SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pré-campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo começa nesta quarta-feira (22) uma ação na tentativa de suavizar a imagem do deputado federal e rebater o que considera “caricaturas” feitas por rivais para associá-lo a invasão de propriedades, intransigência e radicalismo.
Em vídeos para as redes sociais produzidos pelo marqueteiro Lula Guimarães, Boulos aparece de roupa clara e com semblante calmo para falar sobre sua atuação no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), numa estratégia de comunicação para fixar mensagens positivas sobre a biografia dele.
A ideia é pintá-lo como uma pessoa solidária e aberta ao diálogo para aproximá-lo de eleitores indecisos e que conhecem pouco da trajetória dele, além de tentar diminuir sua taxa de rejeição.
O psolista é apoiado pelo presidente Lula (PT) e lidera as pesquisas de intenção de voto, à frente de Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição. O atual prefeito é um dos que usam retórica belicosa contra Boulos, ligando-o a rótulos como invasor, baderneiro e amigo do grupo terrorista Hamas.
Num dos trechos obtidos pela Folha de S.Paulo, Boulos diz: “Criaram uma caricatura de que eu era uma pessoa raivosa, violenta, extremista, que não dialogava com ninguém”. Ele afirma na gravação que só não sentaria para negociar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), “que aí não dá”.
Os vídeos mostram Boulos falando de sua formação acadêmica, relembrando lições que aprendeu nos movimentos sociais e se gabando de ter adquirido capacidade de diálogo na militância e poder exercitá-la na Câmara dos Deputados, em sua primeira experiência na política institucional.
O pré-candidato diz, por exemplo, que teve uma convivência republicana com o então prefeito Bruno Covas (PSDB) –contra quem disputou o segundo turno em 2020– e que o ex-governador João Doria (hoje desfiliado do PSDB) reconheceu em entrevista que tinha relação respeitosa com ele.
Doria disse ao portal UOL no mês passado que, quando foi prefeito da capital e governador do estado, recebeu Boulos em audiências sobre a pauta de moradia com diálogo “fluido, tranquilo, nada hostil”. O ex-tucano, no entanto, declarou voto em Nunes.
No conteúdo que será disparado, uma voz feminina fala em “motivos para você conhecer melhor Guilherme Boulos” e legendas o descrevem como “um cara solidário”, que “ouve todos” e “aprendeu com a vida”. Termos como “propósitos” e “consenso” são usados para reforçar o tom ameno.
Além de Nunes, pré-candidatos do campo da direita como Kim Kataguiri (União Brasil), Ricardo Salles (PL) e Marina Helena (Novo) exploram negativamente o passado de Boulos. A tática é ligá-lo a termos como desordem, criminalidade, extremismo e inexperiência.
Tabata Amaral (PSB), que disputa com o psolista parte do eleitorado progressista e esteve com ele na frente que elegeu Lula, tampouco poupa o colega de Câmara. A deputada disse à Folha de S.Paulo em setembro que o maior problema dele é “a falta de seriedade e maturidade”.
Na avaliação do entorno de Boulos, é preciso desconstruir pechas que podem prejudicar sua manutenção na liderança das pesquisas e a eventual eleição. A rodada do Datafolha que o mostrou com 32% das intenções de voto em agosto, ante 24% de Nunes, corroborou o diagnóstico.
Segundo o instituto, 80% dos moradores da capital disseram conhecer o líder do PSOL. Dentro do grupo, 31% responderam conhecê-lo bem, 22% um pouco e 27% só de ouvir falar. Uma parcela de 20% da população não o conhece, o que levou a equipe a querer apresentá-lo melhor.
Outro dado preocupante da pesquisa foi que 29% dos entrevistados afirmaram que não votariam em Boulos de jeito nenhum. A rejeição dele ficou em empate técnico com a de Nunes (26%), já que o levantamento tinha margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos.
O pré-candidato do PSOL sofreu reveses nas últimas semanas ao ser favorável à greve que parou a cidade em protesto contra privatizações e ao fazer um posicionamento ambíguo sobre a guerra Israel-Hamas. Uma onda de fake news espalhou a versão de que ele seria próximo de terroristas do grupo palestino.
Na sequência, porém, Boulos se viu em um momento favorável para questionar a concessão de serviços à iniciativa privada, devido ao apagão em São Paulo. Ao se contrapor a Nunes e responsabilizar o prefeito e a empresa Enel pelos transtornos, ele criou fatos políticos que entusiasmaram sua base.
Uma nova crise atingiu o psolista pouco depois, ao virem a público imagens suas com a esposa de um homem acusado de ser um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho no Amazonas. O deputado disse que foi abordado por ela na Câmara e que o contato foi breve.
Auxiliares relatam nos bastidores terem a intenção de demonstrar que Boulos é “doce” e “humano”. Nos vídeos, ele sorri ao falar de sua relação com São Paulo, mas também aparenta estar com a voz embargada e fica com os olhos marejados ao contar histórias de sem-teto.
“Mesmo com uma votação superexpressiva para deputado, muita gente não conhece o Guilherme Boulos, não sabe dos valores de vida que ele tem”, diz Lula Guimarães. “Esses valores se conectam com o que muita gente pensa, mas o eleitor ainda não sabe disso.”
O marqueteiro afirma ter usado a gravação da entrevista para formular perguntas “que muitos segmentos de eleitores gostariam de fazer para ele, mas não tiveram oportunidade”.
Para Guimarães, as críticas que Boulos recebe, “especialmente da turma da direita”, em geral são baseadas em fake news ou na falta de conhecimento sobre a trajetória do deputado e do MTST.
Segundo ele, uma das prioridades é demonstrar que o movimento liderado pelo pré-candidato há 20 anos “não toma nada de ninguém”, mas, sim, “ocupa terrenos e imóveis que já deveriam ter destinação para moradia popular e que foram ignorados pelo poder público”.
Os vídeos serão exibidos em pílulas nas redes sociais do pré-candidato. A previsão é que uma versão estendida da gravação, que durou quase duas horas, seja publicada no canal dele no YouTube.
JOELMIR TAVARES / Folhapress