SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O bombardeio a um quartel-general da Marinha da Rússia na última sexta-feira (22), um dos mais ousados da Ucrânia contra a Crimeia ocupada desde o início da guerra, deixou pelo menos nove pessoas mortas e 16 feridas, incluindo generais, afirmou o chefe do serviço de Inteligência de Kiev, Kirilo Budanov.
“Entre os feridos está o comandante do grupo, o coronel-general [Olexandr] Romantchuk, em estado gravíssimo. O chefe do Estado-Maior, o tenente-general [Oleg] Tsekov, está inconsciente. O número de militares ocasionais, que não são funcionários do quartel-general, ainda está sendo apurado”, afirmou o ucraniano à Voice of America, rádio oficial dos EUA, neste sábado (23).
Romantchuk comanda um grupo na região de Zaporíjia, enquanto Tsekov é comandante de forças costeiras da Frota do Norte da Marinha Russa, segundo a rádio. A suposta morte do almirante Viktor Sokolov não foi confirmada pelo ucraniano.
Questionado sobre eventual uso de armas enviadas pelo Ocidente no ataque, Budanov se recusou a responder. “Acho que você deve me entender”, afirmou à rádio. Do início da guerra até fevereiro de 2022, a ajuda militar à Ucrânia liderada pelos Estados Unidos chegou a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões), segundo a chancelaria ucraniana.
Também nesta sexta, o Exército de Kiev afirmou em um comunicado que a operação deixou “dezenas de mortos e feridos entre os ocupantes, incluindo altos comandos da frota”. “Os detalhes do ataque serão revelados o mais rápido possível”, segundo a nota. O bombardeio teria ocorrido durante uma reunião de dirigentes da Marinha russa.
Como em todos os ataques do conflito, o saldo de mortos e feridos é permeado pela guerra de versões entre as duas partes.
A Rússia, que ainda não se pronunciou sobre as mortes, afirmou na véspera que pelo menos um militar havia desaparecido após o ataque com míssil em Sebastopol, cidade onde a frota russa do mar Negro se baseia na Crimeia. A região se tornou um dos focos da Guerra da Ucrânia após Moscou sair de um acordo que permitia a Kiev exportar seus grãos.
A península é central para a operação de Moscou na Ucrânia, pois permite o abastecimento de tropas posicionadas no sul do país.
Na sexta, o governador local, o russo Mikhail Razvojaiev, minimizou a ação ao dizer que não houve danos à infraestrutura civil e que novos ataques não eram esperados. Neste sábado, porém, um dia depois do ataque, a Rússia acusou a Ucrânia de lançar outro míssil na cidade em meio a incertezas em relação à contraofensiva de Kiev.
Animados após retomar a vila de Klischiivka na semana passada, comandantes ucranianos disseram à agência de notícias Reuters que o uso de armas pesadas fornecidas pelo Ocidente está causando impacto nos arredores de Bakhmut, cidade capturada pela Rússia em maio.
O comandante da unidade, Oleksandr, disse que as Forças Armadas da Ucrânia dependem muito de artilharia pesada e que um canhão, por exemplo, pode mudar completamente a situação no campo de batalha. O contexto, porém, é de cansaço das potências ocidentais com o conflito.
Na última quinta-feira (21), o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a Washington em um clima muito menos hospitaleiro do que o encontrado em sua primeira passagem pela capital americana desde a invasão da Ucrânia.
Em dezembro passado, ele discursou no Capitólio a convite da então presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e voltou para o campo de batalha com a Rússia munido do Patriot, um sofisticado sistema de defesa antiaéreo, com mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.
Agora, porém, ele teve que responder a cobranças de seus anfitriões, apelar para congressistas liberarem mais dinheiro a seu país e tentar convencer o presidente americano, Joe Biden, a enviar armamentos mais potentes sem sucesso.
Redação / Folhapress