Bolsonaro agora chama de ‘sugestões’ as mentiras que propagou sobre as eleições

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira (26) “não ser justo falar em ataque à democracia” para descrever a reunião com embaixadores que é o ponto central da ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode levar a sua inelegibilidade por oito anos.

Na reunião daquele dia, em 2022, Bolsonaro disparou uma série de mentiras sobre o sistema eleitoral.

“É justo cassar os direitos políticos de alguém que reuniu embaixadores? Não é justo falar [que] atacou a democracia. Aperfeiçoamento, buscar colocar camadas de proteção, é bom para a democracia”, disse o ex-presidente.

“Não podemos aceitar passivamente no Brasil que possíveis críticas ou sugestões de aperfeiçoamento do sistema eleitoral seja tido como ataque à democracia”, completou.

O ex-presidente falou com a imprensa após uma reunião com deputados do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo. A sessão de julgamento no TSE será retomada nesta terça (27), com o voto do relator, a partir das 19h.

Bolsonaro afirmou que espera “um julgamento justo”. Questionado sobre possíveis sucessores na direita caso se torne inelegível, ele evitou responder e disse não pensar em cenários de “se”. Ao mesmo tempo, ressaltou ter “conhecimento nacional” que outros não têm.

“Não existe ninguém insubstituível. […] Tem muita gente aqui muito mais competente do que eu, mas não tem o conhecimento nacional que eu tenho, porque obviamente, além de ter 28 anos de Parlamento, 2 de vereador, 15 de Exército brasileiro, eu tive 4 de presidente da República”, disse.

Bolsonaro disse esperar que seu julgamento no TSE siga a jurisprudência anterior, como no julgamento da chapa Dilma-Temer em 2017, e não aceite novas provas —o PDT, autor da ação, incluiu no processo com aval do tribunal a minuta golpista encontrada com o ex-ministro Anderson Torres.

O ex-presidente afirmou que, naquele julgamento, o ministro Gilmar Mendes, que presidia o TSE, “falou naquele momento que a Justiça Eleitoral não podia existir para cassar mandato, muito menos de um presidente”.

Ainda na entrevista, Bolsonaro afirmou que já foi multado em R$ 20 mil por causa da reunião com embaixadores. Ele também agradeceu a campanha de seus apoiadores, que estão divulgando seu Pix para arrecadar verba para pagar suas multas de diversos processos.

Bolsonaro foi recepcionado na garagem da Alesp pelo presidente da Casa, André do Prado (PL), e por outros deputados estaduais e federais, mas logo foi cercado por um grupo de apoiadoras, que tiraram fotos e gritaram “mito”.

Na reunião, os deputados federais e estaduais trataram brevemente com Bolsonaro da eleição municipal em algumas cidades, mas a questão da capital paulista não foi debatida especificamente.

Aquele que seria o candidato bolsonarista, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), foi rifado pelo chefe do PL, Valdemar Costa Neto, que prefere apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Valdemar estava presente na reunião —e Salles, que o criticou duramente nas redes sociais recentemente, não compareceu. Ao ser questionado pela imprensa, Bolsonaro evitou posicionar-se a favor de Nunes. Como mostrou a Folha de S.Paulo, os bolsonaristas resistem a apoiar o emedebista.

“Não quero entrar em detalhes de prefeitura nenhuma, tenho tido conversas com ele [Nunes]. […] Um empresário sugeriu ‘anuncie apoio’ e o que eu respondi a ele naquele momento: vamos ter que tomar muitas tubaínas juntos ainda”, disse Bolsonaro.

Em tom de brincadeira, disse que poderia ser candidato a vereador em São Paulo ou no Rio de Janeiro. “Vamos supor que seja São Paulo, o prefeito eleito, do meu partido ou aliado a nós, vai ficar feliz, porque começa com uma base de 20 [vereadores].”

O ex-presidente disse que o PL, nas eleições municipais de 2024, deve ter bons nomes e fazer boa bancada de vereadores. “A minha esposa também, não posso falar muita coisa né, mas ela tem dado recado muito bom pelo Brasil, tem atraído uma quantidade enorme de mulheres”, afirmou a respeito de Michelle Bolsonaro, que preside o PL Mulher.

Segundo Bolsonaro, os valores do PL são “propriedade privada, liberdade de expressão, legítimo direito à defesa, liberdade de religião, livre mercado e respeito às leis”.

De acordo com o ex-presidente, a reunião com os deputados tratou da reforma tributária. Bolsonaro disse aos parlamentares que ao votar “contra a indicação da esquerda, você acerta sempre”.

Aos jornalistas ele afirmou que não determinou voto do PL contra a reforma e que não decide as posições do partido, mas que deu uma sugestão. Um deputado presente no encontro afirmou que a bancada foi orientada a votar contra.

Ele falou especificamente contra o imposto seletivo. “É um tal de imposto seletivo, que os doutores de esquerda resolveram, para o bem da população brasileira e para o bem da humanidade, cobrar imposto de tudo que, segundo a cabeça deles, faz mal para a saúde e para o planeta”, afirmou ironicamente.

Bolsonaro disse que conversou com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre a reforma e que seu aliado demonstrou preocupação de que, “se for aprovada como está, tira capacidade de investimentos de São Paulo”.

O ex-presidente afirmou temer ainda taxações no MEI (Microempreendedor Individual) e no setor da agropecuária, que, segundo ele, está agravado pelas questões indígenas. “Há 40 dias, seis reservas foram homologadas, uma delas de 31 mil hectares para poucas dezenas de irmãos nossos indígenas.”

A ação contra Bolsonaro no TSE começou a ser analisada na quinta-feira (22) e a perspectiva é de que o julgamento só se encerre na próxima quinta (29).

O julgamento foi suspenso após a leitura do relatório do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, e as manifestações dos advogados do PDT, autor da ação, e do ex-mandatário.

O conteúdo e as circunstâncias da reunião com embaixadores realizada pelo então presidente no ano passado está no centro da ação eleitoral que começou a ser julgada pela Justiça Eleitoral.

Na ocasião, a menos de três meses do primeiro turno, Bolsonaro fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral. Ele também buscou desacreditar ministros do TSE.

De acordo com a atual legislação, caso condenado, ele estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos, ficando afastado portanto de três eleições até lá (sendo uma delas a nacional de 2026).

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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