SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a defender nesta segunda-feira (4) a extração de petróleo na foz do Amazonas. Em debate com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, ele disse que a Petrobras deve pensar na demanda global pelo combustível fóssil e não apenas na do Brasil, que caminha para reduzir suas emissões nos próximos anos.
“A questão do petróleo não é uma questão de oferta, é uma questão de demanda global […] A Petrobras é uma empresa que fornece combustível e petróleo para a segurança energética não só do Brasil, mas global”, disse Silveira em evento organizado pela CNN Talks.
A defesa de Silveira pela extração de petróleo na Foz do Amazonas veio logo depois de Agostinho defender o papel do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos) no processo de licenciamento.
“O Ibama não é o responsável pela política energética do país […] Nesse semestre que a gente ainda está, o Ibama emitiu 50 licenças e autorizações para a Petrobras, o que significa que o Ibama não parou de licenciar a atividade de óleo e gás, porque é uma atividade importante para o país”, disse Agostinho.
“No caso da exploração do petróleo na foz do rio Amazonas, que é uma bacia gigantesca, o que a gente está analisando é a proposta que foi feita pela Petrobras específica naquele local. Nós não queremos, e não é papel do Ibama, fazer o convencimento de ninguém; nem do governador, nem do governo, de que a transição [energética] é necessária”, acrescentou.
Na semana passada, técnicos do Ibama rejeitaram o material entregue e recomendaram, além do indeferimento da licença ambiental, o arquivamento do processo protocolado pela Petrobras no órgão para pesquisar a presença de petróleo na região. Em uma tentativa de postergar eventuais conflitos dentro do governo, Agostinho, por outro lado, não seguiu a recomendação e permitiu que a Petrobras prepare novas informações antes de decidir pelo arquivamento ou não do processo.
O evento desta segunda, aliás, escancarou a dificuldade da ala ambiental do governo –liderada pela ministra de Meio Ambiente, Marina Silva– nessa discussão. Além de Silveira e Agostinho, estavam presentes os governadores do Pará, Helder Barbalho, e do Amapá, Clécio Luís -dois estados que seriam impactados com a extração de petróleo na região.
Barbalho evitou tocar no tema, mas Luís defendeu que a extração de petróleo na região garantiria recursos e desenvolvimento econômico para seu estado. Essa é uma narrativa comum na classe política dos estados amazônicos, que veem na atividade a oportunidade de aumentar a arrecadação de seus governos.
“Vamos imaginar que o presidente Rodrigo chegasse para mim e dissesse que temos que nos convencer que, diante da gravidade global em relação às mudanças climáticas, o Amapá tem que abrir mão de produzir riquezas que vão ter impacto imediato e de longo prazo em seu território e população. Eu diria que não podemos fazer isso, porque vivemos no estado mais preservado do Brasil”, afirmou o governador.
“Ocorre que esses indicadores ambientais, que são maravilhosos, são muito assimétricos dos indicadores sociais e econômicos […] Quando a gente fala da amazônia, geralmente, a gente fala e pensa na copa das árvores, pensa naquelas imagens bonitas que são mostradas, mas esquecemos que debaixo daquelas árvores, existem pessoas vivendo, na maioria das vezes, na pobreza,” acrescentou.
PEDRO LOVISI / Folhapress