SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com entraves para ampliar seu arco de apoios no segundo turno, Guilherme Boulos (PSOL) prepara um ato para reunir políticos e representantes de segmentos que se somaram à sua candidatura contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e tentam ajudá-lo em outros campos além da esquerda.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que no primeiro turno trabalhou por Tabata Amaral (PSB), é um dos convidados do evento, marcado para a noite desta terça-feira (22), no Teatro Gazeta, na avenida Paulista. A assessoria dele não confirma a presença, que é dada como certa por aliados.
Também convidada, Tabata descarta comparecer, apesar de ter indicado voto em Boulos já no dia do primeiro turno. Ela sempre avisou que se recusaria a subir em palanques caso não passasse à etapa atual e deixou claro que seu endosso é por convicção, sem envolver nenhuma negociação.
José Luiz Datena (PSDB), que declarou apoio a Boulos por ser “contra a infiltração do crime organizado na prefeitura”, é outro sem previsão de comparecer ao evento. O apresentador, que ficou em quinto lugar, está em férias desde o fim da campanha e sinalizou que deve encerrar sua passagem pela política.
Com o mote “Todos por São Paulo”, o ato busca emular a ideia de frente ampla formada em 2022 em torno da candidatura de Lula (PT) para derrotar Jair Bolsonaro (PL). Na prática, contudo, a união de diferentes forças em prol do atual presidente, que é apoiador de Boulos, não será repetida.
As tentativas de expansão esbarram no fato de que Nunes reuniu em sua coligação no primeiro turno 12 partidos, incluindo vários da base do governo federal, a começar pelo MDB, passando por União Brasil, Republicanos e PSD. À exceção do PSB, a esquerda já estava aglutinada em torno de Boulos.
O apoio de Alckmin, anunciado na semana pós-primeiro turno, vem sendo tratado por aliados como exemplo da capacidade de diálogo de Boulos, mas já era esperada e pouco contribui para a desejada ampliação ideológica. Há a avaliação, contudo, de que o vice possui trânsito no centro político.
A previsão é que Alckmin esteja ocupando interinamente a Presidência da República no dia do evento, já que Lula viaja para a Rússia para a cúpula do Brics. Alckmin deverá ter compromissos na capital paulista no início da semana, mas a agenda oficial ainda não foi divulgada. O evento eleitoral será à noite, o que ajuda a evitar embaraços caso participasse dele em horário de trabalho.
Além de políticos, foram convidados líderes de movimentos e entidades, empresários e artistas. A ideia, de acordo com idealizadores, é transmitir uma imagem de coalizão e exaltar os novos entusiastas, agora mais relevantes do que pessoas e segmentos da esquerda já engajados desde o primeiro turno.
O convite fala em “firmar que nosso projeto vai além do Guilherme Boulos; ele é coletivo, de todos nós”. Diz ainda que “não é um projeto de eleição, é um projeto de futuro”, que “representa a cultura, a modernidade, a saúde, a periferia, o combate à desigualdade”.
A organização sondou o Tuca, teatro que fica no campus da PUC e que recebeu eventos emblemáticos da esquerda em eleições nos últimos anos, mas a informação repassada foi que o local não tinha datas disponíveis no período. Conciliar as agendas dos convidados para terça foi um dos desafios.
Boulos tem reiterado agradecimentos a Tabata, Datena e Alckmin e lembrado que Pablo Marçal (PRTB) não declarou apoio a nenhum dos dois postulantes.
Eventual aliança do terceiro colocado na disputa com Nunes teria sido ainda mais prejudicial para o candidato do PSOL. Mesmo sem uma união do influenciador com o emedebista, a maioria dos eleitores de Marçal naturalmente migrou para o prefeito, que é apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro.
Tabata se recolheu após sair da eleição em quarto lugar, e o PSB liberou a escolha dos filiados em São Paulo, com sugestão de voto em Boulos. Já o PSDB diverge de Datena e apoia Nunes.
Um dos encarregados pela organização do ato é o deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP). O empresário Márcio Toledo, marido da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), vice na chapa, também se empenhou nos últimos tempos na tarefa de abrir canais de diálogo com nomes além da esquerda.
Na virada para o segundo turno, Boulos conquistou declarações de voto de simpatizantes de Tabata. Outro que se manifestou em apoio a ele foi o ex-senador Aloysio Nunes, que era quadro histórico do PSDB e chegou a endossar Nunes, mas mudou de ideia culpando a guinada bolsonarista do prefeito.
Segundo pesquisa Datafolha da última quinta-feira (17), Nunes mantém a dianteira na disputa, com 51% das intenções de voto, enquanto Boulos registra 33%. O deputado afirma, porém, esperar uma “virada”.
No primeiro turno, Boulos adotou um tom mais moderado e conciliador do que em sua campanha anterior à prefeitura, em 2020, numa tática para tentar agregar setores que o rejeitavam ou desconheciam.
Com a passagem para o segundo turno após Marçal ter monopolizado atenções com sua figura revoltada e provocadora, o candidato do PSOL fez uma adaptação em busca de apoiadores do influenciador e retomou o que seu entorno chama de “estilo raiz”, mesclando indignação e contundência.
JOELMIR TAVARES / Folhapress