SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira registrou mais um dia negativo nesta quarta-feira (2) e fechou em queda de 0,32%, aos 120.858 pontos, puxada por ações de Petrobras, Vale e Cielo, enquanto o mercado aguardava a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a Selic (taxa básica de juros), divulgada após o encerramento das negociações.
Já o dólar subiu tanto no Brasil quanto no exterior, no que operadores atribuíram a um aumento na demanda por segurança, e encerrou o pregão cotado a R$ 4,804, em alta de 0,32%.
O Copom anunciou um corte de 0,50 ponto percentual, num placar de 5 a 4 que incluiu os votos de diretores indicados por Lula Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização) e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Em seu comunicado, o comitê destacou que a melhora do quadro inflacionário e a queda das expectativas de inflação para prazos mais longos deram confiança à decisão de iniciar um ciclo gradual de afrouxamento dos juros.
O colegiado do BC também antecipou que prevê um novo corte de 0,5 ponto percentual no próximo encontro, nos dias 19 e 20 de setembro, e de mesma magnitude nas reuniões seguintes.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, destaca que o colegiado deixou claro que as próximas reduções serão da mesma magnitude e retirou fatores de risco citados em comunicados anteriores, sinalizando uma melhora nos cenários projetados pelo BC.
“O Copom retirou do comunicado a incerteza residual do arcabouço fiscal e o risco de desancoragem maior ou duradoura das expectativas de inflação mais longas, passando a usar o termo ‘reancoragem parcial’. Isso significa que o processo de convergência da inflação avançou significativamente”, diz a economista.
Ela aponta, ainda, que o comitê citou como risco a resiliência da inflação de serviços, mas que a alta de preços do setor já está mostrando desaceleração. A inflação de serviços do IPCA-15 de julho, por exemplo, veio melhor que o esperado pelo mercado, após ter surpreendido negativamente no resultado anterior.
Como riscos baixistas, o Copom cita uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global, que podem se mostrar mais fortes do que o esperado.
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, diz que o corte de 0,50 ponto percentual na Selic veio em linha com a expectativa do banco e tem fundamento num cenário de queda mais acelerada da inflação.
“O mercado pode ajustar no curto prazo, já que as apostas estavam divididas para esse corte, mas a indicação do ritmo de 0,50 ponto para as próximas reuniões está em linha com a expectativa e não deve impactar de maneira significativa a curva de juros”, diz Vitória.
A economista diz que o tamanho total do ciclo de cortes ainda está indefinido, mas que o banco mantém a projeção de 9% para a Selic em 2024, considerando novas quedas de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do comitê.
Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que os indicadores de expectativa de inflação futura já estão dentro dos limites toleráveis para o cumprimento da meta de inflação de 3,25% ao ano para 2023, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
“Não havia outra alternativa além de reduzir em 0,50 ponto percentual”, afirma Agostini, afirmando que a Austin Rating projeta quedas da mesma magnitude até meados de 2024.
Após o anúncio do Copom, as curvas mais curtas de juros mantinham a leve alta registrada ao longo do dia. Os contratos para 2024 saíram de 12,60% para 12,64%, enquanto os para 2025 subiram de 10,64% para 10,67%.
Já os contratos de prazos maiores apresentavam queda: os juros para 2026 caíam de 10,09% para 10,04%, enquanto os para 2027 saíam de 10,15% para 10,08%.
O início da redução de juros deve apoiar empresas da Bolsa brasileira, e as projeções sobre a Selic chegaram a impulsionar o desempenho do Ibovespa em sessões recentes. O pessimismo no exterior, porém, pesou contra a renda variável e ofuscou o otimismo sobre os juros brasileiros na sessão desta quarta.
Além disso, analistas também apontam um movimento de realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem papéis que tiveram alta valorização em pregões recentes para efetivar os ganhos, como um dos fatores que puxam a Bolsa.
As perdas do Ibovespa foram lideradas pela Cielo, que caiu 9,14% após a divulgação de seu balanço corporativo do segundo trimestre. A companhia registrou alta de 11,5% no lucro, mas analistas do Itaú BBA consideraram o resultado do período fraco e disseram que os números aumentam preocupações sobre a empresa.
Aprofundaram a queda do índice as ações da Vale, que recuaram 1,56%, e da Petrobras, com perda de 0,19%, ambas impactadas pelo declínio das commodities no exterior.
Nos Estados Unidos, os principais índices de ações operaram em baixa ao longo de todo o pregão, também afetados pelo rebaixamento da Fitch. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq caíram 1,38%, 0,98% e 2,17%, respectivamente.
A agência de classificação de risco anunciou na terça que rebaixou a nota de crédito de longo prazo dos EUA de AAA para AA+, citando uma esperada deterioração fiscal nos próximos três anos, bem como uma alta e crescente carga geral da dívida do governo.
O rebaixamento chega na esteira de um acordo sobre o teto da dívida do país realizado em junho, que veio depois de meses de negociações políticas difíceis. O teto de dívida foi elevado de US$ 31,4 trilhões.
“Na visão da Fitch, houve uma deterioração constante nos padrões de governança nos últimos 20 anos, inclusive em questões fiscais e de dívida, apesar do acordo bipartidário de junho para suspender o limite da dívida até janeiro de 2025”, disse a agência de recomendação em comunicado.
O dólar, porém, mostrava força na sessão desta quarta, especialmente após dados que mostraram um aumento maior do que o esperado na criação de vagas no setor privado do país em julho. Embora a nota de crédito dos EUA tenha sido rebaixada, a moeda norte-americana segue sendo um ativo considerado extremamente seguro.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, subiu 0,33%.
No Brasil, a divisa americana chegou a atingir os R$ 4,82 na máxima do dia, mas desacelerou os ganhos e fechou na casa dos R$ 4,80.
Redação / Folhapress