Boom em demanda por chips de IA surpreendeu Nvidia, que deve aumentar produção

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As unidades de processamento gráfico (GPU, na sigla em inglês) da trilionária Nvidia são a principal engrenagem de inteligência artificial. A procura é tamanha que startups menores sofrem para montar estrutura necessária para treinar IAs, e a fabricante de hardware tem escolhido para quem vender.

Essa situação alçou a gigante da computação gráfica à posição de empresa que mais ganhou com a corrida pela IA geradora. A receita de US$ 13,5 bilhões (R$ 65,7 bilhões) no segundo trimestre de 2023 foi o dobro do registrado no mesmo período do ano anterior.

Se por um lado a posição estratégica parece favorável, os planos da empresa são para expandir a produção de suas unidades de processamento gráfico, de acordo com o diretor da área de negócios para a América Latina, Marcio Aguiar.

“Fomos pegos de surpresa por esse boom do ChatGPT”, diz.

A empresa de tecnologia investiu US$ 2 bilhões (R$ 9,74 bilhões), de um total de US$ 2,9 bilhões (R$ 14,2 bilhões), na construção de uma nova planta focada em chips de IA para a TSMC, fábrica taiwanesa de chips que tira os projetos da Nvidia do papel.

“Já nos comprometemos a comprar a produção excedente, mas a TSMC está expandindo a fábrica e não é uma coisa feita da noite para o dia”, afirma Aguiar. Ele diz que o foco da empresa é gerar tecnologia, e os números de receita são apenas parte do negócio.

Grande exemplo dessa alta procura foi o investimento por Nvidia e Microsoft de US$ 1,3 bilhões na startup de ex-engenheiros do Google Inflection AI. Desse montante, 95% foi reinvestido na compra de GPUs H100 da própria Nvidia para expansão de um datacenter especializado no treinamento de IA geradora. Cada chip é vendido por mais de US$ 30 mil (cerca de R$ 147 mil) no varejo.

Além do design de chips, a Nvidia desenvolve plataformas de computação voltadas a processamento gráfico que otimiza o resultado das GPUs. A equipe de engenheiros e pesquisadores da gigante da tecnologia é global e inclui brasileiros, segundo o executivo.

O alto desempenho com menor gasto energético das placas gráficas da Nvidia atrai não só startups, mas também grandes provedores de serviço na nuvem, como Amazon Web Services, Microsoft, Oracle e IBM. Estes últimos compram chips para montar data centers.

A Amazon e a Microsoft desenvolvem chips próprios para atividades específicas, mas ainda dependem dos itens da Nvidia para montar uma infraestrutura eficiente.

Mas nem todo negócio da Nvídia é baseado nas GPUs H100 usadas para rodar modelos de linguagem como o ChatGPT.

No Brasil, o principal cliente, segundo Aguiar, é uma grande petroleira estatal —sem citar o nome da Petrobras. A empresa roda programas de análise de fluido, de mapeamento de poços de petróleo e não precisa de GPUs H100 para isso.

Outro nicho importante para a companhia é o público gamer. A Nvidia começou desenvolvendo placas especializadas no processamento de jogos em 1993.

O atual CEO e cofundador da empresa, Jensen Huang, diz ter escolhido os videogames pelo constante desafio imposto na área de computação gráfica, exigente em pesquisa e em implementação. Segundo falas públicas de Huang, essa dificuldade fez a empresa avançar.

Huang liderou em 2007 a expansão da Nvidia para além da indústria dos jogos, que permitiu o atual domínio no mercado de hardware focado em inteligência artificial. A Nvidia lançou as unidades de processamento gráfico (GPU), que tinham outras funções além de simular gráficos complexos de videogame.

À época, esse movimento pesou sobre as contas, mas permitiu que a companhia ocupasse a atual posição, em que flerta com o valor de mercado na casa de US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5 trilhões).

Colocar-se na vanguarda da tecnologia, é sempre uma preocupação da Nvidia, de acordo com Aguiar. Por isso, embora não tenha um braço de relações governamentais como outras gigantes da tecnologia, a desenvolvedora de chips desenvolve parcerias com universidades.

Em um desses casos, ofereceu GPUs e treinamento em computação acelerada para o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA). Esse contato, diz Aguiar, é importante para formar, conhecer e angariar talentos ao redor do mundo.

A Nvidia se tornou, em março, a primeira empresa do setor de semicondutores a alcançar a avaliação de US$ 1 trilhão. É um ramo em que o ingrediente inicial é areia. Todo o valor restante é adicionado por pessoas, disse uma vez o ex-presidente da Intel, Andy Bryant.

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RAIO-X NVIDIA

Fundação: abril de 1993

Lucro líquido*: US$ 6,2 bilhões (R$ 30,2 bilhões)

Valor de mercado: US$ 1,208 trilhões (R$ 5,883 trilhões)

Funcionários: 26.196

Área de atuação: chips, semicondutores e software

Concorrentes: AMD, Intel, Qualcomm e Samsung Electronics

*No segundo trimestre de 2023

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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