SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa de Valores do Japão despencou mais 12% nesta segunda-feira (5), no pior resultado em um dia em 37 anos, em um cenário influenciado principalmente pelos temores de uma recessão nos Estados Unidos.
Em uma queda que se estendeu por outros mercados asiáticos, o índice Nikkei 225 despencou 12,4%, quebrando seu recorde de perdas, que remontava à quebra da Bolsa de outubro de 1987. O índice mais amplo Topix, por sua vez, caiu 12,23%, para 2.227,15 pontos.
O iene teve alta valorização com o dólar caindo 2,99% frente à moeda japonesa, cotada a 142,16 ienes. A divisa do Japão chegou a estar cotada 141,675 durante a sessão. O iene deu um salto de 14% em relação ao dólar nas últimas três semanas, impulsionado em parte pelo aumento de 15 pontos-base na taxa do Banco do Japão na semana passada, para 0,25%
O movimento ocorrido na Bolsa do Japão foi ecoado em outros mercados. O índice de referência Kospi da Coreia do Sul caiu 8,8%. Em Taiwan, o índice Taiex despencou 8,35%, a Bolsa de Singapura desvalorizou 4,07%, enquanto o S&P/ASX australiano teve perda de 2,5%. O Sensex da Índia perdeu 2,6%.
Já na China, as quedas foram menores. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas nas Bolsas do país, caiu 1,21%. Em Xangai, a perda foi de 1,54%.
Os mercados futuros indicaram que o movimento provavelmente se estenderá aos Estados Unidos. Os futuros dos índices de ações dos EUA caíram nesta segunda-feira (os ligados ao Nasdaq despencaram quase 4%).
“O sentimento dos investidores foi afetado por dados de emprego nos EUA inferiores ao esperado em julho, aumentando os receios de que a economia dos EUA desacelerará mais do que o esperado”, explicou a corretora IwaiCosmo Securities.
O “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou que os EUA criaram 114 mil vagas no mês passado, ante expectativa de 175 mil, e a taxa de desemprego cresceu para 4,3%, quando agentes financeiros esperavam manutenção em 4,1%.
Os novos dados acionaram a chamada Regra de Sahm, que vincula o início de uma recessão ao momento em que a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos 0,5 ponto percentual acima da mínima de 12 meses. Em agosto do ano passado, o índice estava em 3,8%, o que coloca a taxa atual exatamente no gatilho.
O payroll vem na esteira da manutenção dos juros na taxa de 5,25% e 5,50% pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) na última quarta-feira. A decisão já era amplamente esperada, mas o comunicado que a sucedeu deu fôlego à tese de que a autarquia poderá iniciar o ciclo de afrouxamento monetário já no próximo encontro, em setembro.
Com os novos números, a tese se tornou uma aposta unânime entre os agentes financeiros. E, se antes a dúvida era sobre a possibilidade de corte, agora a discussão é sobre a magnitude.
Alguns dos grandes bancos de Wall Street, como JPMorgan e Citigroup, revisaram as previsões para o ano, antevendo, agora, um corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião.
“Estou relutante em acreditar que o Fed começaria o processo de flexibilização com um corte de 50 pontos percentuais, mas se as próximas sete semanas forem de dados parecidos com os da semana passada, o Fed deveria ser agressivo”, disse Ronald Temple, estrategista-chefe de mercado da assessoria financeira Lazard
EUROPA
As incertezas quanto à economia americana se refletiram em outras Bolsas mundo afora. O índice pan-europeu STOXX 600 abriu com queda de 3,1%, atingindo o nível mais baixo desde 13 de fevereiro. O valor de referência configurou o pior dia em 2 anos de meio.
Porém, durante a sessão, a performance melhorou e o índice caía 2,5% por volta das 7h. “Não se consegue que o Nikkei caia em seu maior valor em quase 40 anos sem algum tipo de repercussão nos mercados europeus”, disse Chris Beauchamp, analista-chefe de mercado do IG Group.
“Essas coisas não costumam parar em um instante, leva alguns dias para serem resolvidas… mas o pânico inicial parece ter acabado”, avaliou.
O índice Bux, da Bolsa de Valores da Hungria, caiu 2,42% na abertura desta segunda. Em Milão, o índice Ftse/Mib tinha queda de 2,82%, o índice Ibex-35, de Madri, caía 2,42% e a Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, registrava queda de 2,39%.
Já em Paris e Londres, as perdas são um pouco menores com queda de 2,04% e 1,92%, respectivamente.
O receio de que os EUA possam estar a caminhar para uma recessão fez com que os investidores se afastassem dos ativos de risco. Todas as principais bolsas europeias abriram no vermelho.
Ações de energia eram as mais atingidas depois que os preços do petróleo caíam 1%, uma vez que os temores de recessão dos EUA compensaram as preocupações com a oferta no Oriente Médio.
As ações financeiras também eram atingidas. Bancos perdiam 3%, serviços financeiros caíam 2,8%, enquanto o setor de tecnologia recuava 2,1%.
LUIS EDUARDO DE SOUSA / Folhapress