Desde 2015, quando líderes de todo o mundo assinaram o histórico Acordo de Paris, para reduzir as emissões de gases-estufa e frear a crise climática, a perda florestal no Brasil mais do que dobrou: foi de 8.288 km² naquele ano para 17.726 km² em 2022, um salto de 113,8%. O desmatamento é a principal fonte de emissões brasileira.
Os índices brasileiros também passaram a representar uma fatia maior da perda de florestas tropicais em todo o mundo. Em 2015, o país respondia por 28% do total de cobertura perdida naquele ano, taxa que chegou a 43% em 2022, ao final do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Os dados foram divulgados nesta terça-feira (27) pela GFW (Global Forest Watch), ferramenta da organização não governamental WRI (World Resources Institute) em parceria com a Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Os pesquisadores acompanham o estado das florestas do planeta através da análise de imagens de satélite.
O coordenador de ciência de dados da WRI Brasil, Jefferson Ferreira-Ferreira, diz que a destruição ambiental registrada desde 2015 não apenas foi alta, mas também sustentada. “Isso mostra que as políticas ocorridas nesse período permitiram que as perdas de cobertura arbórea se mantivessem em patamares elevados”, afirma.
Repetindo uma tendência histórica, o Brasil foi o país que mais contribuiu para a perda de florestas em 2022. Também foi registrado o nível mais alto de destruição não relacionada a incêndios florestais desde 2005, um crescimento de 20% em relação ao ano anterior.
Como em anos anteriores, o segundo país pior colocado no ranking foi a República Democrática do Congo, que perdeu 5.126 km² de florestas tropicais. Se destacaram, ainda, Gana, com um crescimento de 71% na perda florestal em 2022, na comparação com o ano anterior, e Bolívia, que teve um recorde no índice em 2022, um aumento de 32% em relação ao ano anterior, chegando a 3.855 km².
No mundo, a cobertura florestal diminuiu 9,7%, no primeiro ano depois que 145 países assinaram um acordo para frear o desmatamento até 2030, reconhecendo o papel das florestas no combate às mudanças climáticas e à perda de biodiversidade. Mas, em vez de cair, o desmatamento vem crescendo.
De acordo com a GFW, no Brasil, a perda dos quase 18 mil km² de floresta (equivalente a mais de 11 vezes a área da cidade de São Paulo, 1.521 km²) em 2022 jogou na atmosfera 1,2 gigatoneladas de CO2 o mesmo que 2,5 vezes as emissões anuais brasileiras vindas de combustíveis fósseis.
De 2021 para 2022, a perda florestal cresceu 14,4% no país. O GFW monitora as formações florestais na Amazônia, cerrado, pantanal e mata atlântica.
A diretora do GFW, Mikaela Weisse, explica que a perda de floresta primária está acelerando principalmente no oeste da Amazônia e no Amazonas, onde o desmatamento registrado dobrou nos últimos três anos.
“A perda na Amazônia ocidental está concentrada em torno das redes rodoviárias e consiste principalmente em clareiras maiores para pastagens de gado. Nós também vimos uma série de incursões em territórios indígenas para mineração e grilagem de terras”, diz.
Frances Seymour, especialista sênior em desenvolvimento sustentável e florestas da WRI, acrescenta que o quadro do Amazonas historicamente um estado com pouco desmatamento, mas que tem visto esse índice crescer mostra como é necessário pensar em estratégias de financiamento para esse tipo de situação.
Atualmente, um dos principais mecanismos utilizados é o chamado REDD+, que recompensa com verbas quem mostra resultados de diminuição em índices altos de destruição da floresta. É essa a base metodológica do Fundo Amazônia, por exemplo.
“O que estamos vendo no Amazonas é uma evidência de que só porque as florestas foram protegidas no passado não significa que as condições não possam mudar rapidamente e levar a um rápido aumento do desmatamento. E, portanto, precisamos aumentar a oferta de incentivos preventivos, como uma forma de incentivar os países a evitar o desmatamento”, afirma a pesquisadora.
Outro estudo recente da WRI Brasil este em parceria com a comissão New Climate Economy mostra que o país pode parar o desmatamento na Amazônia e, simultaneamente, ter crescimento econômico em todos os principais setores, do agronegócio à energia limpa.
Para isso, uma transformação em larga escala precisaria ser feita: com o uso de técnicas de agricultura e pecuária sustentável em áreas produtivas já existentes; a restauração de regiões degradadas; investimentos em bioeconomia; e o impulsionamento de tecnologias de baixo carbono.
Assim, de acordo com a análise, o PIB da região amazônica brasileira poderia crescer mais de R$ 40 bilhões por ano até 2050, na comparação com a manutenção do sistema produtivo atual. O aumento viria principalmente da melhora da eficiência no uso da terra e da produção energética e agropecuária e de uma bioeconomia maior e mais forte.
Nesse período, também seriam criados 312 mil novos empregos apenas na Amazônia Legal, beneficiando comunidades locais.
JÉSSICA MAES / Folhapress