CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Começa nesta quinta-feira (4) o julgamento de um dos casos mais emblemáticos de violência política durante a disputa pelo Planalto em 2022 -quando Lula (PT) venceu a eleição contra Jair Bolsonaro (PL), no segundo turno do pleito.
O ex-policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, preso por matar o guarda municipal e militante petista Marcelo Arruda em julho de 2022, começa a ser julgado no plenário do Tribunal do Júri de Foz do Iguaçu (PR), a partir das 8h30.
De acordo com o advogado Samir Mattar Assad, Guaranho chegaria a Foz do Iguaçu nesta quarta (3). Ele está preso desde 2022 no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
O julgamento deverá ter reforço policial, seguindo determinação do juiz Hugo Michelini Júnior, presidente do Tribunal do Júri. A expectativa das partes envolvidas no processo é de que o julgamento dure até três dias.
O júri será composto nesta quinta por 7 pessoas entre 35 previamente sorteadas. No primeiro dia, devem ser ouvidas testemunhas de acusação e de defesa.
O crime aconteceu quando Arruda comemorava o seu aniversário de 50 anos com a família e amigos em uma festa temática, com símbolos e imagens do PT e de Lula, então candidato a presidente. Arruda era tesoureiro do diretório municipal do PT.
Guaranho invadiu a festa e atirou contra Arruda, que acabou morrendo. Na ação, o petista reagiu e também efetuou disparos contra seu agressor, que ficou ferido e foi internado. Dias depois, teve prisão preventiva decretada.
Em dezembro daquele ano, Guaranho se tornou réu. O juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu, aceitou o pedido do Ministério Público do Paraná e acolheu a denúncia contra Guaranho sob a acusação de homicídio duplamente qualificado.
Na avaliação da Promotoria, o assassinato aconteceu por motivo fútil e também resultou em “perigo comum”, já que havia outras pessoas na festa que poderiam ter sido atingidas pelos disparos.
Na sua decisão, Arguello apontou que a provável motivação do crime indica uma “personalidade conflituosa, beligerante e intolerante” de Guaranho, que teria invadido a festa de uma pessoa com opinião política diferente da sua “com o aparente fim de antagonizar, confrontar”.
Em março de 2023, já no início do seu terceiro mandato no Planalto, Lula se encontrou em Foz com a família de Arruda, “covardemente assassinado por um ódio que não podemos aceitar”, disse o presidente, na ocasião. “Minha solidariedade a sua companheira, Pâmela Silva, e seus filhos, que carregarão a memória e o orgulho do seu pai”, afirmou o mandatário na ocasião.
O encontro de Lula com a família ocorreu antes da cerimônia de posse do ex-deputado federal Enio Verri (PT) no comando da Itaipu Binacional.
O Escritório Godoy Advocacia, que representa a família de Arruda em assistência à acusação, disse à Folha de S.Paulo nesta quarta que espera “uma sentença de caráter sancionador e também pedagógico, porque a sociedade brasileira não pode admitir que a intolerância e o ódio persistam instigando a conflagração social”.
Para os advogados Daniel Godoy Junior e Andrea Jamur Pacheco Godoy, o caso possui “farto conjunto probatório, testemunhal e de laudos periciais”.
Já o advogado de Guaranho, Samir Mattar Assad, disse em nota que a defesa buscará “a absolvição plena” do réu, que “foi vítima da situação ocasionada pelo descontrole da vítima que o agrediu violentamente após troca de ofensas verbais”.
Ainda segundo o advogado do réu, “não há motivação política no evento”. “Conforme os vídeos e testemunhas do processo, o réu não invadiu a festa atirando, agindo em defesa própria ante a iminência de agressão pela vítima que empunhava arma e não atendeu aos pleitos de baixar sua pistola”, disse ele.
Assad assumiu a defesa do réu no mês passado, depois de o escritório Dalledone e Advogados Associados renunciar ao caso, alegando “inadimplemento contratual”.
Guaranho perdeu o cargo público no último dia 19. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o demitiu no contexto de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado na época do crime, quando Guaranho era servidor da penitenciária federal de Catanduvas (PR).
CATARINA SCORTECCI / Folhapress