SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,33%, cotado a R$ 5,792 na venda, nesta quarta-feira (13), mesmo com o Banco Central despejando US$ 4 bilhões no mercado após dois leilões. Já a Bolsa terminou a sessão do dia em estabilidade, com alta de 0,02%, a 127.733 pontos, segundo dados da plataforma CMA.
Comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim da tarde, sobre o pacote de ajustes fiscais e um plano a longo prazo para as despesas ajudaram a aliviar as cotações. O mercado também monitorou os rumos dos juros americanos.
Segundo informou o Banco Central, o leilão de linha A ocorreu das 12h15 às 12h20, enquanto o leilão de linha B ocorreu das 12h35 às 12h40. Ambas as vendas foram realizadas com base na Ptax das 10h como taxa de câmbio, que marcava R$ 5,743.
Os leilões de linha haviam sido anunciados primeiramente na terça-feira (12), quando o BC afirmou que faria as duas vendas das 10h30 às 10h35 desta quarta.
No entanto, a autarquia anunciou que os leilões haviam sido cancelados devido a “problemas operacionais”, acrescentando que um novo comunicado de leilão seria divulgado quando a questão estivesse resolvida.
Questionado sobre a natureza dos problemas, o BC disse apenas que se tratavam de “problemas na mensageria”.
Cerca de uma hora depois, o BC anunciou novamente os dois leilões de linha, sem mudança nos valores ofertados, mas com a diferença de que ocorreriam em horários diferentes.
O Banco Central não informou ainda o motivo da operação desta quarta-feira.
Tradicionalmente, o BC costuma realizar leilões de linha nos finais de ano, em especial em dezembro, para atender à demanda por moeda para envio ao exterior. No fim do ano passado, porém, a autarquia não realizou leilões de linha, porque não identificou necessidade de ofertas extras.
Ainda na cena doméstica, o mercado se ateve ao possível anúncio de pacote fiscal pelo governo e demonstrou nervosismo com a demora em apresentar os cortes, o que vem influenciando a alta do dólar ante o real.
O ministro Fernando Haddad disse nesta quarta-feira que as medidas de contenção de gastos já estão prontas e que o anúncio depende da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele não quis responder qual será o impacto do pacote nas contas públicas, mas afirmou que o valor é “expressivo”.
“Mais [importante] do que o número, na minha opinião, é o conceito que nós utilizamos para fazer prevalecer essa ideia de que as coisas devem, todas elas, na medida do possível, ir sendo incorporadas a essa visão geral do arcabouço, para que ele seja sustentável no tempo”, disse Haddad.
Aprovado em 2023, o arcabouço fiscal permite que os gastos primários do governo federal cresçam no máximo 2,5% acima da inflação por ano, respeitando um ritmo de até 70% da alta das receitas.
O ministro disse ter discutido nesta quarta linhas gerais das iniciativas com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de debater medidas específicas com o Ministério da Defesa. Segundo ele, o governo está avaliando se consegue incluir mais medidas no pacote a ser enviado ao Congresso Nacional.
De acordo com o ministro, uma nova reunião sobre o tema deve ser feita por Lula ainda nesta quarta. “Mas eu não sei se há tempo hábil [para anunciar]. Se o presidente autorizar, anunciamos, mas o mais importante: assim que ele der autorização, nós estamos prontos para dar publicidade aos detalhes do que já está sendo dito aqui”, afirmou
As discussões sobre o conjunto de medidas para o ajuste fiscal chegaram à terceira semana.
Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, destacou que o mercado segue em compasso de espera quanto às medidas fiscais discutidas pelo governo, especialmente após a inclusão do Ministério da Defesa no pacote de cortes de gastos.
“Fica claro que a falta de clareza sobre a implementação dessas medidas adiciona incerteza e aumenta a cautela entre os investidores”, afirma.
Economistas do Itaú Unibanco calculam que, para que o mercado financeiro tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto pelo governo, são necessários ao menos R$ 60 bilhões em cortes de gastos, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026.
Na agenda econômica internacional, os dados sobre inflação em outubro dos EUA, divulgados nesta quarta, ficaram dentro do esperado.
Os preços ao consumidor nos EUA subiram como esperado em outubro, e o avanço em direção a uma inflação baixa desacelerou desde meados do ano, o que pode limitar cortes nas taxas de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) em 2024.
O índice de preços ao consumidor aumentou 0,2% pelo quarto mês consecutivo, segundo o Departamento do Trabalho. Em 12 meses até outubro, a alta foi de 2,6%, comparado aos 2,4% registrados em setembro.
Economistas consultados pela Reuters previam um aumento de 0,2% no mês e 2,6% no acumulado anual. O resultado reflete a saída de uma base de comparação baixa de 2023.
Keone Kojin, economista da Valor Investimentos, afirmou que os resultados do CPI de outubro no mercado americano saíram “bem em linha com o esperado” e, nesse sentido, o Fed não deve mudar a probabilidade de redução de juros de 0,25%.
“No entanto, o Fed tampouco deve rechaçar ou descartar a possibilidade de, numa próxima reunião, manter esses juros em vez de reduzi-los”, disse.
Kojin afirma que a expectativa de políticas de Donald Trump, caso eleito, podem trazer uma inflação mais elevada ou manter a inflação em patamar alto por mais tempo, algo que será reavaliado em reuniões futuras do Fed.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, aponta que a incerteza sobre o próximo ano, com a possibilidade de um governo mais protecionista nos EUA, pode gerar mais inflação e juros mais altos, o que contribui para a valorização do dólar.
“Adicionalmente, seguimos com a questão fiscal no Brasil. Não temos novidade sobre um pacote fiscal ou cortes de gastos, e hoje surgiu a possibilidade de que o governo espere até depois do encontro do G20, que termina no dia 19 de setembro, para divulgar o plano de cortes”, disse.
A insatisfação com a inflação contribuiu para a vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial, superando a candidata democrata e vice-presidente Kamala Harris.
Analistas projetam inflação mais alta em 2025, caso Trump implemente cortes de impostos e tarifas sobre produtos importados. Suas promessas de deportação de imigrantes podem reduzir a oferta de mão de obra, elevando custos para empresas, que devem repassá-los aos consumidores.
Embora seja esperada uma nova redução na taxa de juros pelo Fed em dezembro, economistas acreditam que o espaço para novos cortes em 2024 é limitado. Os rendimentos dos Treasuries aumentaram, refletindo a expectativa de políticas econômicas republicanas sem oposição no Congresso.
A inflação anual caiu consideravelmente desde o pico de 9,1% em junho de 2022, mas permanece acima da meta de 2% do Fed. Na semana passada, o banco central reduziu sua taxa de referência em 25 pontos percentuais, para a faixa de 4,50%-4,75%.
Excluindo alimentos e energia, o núcleo do índice de preços ao consumidor subiu 0,3% em outubro, repetindo o aumento dos três meses anteriores. Em 12 meses até outubro, o núcleo subiu 3,3%, mesma taxa de setembro.
Redação / Folhapress