RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Líder do grupo político envolvido na suposta falsificação de certificados de vacina de Covid-19 para Jair Bolsonaro (PL), o secretário estadual Washington Reis (MDB) se tornou nas últimas semanas uma opção cogitada pelo ex-presidente para disputar a sucessão do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), em 2026.
O nome de Reis tem sido apontado como uma solução que atende a dois desejos do ex-presidente: um aliado próximo e integrante de partido atualmente na base do presidente Lula.
A sugestão do nome foi feita de forma pública pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) durante confraternização promovida pelo deputado Altineu Côrtes (PL-RJ) em São Gonçalo (RJ) no início do mês. O ex-presidente estava presente e aquiesceu com a proposta.
Contudo, assim como Bolsonaro, o secretário de Transportes da gestão Castro está inelegível. Ele foi condenado no STF (Supremo Tribunal Federal) por crime ambiental ao fazer um loteamento clandestino em Duque de Caxias.
A condenação o impediu de ser vice de Castro. Ele chegou a ser registrado com o governador na chapa de 2022, mas teve a candidatura indeferida em razão do caso.
Reis, porém, diz que tem meios jurídicos para derrubar o impeditivo. Ele afirma que não tentou um efeito suspensivo para manter seu nome na chapa para não atrapalhar Castro.
“Fui prefeito reeleito no primeiro turno e tinha o mesmo processo. Entrei com efeito suspensivo, ganhei e assumi a prefeitura. Mas, naquele momento [em 2022], abri mão para o [atual vice-governador Thiago] Pampolha para não atrapalhar o governador. Eu era um colaborador, não estava ali para atrapalhar. Pedi a substituição para a chapa não ficar sangrando, com desgaste de imagem e dúvida”, disse Reis.
Sobre a possibilidade de vir a ser candidato com apoio de Bolsonaro, ele minimiza as referências dos aliados, mas se diz preparado.
“Tenho 32 anos de vida pública, 10 mandatos e fui o político que mais realizou no Rio de Janeiro. Sou a pessoa com a maior credibilidade. Estou pronto e com capacidade para qualquer cargo deste país. Se eu assumir o Palácio do Planalto hoje, mudo o Brasil num cavalinho de pau. […] A gente sempre fica feliz quando temos o reconhecimento dos amigos de política, de outros partidos, reconhecendo nosso nome com credibilidade”, disse Reis.
O emedebista surge como mais uma das alternativas buscadas por bolsonaristas para a sucessão de Castro, aliado de Bolsonaro que sofre com impopularidade no estado. Apoiadores do ex-presidente afirmam não ter um nome claro para a disputa.
Reis aparece como uma opção ao presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), que vem buscando se aproximar da família Bolsonaro. O deputado tem protagonizado embates públicos com o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), visto como provável candidato da base do presidente Lula ao Palácio Guanabara.
Em favor do secretário, pesa o fato de ser um nome com muitos anos na política fluminense, o que é visto como um ativo para atrair para a coligação bolsonarista aliados da região metropolitana e do interior. Apesar da ascensão meteórica de Bacellar nos últimos anos, ele ainda precisa conquistar a confiança do ex-presidente e seu entorno.
Outro ponto a favor de Reis é a estreita relação com Bolsonaro, sempre um foco de tensão para as escolhas de candidaturas no Rio de Janeiro, colégio eleitoral do ex-presidente.
O secretário é irmão do deputado federal Gutemberg Reis (MDB), indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de ter intermediado a fraude para emissão de certificado de vacina contra Covid-19 para Bolsonaro. O crime ocorreu, segundo a investigação, por meio da Prefeitura de Duque de Caxias, dominada há anos pela família Reis.
Washington Reis não foi alvo da operação, mas era o prefeito à época dos fatos sob investigação. Durante a pandemia de Covid-19, o município se tornou uma espécie de “capital do negacionismo” no Rio de Janeiro.
No início da pandemia, o ex-prefeito afirmou que as igrejas evangélicas ficariam abertas porque a cura do novo coronavírus viria de lá. Meses depois, foi internado num hospital particular da zona sul do Rio de Janeiro por complicações da contaminação da Covid-19. Em 2021, foi acusado de exercício ilegal da profissão ao aplicar pessoalmente vacinas em moradores da cidade.
Prefeito por três mandatos em Duque de Caxias, Reis coleciona acusações ao longo de suas gestões. Em 2022, por exemplo, foi denunciado sob acusação de supressão de mata nativa para a construção de um cemitério em Duque de Caxias. De acordo com a denúncia, ele falsificou laudos e tentou tomar a força, com homens armados, o antigo cemitério da cidade.
O secretário também responde a ação penal por suposta fraude em escrituras públicas sobre terrenos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
De acordo com o Ministério Público, ele pagou R$ 150 mil a um tabelião para fraudar escrituras de compra e venda a fim de regularizar a documentação de áreas em que tinha interesse na cidade. O terreno fica próximo a outros de propriedade de sua empresa, a WR Participações, cujo patrimônio composto por imóveis na região é avaliado em R$ 11 milhões.
No último dia 13, Reis foi alvo de uma operação da Polícia Federal sob suspeita de compra de votos. Seu sobrinho, Netinho Reis (MDB), prefeito eleito de Duque de Caxias, tentou esconder o telefone junto a potes de sorvete dentro de um congelador. O celular foi apreendido.
O secretário nega as acusações e afirma que o país se tornou um “denuncismo constante”.
“Esse negócio de acusação é normal na vida. O importante é que não tenho nada transitado e julgado. Estou sempre à disposição para esclarecer qualquer fato, tanto à sociedade quanto à Justiça. A política virou um antro de covardia”, disse o secretário.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress