SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Enquanto reforça um discurso linha-dura na segurança pública de olho nas eleições de 2026, o PL buscou dar protagonismo a policiais militares, delegados, militares do Exército e até guardas municipais na formação das chapas que vão concorrer às prefeituras neste ano.
O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro indicou nomes ligados às forças de segurança para concorrer a prefeito ou de vice-prefeito nas eleições pelas prefeituras de dez capitais brasileiras.
Dentre os 14 candidatos a prefeito do partido, 4 são policiais. Em outras sete capitais, nomes do PL ligados às forças de segurança devem ocupar o posto de vice. Na maioria dos casos, a escolha teve interferência direta de Bolsonaro.
Mesmo sendo responsabilidade dos governos estaduais, segundo a Constituição, a segurança pública está no centro da preocupação dos brasileiros e deve ganhar tração no debate eleitoral dos municípios.
O bolsonarismo pretende atacar este flanco nas grandes cidades, tendo São Paulo como vitrine. O coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL) foi indicado para vice do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição.
O ex-Rota foi escolhido por Bolsonaro, que se manteve irredutível na indicação a despeito da resistência do prefeito. A candidatura foi endossada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que também é militar da reserva.
“É uma pessoa que tem identidade com um tema muito caro para a cidade de São Paulo hoje, que é o tema da segurança”, afirmou o governador em junho após a definição do vice.
O padrão se repetiu nas semanas seguintes em capitais onde o PL indicará o vice. Em Porto Alegre, a escolhida para compor a chapa com o prefeito Sebastião Melo (MDB) foi a tenente-coronel do Exército Betina Worm.
O nome foi apresentado na convenção do PL, realizada no dia 26 com a presença de Bolsonaro. Com uma trajetória de 35 anos nas Forças Armadas, ela nunca disputou cargos eletivos. Foi indicada para disputa por outro militar, o deputado federal Coronel Luciano Zucco.
Em Florianópolis, a vereadora Maryanne Mattos (PL) foi referendada em convenção no dia 27 como vice na chapa do prefeito Topazio Neto (PSD), que vai concorrer a um novo mandato.
Maryanne é guarda municipal desde 2004, foi primeira mulher comandar a corporação e também foi secretária municipal de Segurança Pública na gestão do então prefeito Gean Loureiro (União Brasil).
Rompeu com o prefeito em 2019 e foi para a oposição, elegendo-se vereadora pelo PL no ano seguinte. Na Câmara, ganhou notoriedade ao propor um projeto de lei que institui o “Dia do Batman”, destacando o personagem como um símbolo do combate à criminalidade.
Com a renúncia de Loureiro para concorrer ao Governo de Santa Catarina em 2022, aproximou-se de seu sucessor, Topazio Neto. Sua indicação ao posto de vice aprofunda a digital bolsonarista da chapa do prefeito, hoje próximo do governador Jorginho Mello (PL).
Na reta final do prazo final as convenções, que se encerra nesta segunda-feira (5), Bolsonaro se movimentou para emplacar outros candidatos ligados às forças de segurança.
Foi o caso de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, onde o PL se aliou o PSDB com o aval dele, em um movimento que implodiu a aliança do partido com o PP da senadora Tereza Cristina.
O PL endossou a candidatura a prefeito do deputado Beto Pereira (PSDB) e indicou como vice a Coronel Neidy (PL), que foi subcomandante-geral da Polícia Militar e primeira mulher a chegar ao coronelato no estado. A escolha foi selada na terça-feira (30), em Brasília, em uma reunião com Bolsonaro.
Apesar de nunca ter ocupado cargos eletivos, Neidy não é exatamente uma novata na política. Em 2022, ela foi candidata a deputada federal pelo PSDB, mas teve 10,9 mil votos e ficou como quarta suplente do partido.
Outra articulação com a digital de Bolsonaro foi selada na quinta-feira (1º) em Boa Vista, capital de Roraima. O PL decidiu apoiar a reeleição do prefeito Arthur Henrique (MDB), aliado do ex-senador Romero Jucá (MDB), movimento que colocou o ex-presidente em campo oposto ao do governador Antonio Denarium (PP).
O vice na chapa será o tenente-coronel do Exército Marcelo Zeitoune, militar que atuou em Roraima entre 2010 e 2012 e entre 2015 e 2016, estava em Brasília e retornou a Roraima em 2023. Em nota, a coligação destacou que o candidato e sua família têm moradia fixa em Boa Vista.
Na capital federal, ele foi médico da Coordenação de Saúde da Presidência da República, chegou a assinar relatórios médicos de Bolsonaro durante a pandemia e foi um dos assessores que o acompanharam na viagem para os Estados Unidos em dezembro de 2022, nas vésperas da posse de Lula (PT).
Na sexta-feira (2) foi a vez do deputado estadual Bruno Engler (PL) confirmar sua candidatura em Belo Horizonte e indicar como vice a coronel Claudia Romualdo (PL), que foi comandante da PM em Minas Gerais.
Entre os 14 candidatos a prefeito do PL nas capitais, 2 são delegados e 2 são PMs. O principal nome da lista e quadro mais próximo a Bolsonaro é o deputado federal Alexandre Ramagem, escolhido para desafiar o prefeito Eduardo Paes (PSD), que tenta a reeleição no Rio de Janeiro .
Ramagem é investigado pela Polícia Federal, que apura uma suposta estrutura de monitoramento ilegal na Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no período em que era ex-diretor da agência. Segundo as investigações, o órgão federal espionou desafetos políticos, magistrados e jornalistas.
Em Belém, o nome escolhido pelo PL para a disputa é o do deputado federal Éder Mauro, delegado da Polícia Civil que tem a segurança como uma de suas principais bandeiras. Em entrevistas e discursos no Congresso, afirma ter matado “muita gente” quando delegado da polícia paraense.
Dois capitães da Polícia Militar também vão para as urnas com o apoio do ex-presidente. O deputado Capitão Alberto Neto (PL) vai concorrer à em Manaus com aval de Bolsonaro, que optou por manter o aliado na disputa em detrimento de uma antiga aliança com o governador Wilson Lima (União Brasil).
Em Vitória, no Espírito Santo, o candidato à prefeitura será o deputado estadual Capitão Assumção (PL), que escolheu a também policial militar Mayra Marcarini para vice.
Assumção é investigado no STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de participação em atos antidemocráticos e chegou a ser preso em fevereiro após o descumprimento de medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes.
Em outras duas capitais, os candidatos a prefeito do PL escolheram policiais filiados a outros partidos para compor como vice.
Em Goiânia, Fred Rodrigues (PL) terá como companheiro de chapa o delegado Humberto Teófilo (DC). Já em Cuiabá, o deputado Abílio Brunini terá como colega de chapa a coronel da PM Vânia Rosa, filiada ao Novo.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress