Boulos usa palanque de Lula e dá recados a Tarcísio e a vice de Nunes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, usou palanque de evento do presidente Lula (PT) em São Paulo neste sábado (29) para dar recados políticos ao seu principal rival na disputa eleitoral deste ano.

Boulos fez críticas ao tratamento diferente dado a moradores da periferia e de bairros ricos, fazendo referência indireta a uma frase do coronel da reserva escolhido como vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB), e ao modelo de escolas militares, defendido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), apoiador do prefeito.

Lula participa na capital paulista de cerimônia de lançamento da pedra fundamental de novos campi da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e IFSP (Instituto Federal de São Paulo). Além de Boulos, que recebe o apoio do PT na disputa à prefeitura, comparece à cerimônia a vice da chapa, a ex-prefeita Marta Suplicy.

No palco de Lula, além de Boulos, Marta e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, estiveram ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Jader Filho (Cidades), além dos deputados petistas Jilmar Tatto e Rui Falcão e da primeira-dama Janja.

O ato é o primeiro na capital paulista desde que Lula e Boulos foram condenados pela Justiça ao pagamento de multa em razão de fala no 1º de Maio considerada propaganda eleitoral antecipada.

Neste sábado, após atacar a proposta de escolas militares defendida por Tarcísio e dizer que “dentro da sala de aula tem que ser professor”, Boulos discursou fazendo referência, sem citação nominal, ao ex-Rota Ricardo Mello Araújo (PL), que, após indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi escolhido para a vice de Nunes.

“Enquanto tem gente que ainda hoje acha que um morador da periferia tem que ser tratado diferente do morador dos Jardins, nós que estamos aqui temos a certeza e a convicção de que o morador de Itaquera e Cidade Tiradentes tem que ser tratado com o mesmo respeito que o morador dos Jardins, do Morumbi ou de qualquer bairro rico desta cidade. Esta é diferença. É isto que está em jogo”, afirmou Boulos no palanque de Lula.

Em 2017, Mello Araújo defendeu ao UOL diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins e na periferia.

“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, disse o ex-Rota na época.

No 1º de Maio, Lula afirmou que a disputa paulista pela prefeitura seria uma “verdadeira guerra” e pediu que seus eleitores votassem em Boulos.

“Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018… 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”, disse o mandatário no 1º de Maio.

O juiz eleitoral Paulo Sorci, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, condenou Lula e Boulos ao pagamento de multas de, respectivamente, R$ 20 mil e R$ 15 mil por causa do discurso do presidente no evento do Dia do Trabalho.

Os dois informaram que vão recorrer da decisão. A propaganda eleitoral será permitida somente após o dia 16 de agosto, quando as candidaturas já estiverem registradas na Justiça Eleitoral.

Ao decidir pela condenação, o juiz afirmou que foi “inquestionável a prática do ilícito eleitoral” e que houve “pedido explícito” de voto. Ele considerou ainda que Boulos foi beneficiário direto e demonstrou inércia diante da fala, “mesmo podendo atuar de forma discreta para amenizar o discurso”.

A avaliação entre aliados foi a de que o presidente agiu de caso pensado, com o cálculo de que o ganho na esfera eleitoral era maior do que o risco de ser acusado de ilícito eleitoral e sofrer uma multa.

O evento deste sábado é exemplo de esforço do petista para alavancar a candidatura de Boulos à Prefeitura de São Paulo, em cenário reconhecido como prévia da disputa nacional entre Lula e o bolsonarismo.

De olho nos dois próximos pleitos, o mandatário tem dito que pode se candidatar em 2026 se for para combater a volta de “trogloditas” e “fascistas”, além de falar em somar esforços em 2024 para evitar o avanço da extrema direita.

Na capital paulista, o candidato à reeleição e atual prefeito, Ricardo Nunes, conta com o apoio de Bolsonaro, que indicou Mello Araújo para vice na chapa.

No último Datafolha, divulgado em 31 de maio, Boulos tinha 24%, empatado tecnicamente com Nunes (23%), no principal cenário pesquisado. José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) tinham 8% e Pablo Marçal (PRTB), 7%. O deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) aparecia com 4%.

Pesquisa Quaest divulgada na quinta-feira (27) mostrou um empate técnico na liderança, diante da margem de erro de três pontos para mais ou para menos: Nunes com 22%, Boulos com 21% e Datena com 17% (a seguir, Marçal, com 10%, apenas numericamente à frente de Tabata, com 6%).

A programação deste sábado de Lula com Boulos em São Paulo tem dois eventos.

Depois da cerimônia pela manhã de lançamento da pedra fundamental do campus Zona Leste da Unifesp e do campus Cidade Tiradentes do IFSP, à tarde haverá um ato sobre a expansão do IFSP no bairro Jardim Ângela (zona sul) e a vinda de recursos do Novo PAC para a expansão da linha 5 lilás do metrô.

Não vão ao evento o governador nem o prefeito. Tarcísio está em viagem internacional até a próxima semana. Já Nunes afirmou na sexta-feira (28) que não iria comparecer neste sábado por considerar que os eventos com Lula são atos políticos, criticando a emissão de convites nos quais foram anunciadas as presenças de Boulos e Marta Suplicy. “Só não enxerga quem não quer ver, isso é um ato político, não é um ato de governo”, afirmou.

O prefeito assinou, na sexta, a cessão de terreno de 30 mil metros quadrados para a construção do Instituto Federal na Cidade Tiradentes.

Na semana passada, Nunes usou a obra do metrô como palanque para, ao lado de Tarcísio, anunciar a escolha de Ricardo Mello Araújo como vice.

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Colaborou Joelmir Tavares

ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress

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