FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – O deputado federal André Fernandes (PL), candidato à Prefeitura de Fortaleza, nega ter escondido Jair Bolsonaro (PL) de sua campanha e relativiza a participação do padrinho político na disputa direta com o petista Evandro Leitão no segundo turno.
Fernandes afirma que o ex-presidente deve ir à capital cearense e atuará “do jeito que ele quiser”, mas ressalta que o candidato é ele e não Bolsonaro.
“Acredito que ele deva sim vir, mas o candidato sou eu. O povo de Fortaleza quer me ouvir, quer me ver e quer entender o que é que eu tenho para melhorar a vida deles. E eu estou aqui para isso”, diz Fernandes em entrevista à reportagem.
O candidato terminou o primeiro turno em primeiro lugar, com 40,2% dos votos, ante 34,3% de Evandro Leitão (PT), que é apoiado pelo presidente Lula (PT).
Na campanha, foi acusado por adversários de esconder o padrinho político em razão da rejeição dele no estado e, na tentativa de atrair um eleitorado mais amplo, buscou moderar seus discursos na TV, afastando a imagem do bolsonarismo mais radical.
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PERGUNTA – O sr. ficou quase seis pontos à frente do segundo colocado. Como enxerga essa votação?
ANDRÉ FERNANDES – O povo entendeu que a nossa candidatura representa a mudança. A gente tem aí um grupo político que há 30 anos governa a nossa cidade, são sempre os mesmos. Do outro lado, nós, eu e o povo de Fortaleza. De um lado, a gente tem uma megacampanha, com uma megaestrutura alinhada com o governo do estado, com o ministro [da Educação] Camilo Santana, com o governo federal. Aqui é apenas nós ao lado do povo, que é o mais importante. O povo entendeu que nós nos tornamos hoje a maior oposição do estado do Ceará.
P – A campanha foi marcada por ataques entre os candidatos. O sr. e o Capitão Wagner (União Brasil) protagonizaram alguns deles. Isso não inviabiliza uma aliança agora?
AF – No último debate, ele pediu desculpas pelos excessos, como cristão. Eu aceitei e também me desculpei por qualquer excesso. Já liguei e conversei com o Capitão Wagner e tenho boas expectativas de que ele venha a nos apoiar. É natural, já o apoiei duas vezes e ele já chegou a declarar que no segundo turno o único palanque em que com certeza ele não estaria seria o do PT. Entendo a importância dele na nossa candidatura, a força dele com os votos que teve. É importante e pode decidir a eleição.
P – O sr avalia ser possível uma aliança com o PDT? Procurou o prefeito José Sarto?
AF – Não procurei o prefeito Sarto, nem tenho o telefone dele. Mas qualquer apoio, qualquer pessoa que queira nos apoiar no segundo turno será bem-vinda. O que eu deixo claro e ressalto é que não irei negociar secretaria, cargo ou espaço dentro da máquina em troca de apoio político, isso não vai acontecer.
P – O sr. foi acusado por adversários de esconder Jair Bolsonaro de sua campanha. O sr. escondeu o ex-presidente?
AF – Não.
P – Por que ele não apareceu nas suas peças publicitárias e o sr. não citou ele nos debates?
AF – Apareceu.
P – O sr. espera que ele atue mais pela campanha agora no segundo turno?
AF – Sim.
P – De que forma?
AF – Do jeito que ele quiser.
P – Falou com ele depois do resultado?
AF – Sim.
P – E como foi a conversa?
AF – Boa. Foi boa.
P – Ele deve vir mais a Fortaleza? Uma participação mais ativa do ex-presidente vai contribuir para a sua campanha?
AF – Acredito que ele deva sim vir, mas o candidato sou eu. O povo de Fortaleza quer me ouvir, quer me ver e quer entender o que é que eu tenho para melhorar a vida deles. E eu estou aqui para isso.
P – O que significaria para 2026 uma derrota para a esquerda em Fortaleza?
AF – Será um marco derrubar o grupo que há 30 anos governa a nossa cidade, de alguém que até pouco tempo eles chamavam de improvável. Com menos da metade do tempo de TV que o PT teve, sem apoio de nenhuma máquina, nem prefeitura, nem estado, nem União.
P – O sr. acha que pode ter reconfiguração de forças no Nordeste em 2026, caso ganhe em Fortaleza?
AF – Pode ser o início de uma libertação para o Nordeste. Não falo nem especificamente sobre esquerda e direita, mas sobre domínio de coronéis e caciques políticos. Não só aqui no Ceará, mas em todo o Nordeste, todo o estado tem. Nós vamos nos libertar disso. Não tenho dúvida que esse movimento de libertação começa em Fortaleza, a capital do Nordeste.
VICTORIA AZEVEDO / Folhapress