SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de um primeiro turno ausente, Jair Bolsonaro (PL) estará com Ricardo Nunes (MDB) em um almoço com empresários e políticos nesta terça-feira (22), em uma churrascaria no Morumbi, na zona oeste de São Paulo.
Aliados do ex-presidente afirmam que o evento contará com mais de 400 convidados, além do ex-presidente Michel Temer (MDB), do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Baleia Rossi (MDB), Gilberto Kassab (PSD) e deputados bolsonaristas como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Paulo Bilynskyj (PL-SP).
O almoço é organizado pelo empresário Fauzi Hamuche, da confraria Caves (Confraria de Amigos do Vinho Eduardo Saddi), e os participantes devem pagar R$ 130 para custear a refeição.
Também está previsto que Bolsonaro, Nunes e Tarcísio compareçam a um culto da Igreja Sara Nossa Terra à noite. O ex-presidente vai passar a noite em São Paulo e, na quarta-feira (22), vai a Santos (SP) fazer campanha para Rosana Valle (PL), candidata a prefeita.
Além disso, a ideia é que o ex-mandatário, o prefeito e o governador gravem juntos um podcast para alimentar o conteúdo de campanha, no estilo do que Nunes e Tarcísio fizeram no primeiro turno, com cortes sendo publicados nas redes sociais.
Os temas previstos para a conversa são aqueles que aproximam Nunes e Bolsonaro, envolvidos desde o ano passado numa aliança pragmática.
Eles devem falar sobre o acordo entre prefeitura e governo federal envolvendo o Campo de Marte para extinguir a dívida do município com a União, da gestão do vice Ricardo Mello Araújo (PL) na Ceagesp, de segurança pública e de assuntos conservadores que o emedebista defende, como ser contrário ao aborto e à chamada ideologia de gênero.
Após um ato de campanha na noite desta segunda-feira (21), ao ser questionado sobre o encontro com Bolsonaro, Nunes disse que o presidente o apoiou desde o começo e que era “uma pena” que ele não tenha podido ir a agendas anteriores “porque estava percorrendo o Brasil”.
“Bolsonaro é o maior líder do Brasil da direita. A gente representa o campo do centro e da direita. Acho que ajuda a reforçar e consolidar esse voto da direita. É sempre importante ter todos os apoios. A cidade de São Paulo é isso, e o meu governo é isso e será isso. Um governo para todos. Um governo que vai respeitar muito toda a diversidade”, respondeu.
Nunes afirmou que as agendas com Bolsonaro não devem afugentar seus eleitores petistas –26% de quem votou em Lula (PT) em 2022 agora declaram voto no emedebista.
“Pude conversar com pessoas em Perus, Itaquera. Muita gente mesmo falou ‘olha, eu voltei no Lula, mas foi você que pavimentou a minha rua’. A melhoria chegou para essas pessoas. Então se ele é de direita, se é de esquerda, não está nem preocupado”, disse.
O prefeito afirmou ainda que todos os apoios são úteis, inclusive o de Bolsonaro, mas passou a maior parte do tempo exaltando Tarcísio, a quem comparou com um capitão “que põe o peito na frente” na hora da guerra. Questionado sobre a referência a um capitão ter relação com Bolsonaro, Nunes disse que não havia relação.
O emedebista chamou Tarcísio de “grande líder” e disse que seu caráter é “inigualável”. “Tarcísio foi a grande figura dessas eleições, porque, no momento em que eu caí um pouco na pesquisa, foi onde o Tarcísio mais entrou na campanha. […] A gente vê na política muito, quando você tem alguma adversidade, as pessoas ficam um pouco mais distantes. E foi no momento que eu tive uma adversidade que o Tarcísio mais se aproximou.”
Para o braço direito de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, que organiza a agenda do ex-presidente com o prefeito, o encontro representa “a união da direita para derrotar a esquerda”, ainda que somente às vésperas da votação.
Para ele, a reeleição de Nunes será “uma vitória emblemática da direita”, para a qual o pastor Silas Malafaia terá sido importante, Tarcísio, gigante, e Bolsonaro, decisivo –ele menciona a live na semana anterior ao primeiro turno em que o ex-presidente reforçou o apoio ao prefeito “apesar de ter gente que não gosta”.
Adversário de Nunes, Guilherme Boulos (PSOL) também tem seu padrinho Lula mais presente neste segundo turno, embora as carreatas previstas para sábado (19) tenham sido canceladas por causa da chuva. Em vez disso, o deputado e o presidente fizeram uma live.
A mais recente pesquisa Datafolha mostrou, porém, que 3 em cada 5 eleitores afirmam que o apoio de Lula a Boulos e o de Bolsonaro a Nunes não fazem diferença. Como mostrou a Folha, a nacionalização da disputa na capital paulista, pretendida por Boulos e evitada por Nunes, acabou sendo limitada.
Entre aliados do prefeito, havia dúvidas se a participação de Bolsonaro no segundo turno seria benéfica, diante de sua rejeição perante o eleitorado paulistano e dado o fato de que Nunes, afinal, chegou à segunda etapa da disputa acirrada sem grande ajuda do padrinho, pelo contrário.
Se, no primeiro turno, Bolsonaro poderia ter ajudado a estancar o crescimento de Pablo Marçal (PRTB) entre o eleitorado conservador, neste segundo turno a migração é natural, o que torna a presença do ex-presidente menos relevante.
Segundo o Datafolha, Nunes tem 83% dos votos de quem votou em Bolsonaro em 2022 e 77% dos votos de quem votou em Marçal. Boulos, por exemplo, tem 65% daqueles que votaram em Lula.
Os eventos fechados para o grande público diferem do que inicialmente chegou a ser cogitado na campanha, como visitas de Bolsonaro e Nunes à Ceagesp ou ao Campo de Marte, ou ainda gravações do ex-presidente para o horário eleitoral do prefeito, o que também não ocorreu e nem está previsto.
Bolsonaro não se engajou na campanha de Nunes temendo sofrer represálias de apoiadores que preferiam Marçal ao emedebista. A função de padrinho e cabo eleitoral do prefeito acabou sendo transferida para Tarcísio, que chegou a fechar sua agenda para se dedicar à reeleição do aliado.
A participação do ex-presidente, em comparação, se restringiu à presença na convenção eleitoral, em agosto, e à indicação do vice na chapa, o policial militar bolsonarista Mello Araújo.
A princípio, emedebistas queriam manter certa distância de Bolsonaro, evitando que Boulos conseguisse ligar o prefeito ao radicalismo do ex-presidente. Mas quando Marçal ganhou a preferência da direita conservadora, era preciso que Bolsonaro acenasse para Nunes, o que foi feito apenas de forma protocolar quando o ex-presidente era pressionado por aliados como Tarcísio.
Apesar de ter declarado apoio a Nunes, Bolsonaro chegou a fazer elogios a Marçal e, mesmo antes do fim da votação dia do primeiro turno, anunciou que apoiaria o influenciador contra Boulos. O ex-presidente ainda disse que o prefeito não era o candidato dos sonhos e indicou que as pessoas deveriam votar nele, mas de olhos tapados.
CAROLINA LINHARES / Folhapress