RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Na véspera da primeira reunião ministerial do G20, o Brasil, que está como presidente do grupo, anunciou uma nova reunião de chanceleres prevista para setembro, em paralelo à Assembleia-Geral da ONU. O encontro debaterá a reforma da governança global, inclusive da própria ONU, e deve incluir os demais membros do organismo internacional.
O tema é uma das pautas escolhidas como prioridade na discussão do grupo das principais economias do país durante a presidência do Brasil. A reforma das instituições internacionais é uma pauta do presidente Lula desde o primeiro mandato (2003-2006).
Nestas quarta e quinta-feira (21 e 22), acontece o encontro dos chanceleres do G20, primeira reunião ministerial do grupo, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. O tema da reforma das instituições internacional será o foco de debate da segunda sessão do encontro ministerial.
Assim como essa primeira reunião, o encontro do G20 durante a Assembleia da ONU também deve ser presidido pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
“Uma das prioridades brasileiras é a reforma da governança. E o centro da governança, a organização que deve manter a paz e prevenir os conflitos está na ONU; então nada mais simbólico e forte, em termos de mensagem, do que fazer uma reunião dentro da ONU”, afirmou nesta terça-feira (20), o embaixador Maurício Lyrio, coordenador das discussões diplomáticas do G20.
A reforma da governança global também passa por outro tema de destaque da reunião dos chanceleres, que é a escalada dos conflitos pelo mundo, como as guerras Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia. Segundo Lyrio, há uma urgência na reforma de organismos como a ONU, que se mostraram incapazes de conter as crises entre países.
“Estamos vivendo num mundo sem governança. A proliferação de conflitos é algo que preocupa de uma forma muito aguda. Em 2023 tivemos um recorde de conflitos na arena internacional: 183 conflitos. Algo sem precedentes nas últimas décadas. Retornamos praticamente ao nível de conflitos do período da Guerra Fria. Isso mostra que há um déficit de governança para enfrentar os desafios atuais”, afirmou o embaixador.
As tensões geopolíticas atuais serão o tema da primeira sessão do encontro dos chanceleres, na tarde de quarta. “Uma coisa é trabalhar pela paz em cada um dos conflitos. Outra coisa é ter uma governança global que evite a ocorrência de novos conflitos. Estamos apagando incêndios. Com 183 conflitos no mundo, é uma situação tão catastrófica do ponto de vista de efeitos humanitários, que obviamente a ação tem que ser estrutural”, disse o embaixador brasileiro.
Lyrio disse que não vê a atual crise diplomática entre Brasil e Israel como um dificultador na presidência do país nas discussões do G20. “Esse chamado à paz que o presidente tem feito desde o início é absolutamente crucial.”
O encontro marcado em setembro, que também reunirá os chanceleres, elimina a possibilidade de um comunicado oficial após a reunião desta semana. A avaliação do Itamaraty é de que um documento final neste momento inicial do G20 poderia atrapalhar as negociações entre os países.
A tradição do G20 é que um comunicado oficial seja divulgado apenas após a cúpula de chefes de Estado, marcada para novembro, também no Rio de Janeiro. “A obsessão pelas declarações impede que a gente avance na discussão dos temas”, disse Lyrio.
O G20, abreviação para Grupo dos Vinte, reúne 19 países e dois blocos econômicos que, juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta. É a primeira vez que o Brasil ocupa a presidência do fórum.
Neste encontro, os chanceleres do G20 vão se reunir na primeira reunião ministerial da Trilha Sherpa. Isso significa que membros do alto escalão da política externa de cada país vão participar de reuniões para discutir negociações e os pontos que vão formar a agenda oficial da cúpula.
É uma reunião só de debates, não tem caráter decisório nem vai produzir algum texto conclusivo para a cúpula. No entanto, é o que vai direcionar a pauta das conversas.
A Trilha Sherpa, cujo nome faz referência a uma etnia nepalesa que guia alpinistas ao cume do Monte Everest, é quem aponta a direção das discussões e acordos até o encontro mais importante do G20: a cúpula dos chefes de Estado e de governo, marcada para novembro.
Atualmente, fazem parte do grupo África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Europeia e União Africana esta última se tornou membro do G20 em 2023.
As três prioridades da presidência brasileira no G20 também devem ser incluídas nas conversas: além da reforma da governança internacional, há o combate à fome, pobreza e desigualdade e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental).
Ao menos 12 chanceleres já estão confirmados no encontro. Entre eles, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov.
CAMILA ZARUR E ITALO NOGUEIRA / Folhapress