SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O apoio de Lula (PT) a Guilherme Boulos (PSOL) e de Jair Bolsonaro (PL) a Ricardo Nunes (MDB) na corrida à Prefeitura de São Paulo ainda é desconhecido da maior parte do eleitorado, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha. As duas pré-campanhas diferem no tratamento aos padrinhos.
Enquanto Boulos aposta no elo com o presidente para alavancar sua candidatura –e corre o risco de ser afetado pela queda de popularidade do petista–, Nunes faz um jogo de aproximação e distanciamento com o ex-presidente, na intenção de atrair sua base e evitar ser contaminado por sua alta rejeição.
Segundo a pesquisa, 47% da população sabe que Lula apoia Boulos, percentual abaixo do esperado pela equipe do deputado federal. No caso de Bolsonaro, a vinculação a Nunes é ainda menor: 26% dos entrevistados responderam corretamente que ele endossa o nome do atual prefeito.
O percentual de eleitores que não sabem quem Lula apoia chega a 29% –e 6% apontam erroneamente que seria Nunes. Já os que desconhecem o posicionamento de Bolsonaro são 41% –e 3% supõem que ele valida o nome de Boulos, ícone da esquerda a quem o ex-presidente naturalmente se opõe.
O agravante para Nunes é o dado de que 10% acreditam que o candidato de Bolsonaro é Pablo Marçal (PRTB). A entrada do coach e empresário abriu a possibilidade de que parte do eleitorado bolsonarista opte por alguém mais identificado com a direita, o que pode prejudicar o emedebista.
A relação com os padrinhos embute prós e contras. O apoio de Lula faria 23% dos eleitores votarem com certeza em um candidato, mas levaria 45% a não votarem nele de jeito nenhum. Já a recomendação de Bolsonaro seria motivo de voto para 18%, enquanto 61% se recusariam a escolher o nome indicado.
O instituto ouviu 1.092 pessoas na segunda (27) e na terça (28). O levantamento, com margem de erro de três pontos percentuais, foi contratado pela Folha de S.Paulo e registrado sob o número SP-08145/2024. Boulos e Nunes apareceram tecnicamente empatados em primeiro lugar.
Explorar a figura de Lula como cabo eleitoral é uma das prioridades de Boulos, relatam seus estrategistas. A ideia é que o aval do presidente e a presença dele na campanha ajudem o deputado a avançar sobretudo entre os eleitores mais pobres, segmento em que Nunes está à frente dele.
O representante do PSOL repete que, ao contrário de seu adversário, não esconde os apoios que recebe. Diz ainda se orgulhar do endosso do petista, que não só convenceu o PT a abrir mão de ter candidato próprio, como também costurou a ida da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) para a vaga de vice.
Boulos reforçou, nas últimas semanas, a divulgação de iniciativas do governo Lula na cidade e participou de eventos com ministros, no intuito de se mostrar como um embaixador da máquina federal.
Lula contribuiu para a vinculação de seu nome ao de Boulos com o pedido de voto feito no palanque do ato das centrais sindicais no 1º de Maio. O apelo fez a dupla se tornar alvo de pedidos de investigação e ações judiciais de adversários por causa de propaganda eleitoral antecipada.
A avaliação foi a de que o presidente agiu de caso pensado, com o cálculo de que o ganho na esfera eleitoral era maior do que o risco de ser acusado de ilícito eleitoral e sofrer uma multa. O Ministério Público pediu que ele pague R$ 25 mil, a maior pena prevista em lei para esses casos.
Boulos disse à CNN Brasil em abril que ter Lula e Marta a seu lado significa “um potencial de ampliação de votos” e que a população ainda não sabe quem apoia quem. “Podemos crescer na periferia quando as pessoas souberem que eu sou o pré-candidato apoiado pelo Lula”, afirmou.
Aliados ouvidos pela reportagem dizem que a vinculação só deve se espraiar quando a campanha oficial começar, em agosto. A leitura é que há margem para Boulos ganhar impulso com a entrada de Lula. O desconhecimento não seria de todo ruim neste momento, por significar potencial de elevação.
Ao mesmo tempo, a perda gradual de apoio ao presidente na capital inspira preocupação. O Datafolha mostrou que o trabalho do presidente é desaprovado por 34% dos paulistanos, enquanto 30% o consideram regular, e 35% o avaliam como ótimo ou bom.
No entorno de Nunes, a linha defendida por estrategistas de marketing e líderes emedebistas é a de que não é preciso, neste momento, “bolsonarizar” mais o pré-candidato. Para eles, a palavra de ordem para angariar votos é “prefeitar”, evitando se escorar em apoiador, como faz seu principal rival.
Hoje, segundo o Datafolha, entre os eleitores do ex-presidente no segundo turno de 2022, apenas 39% declaram voto em Nunes -uma transferência mais baixa do que a de Lula para Boulos (44%). Na visão de aliados, até outubro a ligação entre Bolsonaro e o prefeito será mais clara para o eleitor.
Como mostrou o Painel, políticos próximos a Bolsonaro opinam que o fator Marçal obriga Nunes a fazer gestos para explicitar a aliança com o ex-presidente. Uma sinalização importante seria escolher o nome indicado pelo padrinho para ser vice, o coronel da reserva da PM Ricardo Mello Araújo (PL).
No entanto, conselheiros do prefeito consultados pela reportagem minimizam a dimensão do coach, sob o argumento de que ele não tem experiência política nem alianças partidárias, e pregam que Nunes mantenha distância segura de Bolsonaro –cultivando a relação entre eles, que é boa, apesar de não tão próxima.
Semanas atrás, por exemplo, Nunes visitou o ex-presidente quando ele estava internado em São Paulo, apesar de não ter divulgado isso publicamente.
Para auxiliares de Nunes, Boulos tenta grudar em Lula porque é seu único ativo, condizente com a estratégia de polarizar e nacionalizar a eleição. Já o prefeito, dizem, tem vários pilares para embasar sua campanha, como as entregas na gestão, sua trajetória na política, a história do MDB, uma aliança de 12 legendas e também padrinhos como Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O próprio Bolsonaro, por sua vez, tem se mantido discreto no apoio a Nunes, que não era seu candidato preferencial por não ser bolsonarista raiz. O ex-presidente foi convencido por seu entorno de que a direita não venceria Boulos e era preciso compor com o centro para impedir a vitória da esquerda.
Aliados de Nunes dizem ainda que não cabe ao prefeito dosar o bolsonarismo -na verdade, depende de Bolsonaro querer mergulhar na campanha ou não. Ao lidar com o ex-presidente, os emedebistas aprenderam que ele precisa ficar à vontade e não ser forçado, afinal se move mais por vontades e vínculos pessoais do que por uma estratégia política sofisticada.
CAROLINA LINHARES E JOELMIR TAVARES / Folhapress