BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Brasil e Estados Unidos têm relações políticas que já se mostraram resilientes o bastante para lidar com dificuldades, afirma a secretária de Comércio Exterior do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Tatiana Prazeres, em um cenário de maior incerteza após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.
“Nós temos mecanismos, instituições capazes de lidar com as escolhas políticas de um lado ou de outro. Agora, é interessante acompanhar. Estaremos prontos a dialogar com a nova administração americana quando no momento certo”, diz a chefe da Secex à Folha de S.Paulo.
Durante a campanha, Trump prometeu consertar o que ele considera uma economia em dificuldades e, para isso, planeja impor tarifas mais altas e reduzir impostos. O mercado financeiro global passou a apostar em juros mais altos por mais tempo, além de uma valorização do dólar em relação às demais divisas.
Na visão da secretária, deve-se discutir quais instrumentos vão viabilizar o estreitamento da relação entre os governos brasileiro e norte-americano. “Os Estados Unidos hoje não estão interessados em acordos comerciais que reduzam ou eliminem tarifas ao comércio. Ou seja, esse é o ponto de partida”, diz.
De acordo com Prazeres, as negociações passam por um esforço em identificar áreas em que é possível aprofundar o relacionamento econômico-comercial, sem cobrança de tarifas, e quais instrumentos podem ser mobilizados nesse sentido.
A secretária ressalta que o calendário político obriga Brasil e EUA a conviverem com um ciclo de alternância de poder a cada dois anos. “Não é novidade isso que a gente está vivendo nesse momento”, afirma. Segundo ela, a relação comercial entre os dois países é “sólida”, “histórica” e “importantíssima” e há espaço para avanço em novas parcerias.
A chefe da Secex afirma que a relação entre os países é puxada pelo setor privado e que a melhoria do ambiente de negócios favorece o comércio e os investimentos com os EUA a partir de iniciativas como a reforma tributária no Brasil.
Como exemplo, cita também questões regulatórias e entendimentos setoriais que envolvam credenciamento de laboratórios de testes de produtos. “São as engrenagens do comércio que, às vezes, não têm a mesma visibilidade de um acordo que lide com tarifas, mas para quem opera no dia a dia tem implicações importantes de custos, inclusive de burocracia.”
Em busca de novas parcerias em meio à reconfiguração das cadeias globais de valor, o Brasil está discutindo com o México a possibilidade de um acordo de livre comércio -demanda antiga da indústria brasileira e apoiada também pelo setor agropecuário. O interesse dos dois países será avaliado em breve em uma reunião técnica preliminar.
Prazeres, que discutiu com seu contraparte mexicano como aprofundar a relação bilateral Brasil-México, diz que a negociação desse tratado vai ao encontro do esforço do governo brasileiro de buscar o fortalecimento comercial da região. Os países possuem as duas maiores economias e populações da América Latina e Caribe.
Para a secretária, o avanço nas tratativas entre Brasil e México também seria de interesse aos Estados Unidos, que defendem o nearshoring -estratégia de negócios que estabelece parcerias com países próximos.
Em 2023, o México foi o quinto principal destino das exportações brasileiras. O que facilitou a entrada de produtos no mercado mexicano foi a implementação do PACIC, pacote de isenção de imposto de importação para itens da cesta básica, como carne de aves, carne suína, carne bovina, milho, arroz e ovos.
“O contexto internacional pode fazer com que essa discussão seja especialmente oportuna. A ver como a conversa evolui, mas a sinalização do interesse em avaliar a possibilidade é algo que nos pareceu positivo”, disse.
A ampliação das relações comerciais de Brasil e México foi tratada durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país no início de outubro. Na ocasião, o chefe do Executivo se reuniu com empresários mexicanos e recebeu propostas e recomendações para melhoria do ambiente de negócios.
NATHALIA GARCIA / Folhapress