BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), participou na tarde desta segunda-feira (28) na Assembleia Legislativa da entrega do título de cidadão honorário do estado a Jair Bolsonaro (PL), a quem elogiou em discurso.
O ex-presidente da República recebeu a homenagem num momento em que é alvo de uma série de investigações e menos de dois meses após ser declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em razão de mentiras e ataques ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores no ano passado.
O título de cidadão honorário a Bolsonaro é resultado de um decreto de autoria do próprio governador, em 2019, primeiro ano de mandato do então presidente. Um requerimento para realizar a entrega nesta segunda-feira partiu do deputado estadual Coronel Sandro (PL).
Em um momento de desgaste político de Bolsonaro, Zema escondeu sua programação e não confirmou a presença antes do evento. Na agenda do governador às 17h12 desta segunda-feira, quando a cerimônia já havia começado na Assembleia e ele estava presente, ainda constava a frase: “não há compromissos públicos confirmados até o momento”.
Zema apoiou o ex-presidente nas eleições de 2018 e 2022 e hoje é visto como um potencial candidato do campo da direita à sucessão presidencial em 2026.
O título de cidadão mineiro, assinado há quatro anos, ficou engavetado até ser resgatado em requerimento do Legislativo neste ano.
Em discurso na Assembleia, Zema não mencionou as investigações que atingem Bolsonaro nem a circunstância de inelegibilidade. Na semana passada, em São Paulo, o governador mineiro havia criticado, sem citar nomes, situações de “enriquecimento pessoal na política”.
Nesta segunda, ele disse que, no governo passado, as portas dos ministérios “estavam abertas” e citou recursos para obras do metrô em Belo Horizonte. “Esses foram alguns dos motivos que o levaram a receber o título hoje”, afirmou. Acrescentou: “Éramos ouvidos com atenção de quem quer de fato alcançar soluções”.
Zema tem sido criticado nos últimos meses por declarações controversas e gafes. Um dos principais episódios foi uma fala sobre o Nordeste em entrevista, neste mês, quando citou “vaquinhas que produzem pouco”.
A ida de Bolsonaro à capital mineira ocorreu no mesmo dia de mais um depoimento, à Polícia Federal, de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, agora dentro de apuração sobre a atuação do hacker Walter Delgatti Netto.
Na cerimônia, Bolsonaro discursou por 14 minutos e disse que vê o “que aconteceu no ano passado como uma página virada”. Falou ainda no risco do país sofrer “as dores do comunismo”.
Também elogiou o governador: “É um momento bom para o estado de Minas, estado que nós sabemos como ele pegou lá atrás e como ele deu uma sacudida e colocou as contas em dia”.
Apoiadores do presidente Lula (PT) protestaram do lado de fora da Assembleia. Os gritos eram de “Não me representa” e “Minas Gerais, preste atenção, miliciano não é nosso cidadão”. Eleitores do ex-presidente também estavam no local, e policiais se posicionaram entre os dois grupos, que não chegaram a se aproximar um do outro.
Mais cedo, à tarde, o ex-presidente participou da posse do novo dirigente do PL em Minas Gerais, Domingos Sávio, que é deputado federal. O presidente nacional do partido, Valdemar da Costa Neto, e o ex-candidato a vice-presidente Walter Braga Netto (PL) também participaram.
No compromisso, Bolsonaro repetiu discurso da campanha passada. Falou sobre a criação do Pix e dificuldades que afirmou ter superado durante seu governo, como as que surgiram no setor agrícola com a guerra da Ucrânia.
Ao final, fez declaração que lembra a utilizada por Eduardo Campos (PSB), candidato à Presidência em 2014 morto em acidente de avião. “Não vamos desistir da nossa pátria”. Campos usava “não vamos desistir do Brasil”.
A cerimônia de posse da nova direção do PL em Minas ocorreu no auditório da Associação Médica de Minas Gerais. A maior parte dos participantes eram lideranças do partido na capital e interior.
O anfitrião Domingos Sávio era do PSDB até abril do ano passado. Foi presidente da legenda em Minas e um dos principais defensores do ex-governador, agora deputado federal, Aécio Neves (PSDB).
No lado de fora, houve gritos de pessoas que passavam de “ladrão de joias”, em referência às investigações da PF sobre suposto desvio de presentes recebidos pelo ex-presidente no exterior. Estudantes da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) engrossaram o coro.
Apoiadores responderam gritando “Lula, ladrão”. No discurso, o ex-presidente também não falou a respeito das investigações das quais é alvo.
Nesta noite, Bolsonaro também participou em Belo Horizonte de um evento em uma igreja promovido por um deputado federal.
LEONARDO AUGUSTO / Folhapress