SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira registrou mais um dia positivo e subiu 0,92% nesta terça-feira (12), fechando aos 117.968 pontos após a divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto, que veio abaixo do esperado pelo mercado.
O dólar também avançou no Brasil e no exterior, com investidores operando com cautela enquanto aguardam dados de inflação dos Estados Unidos, que devem ser divulgados na quarta (13). A moeda americana subiu 0,47%, terminando o dia cotada a R$ 4,954.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta terça que a inflação oficial do Brasil acelerou para 0,23% em agosto, após subir 0,12% em julho. Mesmo com a aceleração, o índice ficou abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,28%.
Com os novos dados, o índice oficial acumulou inflação de 4,61% em 12 meses. Nesse recorte, a alta era menor, de 3,99%, até julho.
O chefe de renda variável da A7 Capital, Andre Fernandes, destaca o resultado dos preços de alimentação no domicílio, que recuaram 1,26%, e a desaceleração da inflação do setor de serviços, que vinha apresentando resiliência, mas recuou para 0,08% em agosto, ante depois do avanço de 0,25% na divulgação anterior.
“O número é positivo para o mercado. Isso pode reforçar as apostas para um corte de 0,75 ponto percentual [na Selic] para a reunião [do Copom] de dezembro. Já para a próxima reunião, o cenário segue inalterado para um corte de 0,50 ponto na Selic”, diz Fernandes.
Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz ter mais cautela sobre os próximos passos dos juros no Brasil.
“Ainda que o setor de serviços tenha se mostrado melhor que o esperado, não apostamos que isso alterará o ritmo do corte de juro, que deverá seguir em 0,50 ponto por reunião”, afirma Sanchez.
A Ativa manteve inalterada sua projeção para o IPCA de 2023 em 5,1%, acima do teto da meta de inflação.
Para Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs, os sinais são positivos para a manutenção dos cortes na Selic, mas ainda há fatores que podem limitar possíveis reduções mais agressivas.
“Um real mais forte, preços mais baixos de alimentos e a moderação da inflação devem apoiar a flexibilização gradual [da Selic]. Contudo, a margem para aceleração no ritmo dos cortes é limitada, num cenário de atividade resiliente, política fiscal expansionista e a inflação de curto prazo ainda acima das expectativas”, afirma Ramos.
O economista também aponta que ainda há risco de inflação maior para alimentos e combustíveis, o que também pode limitar cortes maiores na Selic.
Já Rafael Peres, economista da Suno Research, afirma que os dados endossam um cenário mais benigno para a inflação brasileira e não devem alterar o plano de voo do Banco Central, destacando que o boletim Focus, divulgado pela própria autoridade monetária, continua mostrando estabilidade nas expectativas para a alta de preços.
Mesmo com dúvidas sobre um possível aumento nos cortes, a manutenção do ciclo de afrouxamento da Selic é praticamente consenso no mercado e foi refletida nas curvas de juros futuros. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 caíam de 10,48% para 10,41%, enquanto as para 2027 iam de 10,39% para 10,30%.
A queda nos contratos futuros também apoiaram o Ibovespa, e as maiores altas do dia foram justamente de empresas mais sensíveis às movimentações de juros no país. A líder de ganhos foi a Petz, com avanço de 5,80%, seguida por Assaí (5,32%) e Hapvida (4,50%).
“Essas empresas possuem um grau de alavancagem relativamente alto, e a diminuição dos juros as impacta positivamente. Outras varejistas, como Magazine Luiza, Carrefour e Renner, também subiram justamente com a queda dos juros futuros”, explica Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.
O índice de “small caps”, que reúne empresas menores e mais ligadas à economia doméstica, teve alta de 1,93%.
O principal impulso do dia, porém, veio da Petrobras, segunda maior empresa da Bolsa brasileira. As ações da petroleira tiveram alta de 0,53% e foram as mais negociadas da sessão, beneficiadas pelo forte avanço do preço do barril de petróleo no exterior, que ultrapassou os US$ 92 nesta terça.
Já a Vale, que também ficou entre as mais negociadas do pregão, até começou o dia em alta, mas perdeu força e terminou o dia em queda de 0,25%.
Nos EUA, investidores operaram em cautela enquanto aguardavam a divulgação de dados de inflação do país, em busca de pistas sobre as próximas decisões sobre juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
Para a próxima reunião, que ocorre na semana que vem, a projeção é que o Fed mantenha inalterados os juros do país. O temor do mercado, porém, é sobre possíveis altas ainda neste ano, aposta que ganhou força após a recente subida dos preços do petróleo e dados econômicos fortes nos EUA.
Nesse cenário, o dólar registrou alta no Brasil e no exterior. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, subiu 0,15% nesta terça.
Já os índices acionários dos Estados Unidos operaram em baixa pressionados pelas ações da Oracle, que afundaram mais de 13% após a empresa ter previsto uma receita abaixo das metas para o terceiro trimestre.
A Apple também foi um dos destaques negativos de Wall Street nesta terça, registrando queda de 2,22% em dia de apresentação de seu novo iPhone 15.
Os ativos de risco americanos também foram puxados pela alta do petróleo, que elevou temores sobre um possível novo aumento da inflação e, consequentemente, a necessidade de novas altas de juros no país.
Com isso, o S&P 500 caiu 0,57%, enquanto o Nasdaq recuou 1,04%. Já o Dow Jones terminou o dia estável.
MARCELO AZEVEDO / Folhapress