SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No segundo turno das eleições de 2022, reuniram-se para um jantar num elegante restaurante da capital paulista o então candidato e hoje governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), caciques partidários como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e deputados estaduais eleitos.
Valdemar levou um pedido a Tarcísio, anunciado publicamente naquela noite: fazer de seu pupilo, o deputado estadual André do Prado (PL), o presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).
Com a vitória de Tarcísio, assim foi. Poucos meses depois, no ano seguinte, o deputado se elegeria presidente da Casa, em votação quase unânime, desbancando cerca de três décadas de domínio do PSDB.
Agora, é André quem vai à frente da costura que pavimenta sua reeleição. Seu mandato à frente da Alesp se encerraria em março, após dois anos no cargo. Porém, depois de meses de negociação entre o presidente e colegas, a Assembleia aprovou na terça-feira (29) uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que abre caminho para sua recondução.
A PEC libera uma única reeleição sucessiva, para o presidente e os demais membros da Mesa Diretora, na mesma ou em diferentes legislaturas –até então, a recondução só era possível neste último caso, o que impediria André de permanecer no posto.
A eleição para a presidência acontecerá em março, após o recesso.
Deputados da Casa descrevem André como uma figura que busca um perfil conciliador, estabelecendo diálogo da esquerda à direita, e que mostrou habilidade na divisão de cargos na Mesa Diretora e de vagas nas comissões para consolidar apoio à sua presidência.
“O maior êxito da minha presidência foi pacificar a Assembleia de uma forma que todos pudessem ter seu espaço e desenvolver seu trabalho”, diz ele à reportagem.
Por outro lado, críticos dele, à esquerda e à direita, reclamam de uma excessiva complacência com o governo Tarcísio, o que teria transformado a Assembleia numa linha auxiliar do Executivo.
Eles afirmam que os projetos encaminhados pela gestão estadual são pautados com rapidez e votados sem ampla discussão, em detrimento das iniciativas dos deputados.
André rejeita a crítica e diz que “faz muitos anos que a Assembleia não tem independência como temos hoje”. “O governador sempre deixa claro a independência, porém [havendo] a harmonia entre os Poderes. É isso o que eu penso também”, diz.
Com acordo costurado entre todos os partidos, a PEC que abre caminho à reeleição do presidente foi aprovada em pouco mais de um minuto, por aclamação -ou seja, sem votação individual.
“A imprensa ficou surpresa com a velocidade [com] que foi aprovada, mas foram seis meses de discussão”, afirma André.
Somente a bancada do PSOL, de cinco integrantes, manifestou voto contrário. O partido, porém, poderia ter pedido votação nominal e não o fez. O partido decidiu não obstruir a votação da proposta por entender que André já tinha maioria e que essa seria uma disputa perdida, que poderia prejudicar as demandas dos deputados posteriormente. A expectativa é manter as vagas que o PSOL já tem nas comissões.
Alguns deputados bolsonaristas, que costumam manifestar insatisfações a respeito da condução da Alesp, também consideraram que seriam voto vencido e assinaram a proposta. Por integrarem o mesmo partido, o PL, eles avaliaram que acabariam firmando um racha no grupo e que não valeria a pena comprar a briga.
Ao apoiar a PEC, o PT, que tem a segunda maior bancada da Casa e diálogo aberto com André, garante a continuidade do partido à frente da primeira secretaria da Mesa Diretora, assim como do comando das comissões que já ocupa.
Líder do partido na Casa, o deputado Paulo Fiorilo diz que a proposta adequa a Constituição estadual à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o tema e afirma que, nas negociações com André, a legenda não se comprometeu a apoiar seu nome nas próximas eleições.
Fiorilo diz que a sigla apresentou uma lista de demandas ao presidente, que se dispôs a encaminhar algumas e propôs mudanças em outras. Ele afirma que André acenou positivamente ao pedido para mudar o método de instalação das CPIs, que, segundo a oposição, privilegia a base governista, e para ouvir as bancadas no processo de nomeação para os conselhos.
O petista diz que o presidente acatou reivindicações importantes do partido à frente da Casa e que, pessoalmente, não se opõe à sua recondução.
Em seu quarto mandato na Alesp, André do Prado começou a carreira política em Guararema (SP), se lançando a vereador aos 23 anos. À época trabalhando como analista de sistemas, ele conta que foi convencido a se candidatar pelo deputado federal Marcio Alvino (PL), que namorava sua irmã.
“Faltava candidato a vereador na chapa que ele estava montando. Eu resisti muito porque já tinha me definido pela iniciativa privada”, diz.
André se elegeu duas vezes para a Câmara Municipal da cidade, foi secretário municipal de Saúde e depois, em 2005, assumiu a prefeitura. Não tentou a reeleição e, em 2010, se lançou a deputado estadual, fazendo dobradinha com Valdemar, que concorria mais uma vez à Câmara dos Deputados.
Os dois percorreram juntos o interior do estado, em busca dos 70 mil votos que André calculava precisar para chegar à Alesp. “Eu fiquei dois anos percorrendo mais de 300 municípios”, afirma.
Em 2010, foi eleito deputado estadual e, ao longo dos anos, assistiu à eleição de mais colegas da legenda. Até 2022, já com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na sigla, quando o PL conquistou 19 assentos na Casa.
Naquele ano, André trabalhou pela reeleição do então governador Rodrigo Garcia (então no PSDB), de quem tinha ficado próximo, e avisou a Tarcísio que já havia firmado um compromisso com o adversário. No segundo turno, sem Rodrigo Garcia, o deputado embarcou na candidatura do indicado de Bolsonaro, viajando pelo interior do estado e buscando o apoio de prefeitos e de lideranças locais.
Desde então, André e o governador se tornaram aliados, e figuras da política paulista já aventam seu nome como vice de Tarcísio em 2026, no caso de uma candidatura à reeleição, ou como seu sucessor, se o pupilo de Bolsonaro decidir concorrer à Presidência.
Raio X – André do Prado (PL)
Com 55 anos, é deputado estadual em quarto mandato e presidente da Alesp. Analista de sistemas pela Universidade de Mogi das Cruzes, foi prefeito de Guararema (SP)
ANA LUIZA ALBUQUERQUE / Folhapress