Bolsas caem pelo mundo com temor de recessão nos EUA; Japão desaba 12%

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As Bolsas de Valores ao redor do mundo enfrentam fortes perdas nesta segunda-feira (5), em dia embalado por temores de uma recessão nos Estados Unidos.

Dados de emprego mais fracos do que o esperado para o mês de julho, divulgados na manhã de sexta-feira, levantaram hipóteses de que a maior economia do mundo está caminhando para um processo de desaceleração acentuado.

A aversão ao risco surgiu nos mercados acionários logo após a divulgação do “payroll” (folha de pagamento, em inglês), ainda sexta-feira. Nesta segunda, foi a vez de investidores japoneses reagirem aos temores, catalisando uma reação em cadeia sentida por Wall Street, praças europeias e o próprio Ibovespa.

O índice Nikkei 225 despencou 12,4%, quebrando seu recorde de perdas, que remontava à quebra da Bolsa de outubro de 1987. O índice mais amplo Topix, por sua vez, caiu 12,23%, para 2.227,15 pontos.

Em um momento do pregão, a queda nas ações acionou um mecanismo de “disjuntor” —o circuit breaker—, que interrompeu as negociações para permitir que os agentes financeiros digerissem as grandes flutuações.

O Japão ainda tinha como pano de fundo a valorização do iene, após o BoJ, o banco central japonês, subir os juros de forma inesperada na semana passada.

“O rápido movimento do iene está pressionando para baixo as ações japonesas, mas também está levando a uma reversão de um grande carry trade —os investidores se alavancaram tomando empréstimos em ienes para comprar outros ativos, principalmente ações de tecnologia dos Estados Unidos”, disse Kyle Rodda, analista sênior do mercado financeiro da Capital.com em Melbourne, na Austrália.

“Basicamente, estamos vendo uma desalavancagem em massa, já que os investidores vendem ativos para financiar suas perdas.”

O derretimento da Bolsa japonesa criou uma reação em cascata nas demais praças asiáticas, como Coreia do Sul (-8,8%), Taiwan (-8,35%), Singapura (-4,07%) e Índia (-2,6%).

Já na China, as quedas foram menores. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas nas Bolsas do país, caiu 1,21%. Em Xangai, a perda foi de 1,54%.

Na Europa, o índice de referência STOXX 600 caía 2,17% às 13h30 (horário de Brasília).

“Não se consegue que o Nikkei caia em seu maior valor em quase 40 anos sem algum tipo de repercussão nos mercados europeus”, disse Chris Beauchamp, analista-chefe de mercado do IG Group. “Essas coisas não costumam parar em um instante, leva alguns dias para serem resolvidas.”

Já nos Estados Unidos, Wall Street refletia a aversão ao risco de forma generalizada, e Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíam mais de 2% cada.

No Brasil, o dólar tinha forte alta e chegou a tocar R$ 5,86 na máxima da sessão, enquanto o Ibovespa perdia quase 1%.

O receio de que os EUA possam estar a caminhar para uma recessão fez com que os investidores se afastassem dos ativos de risco.

O “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou a criação de 114 mil vagas no mês passado, ante expectativa de 175 mil, e a taxa de desemprego cresceu para 4,3%, quando agentes financeiros esperavam manutenção em 4,1%.

Os novos dados acionaram a chamada Regra de Sahm, que vincula o início de uma recessão ao momento em que a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos 0,5 ponto percentual acima da mínima de 12 meses. Em agosto do ano passado, o índice estava em 3,8%, o que coloca a taxa atual exatamente no gatilho.

Especialistas consultados pela Folha atribuem as quedas mais a um nervosismo e especulações por parte de agentes de mercado do que à possibilidade real de uma recessão na maior economia do mundo.

“Acredito que a reação do mercado hoje é exagerada. O mercado sempre exagera para cima ou para baixo, e eu não enxergo a possibilidade de recessão como certa”, diz Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset.

“O mercado de trabalho e economia como um todo está indo muito bem. O que estamos vendo é o ponto de inflexão no crescimento, ou seja, está crescendo menos. O mercado de trabalho absorveu os empregados apenas em proporção menor do que estava absorvendo, mas ainda está em crescimento. Então considero sim uma reação exagerada em função de uma tentativa de correção nos mercados.”

O payroll vem na esteira da manutenção dos juros na taxa de 5,25% e 5,50% pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) na última quarta-feira. A decisão já era amplamente esperada, mas o comunicado que a sucedeu deu fôlego à tese de que a autarquia poderá iniciar o ciclo de afrouxamento monetário já no próximo encontro, em setembro.

Com os novos números, a tese se tornou uma aposta unânime entre os agentes financeiros. E, se antes a dúvida era sobre a possibilidade de corte, agora a discussão é sobre a magnitude.

Alguns dos grandes bancos de Wall Street, como JPMorgan e Citigroup, revisaram as previsões para o ano, antevendo, agora, um corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião.

“Estou relutante em acreditar que o Fed começaria o processo de flexibilização com um corte de 50 pontos percentuais, mas se as próximas sete semanas forem de dados parecidos com os da semana passada, o Fed deveria ser agressivo”, disse Ronald Temple, estrategista-chefe de mercado da assessoria financeira Lazard

LUIS EDUARDO DE SOUSA E TAMARA NASSIF / Folhapress

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