dos investidores quanto ao tamanho do corte da Selic.

Redação / Folhapress

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