SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,27% nesta terça-feira (21), a 127.411 pontos, com investidores analisando projeções maiores para a Selic ao final do ano e mantendo a ata da última reunião do Fed (Federal Reserve), prevista para quarta-feira, no radar.
Já o dólar fechou em alta de 0,23%, cotado a R$ 5,116.
O dia foi pautado por especulações em torno da política monetária doméstica e do exterior. Por aqui, o mercado seguiu atento às apostas de uma taxa Selic mais alta do que o previsto ao final de 2024.
Divulgado na manhã de ontem, o Boletim Focus passou a projetar que a taxa básica de juros feche o ano em 10% -um aumento de 0,25 p.p. (ponto percentual) em relação à estimativa anterior, de 9,75%. Essa foi a terceira semana consecutiva em que economistas consultados pelo BC (Banco Central) ajustaram as expectativas para cima.
O movimento segue a esteira de declarações recentes de diretores da autarquia, que, na ata da última reunião, concordaram em retirar a orientação futura para os próximos encontros, chamado no jargão econômico de “forward guidance”, diante de um cenário de maior incerteza na economia brasileira e global.
No encontro do início de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) optou por reduzir a Selic em 0,25 p.p., após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto. O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ainda disse em entrevista na semana passada que não pode antecipar novas reduções, sob o argumento de que a autarquia precisa “de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar”.
O relatório Focus levou até à possibilidade de o BC voltar a elevar a taxa Selic, o que “puxaria nosso diferencial de juros e favoreceria fortemente o real”, avalia Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Além disso, foi destaque o recorde da arrecadação federal em abril, a R$ 228,8 bilhões -alta de 8,26% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Receita Federal. É o quinto mês consecutivo que a arrecadação bate recorde.
No acumulado de janeiro a abril, a quantia obtida pelo governo teve alta real de 8,33%, a R$ 886,6 bilhões, também um recorde na série para o primeiro quadrimestre.
O mercado também se atentou ao calendário: nesta quarta-feira, está esperada a publicação da ata da última reunião de política monetária do Fed, que optou por manter os juros inalterados na faixa de 5,25% a 5,50% no encontro de maio.
A expectativa é que, no documento, as autoridades do banco central norte-americano comecem a dar mais pistas sobre a trajetória da taxa básica de juros do país, referência para os mercados globais.
Na decisão mais recente, a autarquia sinalizou que ainda está inclinada a eventuais cortes, mas avaliou que as leituras de inflação até aquele momento eram decepcionantes.
Desde então, em falas separadas na última semana, dirigentes demonstraram cautela com a inflação. Eles reconheceram uma virada positiva depois que números mostraram que os preços ao consumidor nos EUA subiram menos que o esperado em abril, mas a desaceleração não foi o suficiente para que começassem a antever um corte concreto nas próximas reuniões.
O clima externo, porém, é de otimismo: os investidores preveem uma probabilidade de quase 65% de que o Fed reduzirá os juros em pelo menos 0,25 ponto percentual em setembro, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
Em geral, quanto mais o Federal Reserve cortar os juros e menos o BC afrouxar a Selic, melhor para o real. Isso porque, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e EUA, mais interessante fica a moeda doméstica para uso em estratégias de “carry trade”, em que investidores tomam empréstimo em país de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercado mais rentável.
O cenário levou à queda dos Treasuries -os títulos do Tesouro norte-americano-, que, por sua vez, reduziram as curvas de juros futuros do Brasil após três sessões de alta, ainda que o cenário de incerteza para a Selic tenha se imposto.
“Alguns investidores aproveitaram a abertura da curva que tivemos na semana passada e realizaram alguma coisa”, comentou João Ferreira, sócio da One Investimentos, ao justificar a baixa das taxas dos DIs nesta terça-feira. “O mercado também acompanha um pouco o exterior.”
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,355%, ante 10,375% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,655%, ante 10,696% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2027 estava em 11%, ante 11,058%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,29%, ante 11,347%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,68%, ante 11,753%.
Na cena corporativa, o destaque positivo foi a YDUQS, que saltou 10,22%, tendo no radar previsão de lucro líquido ajustado por ação entre R$ 1,6 e R$ 1,9 em 2024, segundo fato relevante ao mercado.
A companhia também projetou que, em 2025, o resultado líquido ajustado será de entre R$ 2 e R$ 3 por ação, enquanto a previsão para o ano seguinte é de entre R$ 2,5 e R$ 3,5.
Vale caiu 0,29%, apesar da nova alta dos futuros do minério de ferro na China. Petrobras também recuou: os preferenciais perderam 0,19%; os ordinários, 0,75%.
Destaque negativo foi a Suzano, que perdeu 3,72%, após notícias de que a companhia teria discutido a possibilidade de melhorar a oferta de aquisição da International Paper de US$ 15 bilhões.
Lojas Renner recuou 3,95%, tendo de pano de fundo relatório de analistas da XP cortando a recomendação dos papéis para “neutra”, com preço-alvo de R$ 18, diante da avaliação de que o clima e o macro serão obstáculos para o crescimento e expansão de margem da companhia, com o segundo trimestre sendo um potencial gatilho para uma revisão negativa no lucro.
Na segunda-feira, dólar teve leve alta de 0,04%, praticamente em estabilidade, cotado a R$ 5,104 na venda.
Já o Ibovespa, que oscilou entre o sinal negativo e positivo ao longo do dia, recuou 0,31%, a 127.750 pontos.
Redação / Folhapress