Bolsa encerra trimestre com queda de 4,5%; dólar volta a superar os R$ 5

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo registrando fraqueza na abertura, a Bolsa brasileira rapidamente reverteu as perdas e garantiu alta nesta quinta-feira (28), impulsionada por avanços de Petrobras e Prio, que ficaram entre as mais negociadas da sessão. Com isso, o Ibovespa terminou o dia com avanço de 0,32%, aos 128.106 pontos.

Apesar da alta desta quinta, o saldo trimestral para o principal índice da Bolsa brasileira é negativo. Entre janeiro e março, o Ibovespa acumulou queda de 4,5%, num período marcado por saída de recursos de estrangeiros, em meio a dúvidas sobre o início do ciclo de afrouxamento de juros nos Estados Unidos, e pela ausência de catalisadores no mercado local.

“O cenário macro está fraco, sem grandes gatilhos relevantes no radar. Por isso, a liquidez da Bolsa está reduzida, estamos tendo saída de fluxo estrangeiro. Tudo isso tem afetado, e de maneira geral, a dinâmica micro está mandando. Empresas com bons resultados estão com performance melhor, e as com maus números, pior”, diz Felipe Moura, analista da Finacap.

Na sessão desta sexta, a maior alta do dia foi da Marfrig, que disparou mais de 10% após a divulgação de seu balanço financeiro do quarto trimestre de 2023. A empresa reverteu prejuízos e teve lucro de R$ 11,8 milhões no período. Avanços de Ambev, Vale e Banco do Brasil também auxiliaram o Ibovespa.

No câmbio, o dólar operou em alta desde o início do dia, ainda pressionado por incertezas sobre o início do corte de juros pelo Fed (banco central americano). A moeda americana fechou a sessão com avanço de 0,68%, cotado a R$ 5,014, e acumula alta de 3,33% no trimestre.

Investidores também repercutiram a divulgação do Relatório de Inflação do Banco central, que melhorou sua previsão para aumento do crédito e para crescimento econômico no ano. A autoridade afirmou, no entanto, que a inflação cheia e a média dos núcleos que medem o aumento de preços subiram para patamares que superam a meta de inflação.

“Essa surpresa de alta se deveu aos segmentos de preços administrados e alimentação no domicílio”, afirmou o BC, destacando que houve surpresa para cima no componente subjacente (que exclui itens voláteis) do segmento de serviços.

Nos Estados Unidos, houve a divulgação de dados de inflação e emprego que vieram em linha com o esperado. O resultado do PIB (Produto Interno Bruto), no entanto, que também foi divulgado pela manhã, surpreendeu para cima: a economia americana cresceu 3,4% no quarto trimestre de 2023, acima das projeções de 3,2%.

A divulgação dos dados vem após o diretor do Fed Christopher Waller afirmar que dados recentes sobre a inflação confirmam que o banco central dos EUA deve adiar o tão esperado corte de taxa de juros.

Nesse cenário, as incertezas sobre o início do afrouxamento monetário americano, que vêm pesando sobre os ativos locais e o dólar, foram reforçadas.

“As dúvidas persistem sobre o momento em que o Fed iniciará o ciclo de queda dos juros. O PIB mais forte joga contra, assim como a fala de Waller. As apostas seguem para junho, mas até lá será necessário observar o dia a dia e os indicadores econômicos”, afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

As negociações do dólar também foram influenciadas pela formação da Ptax, uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Nos mercados futuros, as curvas de juros tiveram alta, acompanhando os rendimentos dos títulos dos EUA após a fala de Waller.

Apesar do cenário de incertezas, a queda na Bolsa brasileira está ligada principalmente a motivos externos, e a conjuntura local continua com sinais favoráveis para investimentos.

A equipe de estratégia de investimentos do Itaú BBA, por exemplo, destaca que a atividade econômica do Brasil se mantém resiliente -e até se mostrando mais forte que o esperado- e a inflação segue em níveis baixos.

“A correção que observamos no início de ano na Bolsa brasileira abre uma boa janela de oportunidade de compra. Além de um cenário internacional benigno, com a expectativa do começo de um ciclo de cortes de juros pelo Fed, que deve servir como um impulso para ativos de risco globais, vemos vários fatores a favor da valorização da Bolsa. Entre eles, o afrouxamento monetário local em curso, o crescimento robusto nos lucros das empresas brasileiras à frente”, dizem os analistas do BBA.

Nesse cenário, o banco decidiu aumentar sua alocação na Bolsa brasileira.

Eles alertam, no entanto, para o cenário fiscal, observando que houve uma deterioração nos resultados, apesar da recente surpresa positiva na arrecadação. Os analistas também são céticos sobre o cumprimento da meta de déficit zero neste ano, projetando que o número deve ficar em 0,7% do PIB.

MARCELO AZEVEDO / Folhapress

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