SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mercado financeiro iniciou a semana em aversão a risco nesta segunda-feira (4). Os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os chamados treasuries, voltaram a subir e derrubaram as principais Bolsas globais.
O Ibovespa terminou a sessão em queda de 1,07%, a 126.803 pontos. O dólar fechou em alta de 1,38%, a R$ 4,9478. Na sexta (1º), a moeda americana terminou o pregão cotada a R$ 4,88.
Em Wall Street, os principais índices acionários também fecharam em queda. O S&P 500 caiu 0,54% e o Dow Jones, 0,11%. O Nasdaq recuou 0,84%.
O viés negativo no mercado de renda variável global reflete a alta dos rendimentos dos treasuries. O rendimento do título de dez anos do governo dos EUA subiu de 4,22% no pregão anterior o menor patamar em três meses para 4,28% nesta segunda. O título de dois anos foi de 4,56% para 4,64%
Na semana passada, o dólar teve sua terceira semana seguida de queda, em linha com ao recuo nas taxas de juro americanas, uma vez que vêm crescendo as apostas de que o Fed (Banco Central dos EUA) teria encerrado seu ciclo de aperto monetário, podendo começar a cortar os juros no primeiro semestre do ano que vem.
Buscando balizar essas expectativas, investidores voltarão suas atenções para o Jolts e o payroll, relatórios do mercado de trabalho americano que serão divulgados na terça (5) e na sexta (8), respectivamente. Dados fracos tendem a reforçar apostas num Fed mais brando, mas surpresas para cima provavelmente reverteriam o recente otimismo do mercado global, podendo elevar a demanda pela segurança do dólar.
“A questão agora é se a queda das taxas e do dólar foram excessivas. Informações cruciais sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos nesta semana devem ajudar tanto os mercados quanto o Federal Reserve a responder a essa pergunta”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.
Por enquanto, a economia americana vai dando sinais de desaceleração. As novas encomendas de produtos fabricados nos EUA caíram mais do que o esperado em outubro, na maior queda mensal em três anos e meio, diante do enfraquecimento da demanda por bens duráveis e equipamentos de transportes.
Os pedidos caíram 3,6% após queda de 2,3% em setembro, em dado revisado para baixo, informou o Departamento de Comércio nesta segunda, a maior queda desde abril de 2020. Economistas consultados pela Reuters previam que os pedidos diminuiriam 2,8%. Na comparação com outubro de 2022, as encomendas avançaram 0,5%.
Também colaborava para a alta da divisa americana frente ao real nesta sessão a queda nos preços de commodities importantes, como petróleo e minério de ferro.
O barril de petróleo Brent (referência internacional) caiu 1,08%, a US$ 78,03. O minério de ferro, por sua vez, cedeu 1,14%, a 958 iuanes (US$ 135) a tonelada, na Bolsa chinesa de Dalian, menor valor desde 30 de novembro.
Petrobras e Vale acompanharam. A petroleira 2,13%, a R$ 34,91 cada ação, e a mineradora perdeu 2,25%, a R$ 73,53.
Já as ações da Gol tiveram forte queda de 9,19%, a R$ 8,30 cada uma, após o anúncio da empresa na noite de sexta (1º) de que ela contratou a Seabury Capital uma “ampla revisão” de sua estrutura de capital. Para analistas do Citi, a decisão sugere que a companhia aérea ainda enfrenta desafios financeiros significativos. A Azul acompanhou e se desvalorizou 5,82%.
Além disso, o mercado reflete a estimativa de uma inflação mais alta em 2023 e em 2024, segundo o boletim Focus, e a alta no rendimento dos títulos do Tesouro americano.
Os economistas ouvidos pelo BC (Banco Central) agora esperam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano seja 0,01 ponto percentual maior em relação à semana anterior, a 4,54%. Para 2024, a estimativa também aumentou 0,01 ponto percentual, para 3,92%. Para 2025 e 2026, houve manutenção da inflação em 3,5%.
Preços mais altos podem ameaçar o ciclo de corte da Selic, que está a 12,25% ao ano. Atualmente, a expectativa é que o juro caia a 9,25% ao fim de 2024.
Os juros futuros brasileiros acompanharam os treasuries e o temor a uma inflação mais alta. Após completar na sexta (1º) a quinta sessão consecutiva de baixa, as taxas dos DIs voltaram a subir.
A taxa do DI para janeiro de 2025 foi para 10,33%, ante 10,28% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 fechou em 10%, ante 9,91% na sexta. A taxa para janeiro de 2027 foi de 10,02% para 10,14%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 foi de 10,29% para 10,40%. O contrato para janeiro de 2031 subiu de 10,72% para 10,84%.
Além dos dados americanos, outro ponto de atenção para os investidores é o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no terceiro trimestre, que será divulgado na terça (5) e dados fiscais, com superávit orçamentário e relação dívida/PIB, que serão divulgados na quarta (6).
Redação / Folhapress