SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira tinha forte alta e o dólar caía na manhã desta sexta-feira (1°) após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre de 2023, que superou as expectativas do mercado.
O mercado externo favorável ao risco também apoia os negócios no Brasil. Dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos corroboraram apostas de uma pausa nos juros, enquanto na China a atividade industrial veio maior que o esperado e novas medidas de estímulo foram anunciadas, levando otimismo aos mercados.
Às 11h40, o Ibovespa subia 1,64%, aos 117.640 pontos, enquanto o dólar caía 0,32%, cotado a R$ 4,933.
Nesta manhã, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores.
O número representa uma desaceleração em relação ao crescimento registrado nos três primeiros meses do ano, quando o resultado foi puxado por um desempenho do agronegócio acima do esperado.
Mesmo assim, o desempenho foi melhor que o esperado pelo mercado. Segundo a agência Bloomberg, analistas de instituições financeiras e consultorias estimavam avanço de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre e de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Ricardo Faria, sócio da Legend Investimentos, destaca o resultado do consumo das famílias no PIB do segundo trimestre pela ótica da demanda. O item subiu 0,9% de abril a junho frente ao período imediatamente anterior.
“Apesar da política contracionista, o crescimento da economia tem sido sustentado pela renda, não apenas pelos programas de transferência do governo, como também pelo mercado de trabalho, que tem surpreendido favoravelmente”, afirma Faria
O operador de renda variável Gabriel Mota, da Manchester Investimentos, afirma que o resultado do PIB surpreendeu positivamente o mercado. Ele alerta, porém, que o crescimento maior que o esperado pode diminuir chances de um corte maior na Selic (taxa básica de juros) neste ano, que já vem sendo alvo de apostas entre investidores.
“A inflação mais controlada e uma atividade econômica um pouco mais fraca sugeriam uma possível redução mais forte [na Selic], e já previa-se que um corte de 0,75 ponto poderia ser feito. Com o PIB mais forte, dificilmente vamos ver essa aceleração na queda da taxa de juros. É fato que ela vai continuar caindo, mas muito provavelmente ao ritmo de 0,50 ponto”, diz Mota.
Já Dierson Richetti, sócio da GT Capital, afirma que a desaceleração no crescimento da economia pode aumentar a pressão no governo para cortes de gastos.
“Com essa queda no crescimento do PIB, que já era esperada, o mercado ficará atento ao debate fiscal, principalmente aos gastos públicos. O governo não propôs nada sobre cortes na máquina pública, e isso deixa o mercado insatisfeito. Acredito que teremos uma pressão maior nessa linha”, diz Richetti.
No exterior, o clima também é de otimismo, o que impulsiona os ativos locais.
O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou que a taxa de desemprego aumentou em agosto, e os salários tiveram crescimento moderado, o que aponta desaceleração do mercado de trabalho americano e reforça expectativas de que o Fed não deve aumentar as taxas de juros do país em sua próxima reunião.
Na China, o governo intensificou medidas para estimular a economia do país, com os principais bancos do país abrindo caminho para novos cortes de juros e expectativas sobre novas ações, o que diminuiu temores do mercado sobre a desaceleração da China.
Como parte das medidas de apoio, as autoridades chinesas também reduziram o montante de fundos que as instituições precisam manter em reservas cambiais. As medidas animaram os investidores, e analistas disseram que elas devem evitar uma nova desaceleração no setor imobiliário.
Nesse cenário, o Ibovespa operava em forte alta impulsionada pela Vale, que subia 4,10% com as notícias positivas sobre a China e a alta do minério de ferro no exterior. A empresa também é beneficiada por uma elevação da recomendação de compra de suas ações pelo JPMorgan.
A Petrobras também era uma das principais altas, registrando ganho de 0,72% em suas ações preferenciais e de 1,15% nas ordinárias em dia de alta do petróleo no exterior.
No câmbio, o desempenho do dólar ante o real é afetado pelo resultado do PIB.
“Esse resultado é favorável ao fortalecimento do real, porque mostra um dinamismo melhor do que o esperado na economia brasileira, fortalece a confiança dos investidores num bom desempenho dos ativos brasileiros e contribui para a atração de investimentos”, disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da Stonex.
Os dados de emprego dos EUA, porém, fizeram a moeda americana cair em ritmo mais forte.
MARCELO AZEVEDO / Folhapress