Bolsa sobe e dólar caí, com foco na ata do Copom e no balanço da Petrobras

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira tinha alta nesta terça-feira (14), após a divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), em meio, também, à repercussão do balanço da Petrobras no último trimestre.

Às 12h41, o Ibovespa avançava 0,51%, a 128.814,50 pontos. O dólar, no mesmo horário, recuava 0,27%, cotado a R$ 5,137 na venda.

O mercado aguardava a ata do Comitê para antever os próximos passos da política monetária do país. De acordo com o documento, todos os membros da diretoria defenderam uma postura mais contracionista e cautelosa, apesar da decisão dividida sobre o ritmo de corte da taxa Selic.

A taxa básica de juros do país foi reduzida em 0,25 ponto percentual na reunião da semana passada, indo de 10,75% para 10,50% ao ano. O movimento aconteceu após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto —corte até então sinalizado pelo BC para a reunião de maio pelo chamado “foward guidance”, mas revisto diante de uma conjuntura de maior incerteza no cenário global e doméstico.

Foram cinco votos favoráveis à redução de menor magnitude, contra quatro favoráveis ao de 0,50 ponto. A ala majoritária –que teve o voto do presidente do BC, Roberto Campos Neto, como decisivo para desacelerar o ritmo de queda dos juros– era composta por diretores indicados ou reconduzidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já os outros quatro foram indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a incluir Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária, favorito na disputa para ser o próximo chefe da instituição. O mandato de Campos Neto, assim como o de outros dois diretores, se encerra no final de 2024.

A divisão interna no Copom levantou temores sobre mudanças no perfil do colegiado, possivelmente mais leniente em relação à inflação, e sobre um possível viés político na autarquia a partir de 2025, quando os indicados por Lula formarão uma maioria na diretoria.

A ata, porém, indicou que, apesar da divergência dos quatro diretores, eles compartilharam da percepção de aumento da incerteza e mostraram “firme compromisso” com o atingimento da meta de inflação e a reancoragem das expectativas.

“O Comitê claramente tentou provar que não há discordância sobre a trajetória e sobre a necessidade de ancoragem da política monetária”, ressaltou a equipe da Levante Inside Corp, em relatório enviado a clientes nesta terça.

“O que ocorreu foi um debate sobre a pertinência e os custos de não cumprir o indicado no ‘forward guidance’ da reunião anterior. Se o texto foi convincente ou não, apenas o tempo —e os preços— dirão.”

Na análise dos diretores favoráveis ao corte de 0,50 ponto, a mudança de rota poderia implicar em um “custo reputacional” à instituição.

“Tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do comitê”, disse a ata.

A ala majoritária, porém, ressaltou que a orientação indicada na reunião anterior “sempre foi condicional”.

“Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.”

Em defesa do corte de juros menor, a ala majoritária considerou que houve mudança no cenário esperado em função da piora adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do ambiente internacional mais desfavorável e da força da atividade econômica.

O mercado, em resposta à ata, apresentava maior apetite por risco.

“A ata do Copom veio mais ‘calma’ do que o mercado previu no comunicado da semana passada, […] o que deve acalmar as curvas de juros”, avalia Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos.

“A credibilidade do Banco Central não foi, na minha visão, abalada, e a gente deve ter um ajuste importante em função do estresse que se teve com relação ao comunicado e com o corte de 0,25 ponto. Isso deve impulsionar a Bolsa.”

Na cena corporativa, os papéis da Petrobras tinham forte queda em meio à repercussão do balanço do último trimestre: os preferenciais recuavam 1,49% e os ordinários, 2,20%.

A petroleira registrou lucro de R$ 23,7 bilhões no primeiro trimestre de 2024, queda de 38% em relação ao mesmo período do ano anterior. Pelo resultado, a empresa anunciou o pagamento de R$ 13,4 bilhões em dividendos a seus acionistas.

Foi um trimestre conturbado, tanto do ponto de vista operacional quanto político —a estatal passou parte do período com elevadas defasagens nos preços dos combustíveis e sob ataque de ala do governo contrária a seu presidente, Jean Paul Prates.

A Vale tinha queda de 0,45% em linha com o minério de ferro no exterior.

Em destaque negativo, a Natura apresentava uma queda de 5,8% após o anúncio de prejuízo de R$ 934,9 milhões no primeiro trimestre do ano, uma alta de 43,3% em comparação ao mesmo período de 2023.

Entre as altas, Hapvida liderava com 7,2% —seu maior ganho desde 16 de janeiro. A empresa registrou salto no lucro líquido ajustado para R$ 506,8 milhões, ante R$ 33,1 milhões no mesmo período no ano anterior.

O Itaú tinha alta de 1% após a Itaúsa anunciar um lucro líquido de R$ 3,585 bilhões —38% maior do que no mesmo período do ano passado.

Já a Embraer tinha seu maior ganho em mais de sete semanas, com 5,3%.

Os investidores também têm outro destaque no calendário da semana: a divulgação de dados da inflação ao consumidor dos Estados Unidos na quarta-feira, que podem definir as expectativas para cortes de juros no país.

O núcleo do índice de preços ao consumidor deve ter subido 0,3% em abril sobre o mês anterior e 3,6% na base anual, de acordo com estimativas de economistas consultados pela Reuters.

A semana também trará leituras de preços ao produtor e dados de vendas no varejo dos EUA, bem como falas de dirigentes do Federal Reserve, num momento de grande atenção dos mercados a qualquer pista sobre quando será o primeiro ajuste na política monetária norte-americana.

Atualmente, expectativas implícitas no mercado futuro de juros sugerem que o Fed fará seu primeiro corte em setembro.

Em geral, quanto mais o Federal Reserve cortar os juros e quanto menos o BC afrouxar a política monetária local, melhor para o real. Isso porque, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e EUA, mais interessante fica a moeda doméstica para uso em estratégias de “carry trade”, em que investidores tomam empréstimo em país de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercado mais rentável.

a segunda-feira, o dólar recuou 0,12%, cotado a R$ 5,151 na venda, em sessão volátil para a moeda norte-americana. Já o Ibovespa teve alta de 0,52%, a 128,261,00 pontos, com investidores cautelosos antes da divulgação da ata do Copom.

TAMARA NASSIF E ISABELA ROCHA / Folhapress

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