Brasil e China preparam novo satélite para América do Sul

PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Brasil e China devem anunciar daqui a um mês um novo satélite conjunto para meteorologia, durante a reunião da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), em Pequim. Será o primeiro na área.

“É uma coisa que a gente nunca tinha feito”, diz Marco Antonio Chamon, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB). “Nós não temos satélites meteorológicos, usamos dados de satélites americanos, europeus, japoneses, que não vamos abandonar. Este satélite dará mais dados. E mais dados sobre o Brasil.” Ainda segundo ele, as informações se integrarão aos “modelos que já existem, sofisticados, que rodam dos supercomputadores de previsão de tempo que temos no Brasil”.

O encontro da Cosban nos dias 5 e 6 de junho, abrangendo diversas áreas, será comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng.

Chamon, engenheiro elétrico pela Unicamp e doutor pela Ecole Nationale Supérieure de L’Aéronautique et de L’Espace, na França, falou durante sua viagem de trem após “três dias bem cheios” no fórum de cooperação espacial sino-latino-americano, em Wuhan, no centro da China.

Além de apresentar a experiência brasileira, ele fez uma reunião bilateral com a agência espacial chinesa (CNSA), em que foram abordados os futuros passos na relação espacial dos dois países.

O novo satélite tem implicações para agricultura e meio ambiente. “A ideia é contribuir nessa direção”, diz Chamon. “Ele tem outra vantagem, que a gente precisa discutir, porque a meteorologia tem um caráter mais amplo, um caráter regional, para a América do Sul como um todo.”

Avisa, por outro lado, que o novo satélite “não vai fazer mágica”, servindo sobretudo para que os modelos brasileiros de previsão de tempo e clima sejam aprimorados, com mais informações.

Chamon, que foi coordenador do programa de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão que também esteve em Wuhan, diz que o objetivo do fórum foi discutir “o que se poderia fazer para iniciar uma aproximação mais forte” entre China e América Latina, na área espacial.

Ele relatou no evento o andamento do satélite Cbers-6, projeto conjunto assinado há um ano por Lula e Xi Jinping, na visita do presidente brasileiro a Pequim. Projetado por pesquisadores chineses e brasileiros, deve ser lançado em 2028.

“Este já está avançado, deve ir para o Congresso, porque tem que ser votado”, diz. “É um satélite radar, diferente dos satélites grandes anteriores [sino-brasileiros], que essencialmente tiravam fotografia. Este é bem menor, quase um terço do peso, e nós evoluímos no sentido tecnológico. A grande vantagem é que atravessa nuvens.”

Outro tema abordado em Wuhan foi a maior colaboração entre os países do grupo Brics, que será avaliada agora numa reunião preparatória da Cosban em maio, sobre o setor espacial. “A gente ainda tem que discutir. Temos um acordo simples, de troca de imagens, que estamos negociando para ampliar para troca de dados entre satélites.”

No último dia 24, quando a China comemorou seu Dia do Espaço em Hefei, cidade próxima a Xangai, uma outra agência anunciou o convite para estrangeiros viajarem e pesquisarem na estação espacial chinesa. Questionado, Chamon disse que isso não foi discutido com os chineses em Wuhan e que, de todo modo, “não é nossa prioridade”.

Uma questão com que “os chineses nos têm procurado frequentemente é para irmos para o programa de uma base permanente na Lua, o ILRS”, sigla em inglês para Estação Internacional de Pesquisa Lunar. No governo Jair Bolsonaro, o Brasil assinou com o programa concorrente dos EUA, Artemis.

“O que temos dito aos chineses é que continuamos estudando a proposta e esperando um momento mais adequado para discutir isso com eles”, afirma Chamon, acrescentando que “o americano é de muito longo prazo, 30 anos, 20 anos no mínimo”.

Cita um projeto brasileiro de “agricultura espacial” e fala em participar de ambos. “Vamos supor que estivéssemos tanto no programa americano quanto no chinês. Nada impede de fazer nos dois. É um experimento que pode aproveitar qualquer programa na Lua. Hoje não estamos com os chineses, mas temos algo a oferecer se um dia estivermos.”

O projeto que ele cita é vinculado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. “A Embrapa está estudando, já reuniu várias instituições, inclusive de fora”, diz. “Estuda como produzir alimentos no espaço e na Lua. Já escolheu os cultivares, batata-doce e grão-de-bico. Como produzir lá fora? Como usar o que aprender para melhorar alguma coisa na Terra?”

O fórum em Wuhan, que contou com representantes de Argentina e outros países, foi noticiado extensamente em mídia chinesa, com destaque para uma mensagem enviada por Xi. “A China está pronta para trabalhar com os países da América Latina e do Caribe para construir uma parceria de cooperação espacial”, dizia a mensagem.

NELSON DE SÁ / Folhapress

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