SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Bradesco trocou o seu comando nesta quinta-feira (23). Marcelo Noronha assume o cargo de presidente-executivo da instituição, no lugar de Octavio de Lazari Jr., que vai ocupar uma cadeira no conselho de administração do banco.
A mudança já era esperada pelo mercado e pelos funcionários do banco, após uma sequência de resultados fracos, abaixo da média do setor.
“A mudança tem o propósito de iniciar um ciclo de projetos e objetivos estratégicos robustos para os próximos anos”, afirmou o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em comunicado ao mercado pela manhã.
A troca no comando vem antes da reunião de planejamento estratégico do banco para 2024, marcada para o início de dezembro.
As ações do Bradesco registraram forte alta. Os papéis preferenciais (sem direito a voto) subiram 2,67% e foram os mais negociados da sessão, enquanto os ordinários (com direito a voto) avançaram 1,86%. O Ibovespa subiu 0,42%.
Lazari, 60, assumiu o comando do Bradesco em 2018. O executivo iniciou sua carreira no próprio banco em 1978.
Noronha, 58, até hoje, atuava como vice-presidente do banco, posto assumido em 2015. Ele comandava a parte de varejo do banco, que cuida de pessoas físicas. Antes, liderou o atacado, braço voltado aos clientes institucionais.
“A indicação do senhor Marcelo decorreu da sua vasta experiência profissional adquirida ao longo de mais de 38 anos no mercado financeiro, 20 dos quais dedicados à Organização Bradesco”, afirmou o banco.
Segundo o Bradesco, a nomeação acatou recomendação do comitê de nomeação e sucessão do banco.
Marcelo Noronha está no Bradesco desde 2003 e ocupou cargos em diferentes áreas do banco até alcançar a posição de vice-presidente para operações de varejo da instituição, em 2015. É formado em Administração pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e tem especialização em Finanças pelo Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).
O chefe de análise de ações da Órama, Phil Soares, afirma que a troca no comando do Bradesco não era esperada, pois o banco não costuma realizar mudanças no comando antes de seus presidentes atingirem o limite de idade de 65. A notícia, porém, foi considerada positiva pelo mercado.
“O mercado recebeu bem, mas não por causa do peso do nome de Noronha, mas porque representa uma mudança de mentalidade no banco. Há uma perspectiva de mudanças nos resultados trimestrais, que têm sido bastante ruins”, diz Soares.
Analistas do JPMorgan observaram que, embora durante o comando de Lazari o Bradesco tenha apresentado lucros maiores que o Itaú, o executivo comandou o banco durante um período de resultados mais fracos nos últimos dois anos, em meio ao cenário de piora no ciclo de crédito e fraqueza na renda das famílias.
“Embora consideremos que a cultura [do Bradesco] continuará a mesma, acreditamos que os investidores possam ver a mudança na administração como uma responsabilização pelos últimos anos”, afirmaram os analistas, em relatório a clientes.
O sócio da Nexgen Capital Pedro Wilson também elogia a escolha de Marcelo Noronha para o cargo.
“Entre todos os possíveis nomes cotados, Noronha era o melhor, tanto pela experiência que ele tem no mercado quanto pelo tempo que ele passou dentro do Bradesco. Ele já tem um grande conhecimento, e a expectativa é que ele coloque a companhia nos eixos”, afirma Pedro Wilson, sócio da Nexgen Capital.
O Bradesco encerrou o terceiro trimestre deste ano com lucro de R$ 4,6 bilhões, 11,5% a menos que no mesmo período de 2022, num resultado pior que o esperado pelo mercado, que previa R$ 4,68 bilhões.
Os números menores do que o esperado foram fruto de uma manutenção do nível de empréstimos concedidos pelo banco. A carteira de crédito expandida subiu 1% em relação a junho, para R$ 877,5 bilhões em setembro.
Em nota, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que Marcelo Noronha assumirá a direção do Bradesco “em um momento raro e importante para o setor financeiro, no qual desafios e oportunidades seguem na mesma trilha.”
“Lazari conduziu importantes transformações da indústria bancária e sua permanência no Conselho de Administração do Bradesco representa o reconhecimento de sua importante contribuição em benefício do setor e da sociedade”, completou a instituição.
MARCELO AZEVEDO E JÚLIA MOURA / Folhapress